sexta-feira, 12 de julho de 2013

O É NÓS

Neste emaranhado de boatos, de disse-me-disses, de propostas e contrapropostas governamentais, fiquei sabendo, por portas e travessas, mas de fonte limpa, que além de todas as boas ideias que nossas mandatárias e nossos mandatários dos altos escalões e escalonas já expuseram à perplexa população nos últimos dias, vamos ter, para a entrada na nobre carreira médica, ao invés do ENEM, um novo projeto... O É NÓS!
 
Ufa! Que parágrafo inicial mais longo e enrolado! Vou me fazer entender.
 
Me contaram que, diante do estado bipolar do gigante semidesperto, foi encomendada às pressas por um povo da capital uma pajelança das boas com direito a muita cachimbada, cafungada e Santo Daiiiii-me!
 
Depois de muita discussão para se saber quem era o pajé (ou pajeia) mor, apareceu um, bem esmirradinho, mas com grande poder. Queriam saber de onde ele vinha e rápido foi respondendo... Lá do norte que es bien norte que fica bem na fronteira com aquele otro pais.
 
Diante do olhar verde escuro do desconhecido indígena, todos se renderam a seu possível saber.
 
Temos muitos problemas!, todos gritaram. E contaram em uníssono os problemas médicos do gigante bipolar e lhe disseram das possíveis soluções, inclusive sobre os tais oito anos para se formar mais doutores na terra dos adoentados.
 
O pajé esmirrado lá do norte que es bien norte, ouvia. Cachimbava. Cafungava. E os outros, só no Santo Daiiiii-me!
 
De repente, o que ouvia saltou de seu silêncio e perguntou... Como se aprende a ser pajé  nesta terra tão doente?
 
E todos lhe falaram de escolas desprovidas e de mestres-malabaristas e de testes equivocados e de chaves de respostas. Falaram de estudos e de cotas. E lhe contaram do ENEM.
 
O esmirrado silvícola cafungou mais uma vez e cachimbou longamente. E os outros, só no Santo Daiiiiii-me!
 
E o esmirrado falou com solenidade... O problema está aí nesse negócio de ENEM. É palavra negativa... E NEM tem médico. E NEM tem hospital. E NEM tem laboratórios. E NEM tem agulha e linha. E NEM tem ambulâncias... E NEM Tupã dá jeito não.

 
Todos se entreolharam estarrecidos. Fazia sentido o que o esmirrado dizia.
 
E como se resolve essa pendenga de uma vez?, perguntou uma cacica de cocar de penas e colar de pérolas.
 
É fácil, respondeu o esmirrado. É só criar outro projeto. Um com um nome bem porreta. Nome bom de marquetear.
 
Todos se entreolharam incrédulos. Mas que diabo de índio é esse?, se perguntaram em coro. Mas o esmirrado cachimbou e cafungou e todos caíram no Santo Daiiiiii-me! E ficou o perguntado pelo não perguntado.
 
E ele voltou a falar. É NÓS!
 
E todos se interessaram... Onde? O que? Quanto?
 
E ele resfolegou... Não. É NÓS é o nome do projeto. E funciona assim. Enquanto os alunos do ENEM ficam aqui estudando medicina e trabalhando no caos por oito anos inteiros. A gente manda uns iniciados lá para aquele lugar... La Isla. Eles estudam por lá por uns três ou quatro anos e voltam pra cá e serão bem recebidos. Já chegam revalidados, só pelo fato de vir. Aí vão para interior por um tantinho de tempo e depois podem ir para qualquer lugar. Do Oiapoque ao Chuí. De Planaltina ao Leblon.
 
A cacica gostou. E aí todos os outros pajés e as outras pajeais se empolgaram. É isso! É Isso!
 
Mas aí, lá do fundo, uma voz de terceiro escalão perguntou... E o gigante? Vai continuar assim, bipolar e semidesperto?
 

O pajezinho cafungou, cachimbou, tomou um golinho do Daiii-me (que ninguém é de ferro) e sentenciou... Bipolar e sonâmbulo? Isso é coisa mais da mente... Disso o pajé não entende. Leva ele lá pro SUS e veja se Freud explica... E se não conseguir explicar, cantem bem alto uma canção de ninar. Vai que ele pega de novo no sono e para de apoquentar.

Nota: Foto retirada do Google images.
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

2 comentários:

Celina disse...

GENIAL!! E NEM é tão difícil assim de entender que entre um cochilo e outro, o gigante vai ter crises de esquisofrenia.

Eulalia disse...

Muito, muito bom!!!