sexta-feira, 19 de julho de 2013

PÁTRIA AMADA

 
 
 
 
e é por miséria
que se entrega a filha nova
ao gozo
do capataz do coronel e do patrão
 
doce pátria prostituta
 
e é por fome
que se oferta a prole
à cafetina gorda
de um bordel de estrada
 
pobre pátria marafona
 
e se barganha a mãe
por farinha e carne magra
com o padre o pastor o magistrado
 
meretriz nação
 
e sem postura
se dá a prima
em aventura
ao gerente ao diretor ao secretário
à paga de um salário
 
frega fraca
terra muda
 
e do filho imberbe
se negocia o rabo
com o alto comissariado
por um pedaço de pão
 
marafaia mariposa
terra de vera cruz
 
e também a jovem esposa
vai no lote dos vendidos
por um teto catre alcova
 
fêmea pátria decaída
 
vai ainda de lambuja
por um arado e sementes
a filha caçula de todas
pro chefe pro presidente
 
terra perdida
terra de pala aberto
terra errada
cadela
quenga zabaneira
 
e quando não há mais nada
que se possa ofertar
sobra a alma
e a carne podre
pro cônsul pro da embaixada
a vida se dá em paga
 
pátria à-toa
pátria amada
pra sempre serás
servil?
 
 
...................................................................
 
 
Escrevi este texto há anos atrás, em uma época de muita falta de esperança. Nunca o publiquei e sempre esperei que os tempos de maus ventos ficassem no passado, como um velho naufrágio.
 
Depois vieram tantas coisas, vi a minha pátria de cara limpa e pintada de verde e amarelo. Rostos jovens e limpos com seus olhos de bússola à procura de um caminho para um país melhor.
 
Hoje achei este texto antigo. Esquecido na gaveta, fazia novamente sentido no emaranhado das marionetes ou dos mercenários. Rostos cobertos... Por que será que tenho esta angustiante sensação que são paus-mandados, que são paus-bem-pagos (Por quem?).
 
No puteiro dos interesses, pobres meretrizes seguindo ordens de velhas cafetinas. Sem alegria... Sem esperança... Carne podre e obediente. Feras amestradas... Estas hienas de burca.
 
Quem lucra com o espetáculo? Quem será o dono do circo? E quem será o malabarista, o mágico, o domador e o leão?
 
O palhaço... Ah, este eu sei quem somos. Este eu sei... Este eu sei.
 
Nota: Imagem tirada do Google.
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

Um comentário:

Eulalia disse...

Lindo,querida, impecável!

Impecavelmente triste, pontual, mensageiro!!!

Adoro seus textos!