sexta-feira, 24 de junho de 2011

EU, CLIENTE


Dia 23 de junho de 2011. Noite. Corpus Christi. Feriado. Há cinco dias minha geladeira não funciona e aguardo a assitência técnica da Electrolux.

Tudo começou na segunda-feira passada. Cheguei de Salvador na hora do almoço. Saudades de casa! Quando fui à cozinha, não havia indícios maiores de qualquer anomalia, apenas uma pequena luz vermelha (como um termômetro) brilhava no painel de meu refrigerador Electrolux DI80X, comprado a menos de um ano. Meu refrigerador, descrito no site oficial da empresa como: No Frost. Sistema de Fluxo Top: Melhor distribuição do ar frio para manter a temperatura ideal dos alimentos.

Temerosa, abri a porta do refrigerador. Incrédula, percebi que a "temperatura ideal dos alimentos", segundo a minha geladeira inteligente e robótica, devia ser por volta de 40 graus à sombra. Como eu tinha passado dias fora, o suor nas garrafas e o cheiro forte nos alimentos indicavam que eu tinha perdido as compras do mês.
 
E aí começou a Odisséia! ... O meu calvário, às vésperas de Corpus Christi!

Liguei para a autorizada de Botafogo e a atendente, muito solícita, me explicou que só poderia me atender na outra segunda-feira. Como assim?... Não entendi... É um refrigerador... Uma semana sem geladeira?! Silêncio do outro lado da linha. Depois de algum tempo de reflexão, a atendente me passou um número de telefone. É de outra autorizada, talvez eles possam atender a senhora com mais urgência. Agradeci, encantada com a atenção.

Liguei para a Barra e depois de uma rápida checagem na agenda, uma outra atendente bem solícita me informou que poderiam fazer a visita no dia seguinte, em horário comercial. MARAVILHA! Que atendimento!!!!, pensei.

Acordei cedo no dia seguinte, afinal, poderia ter sorte e ser a primeira a ser atendida no horário comercial. E foi então que o telefone tocou e a atendente solícita me informou que não poderia me atender, pois, pela norma da Electrolux, as visitas são regionalizadas e, portanto, só Botafogo poderia me atender. Mas é um refrigerador, ponderei. Ela, então, me sugeriu ligar para o 0800 para pedir permissão para que a Barra fizesse o atendimento.

08007288778. Liguei e expliquei meu problema e fiz meu pedido de urgência para um rapaz do call center muito solícito. Ele me explicou que meu pedido seria levado para análise e que ainda naquele dia entrariam em contato comigo. Mas a Barra pode me atender hoje, vou viajar amanhã, a quinta-feira é feriado!!!... O solicito rapaz me explicou que só poderia enviar meu pedido de urgência para a análise. Me pediu também que eu não desligasse, pois fariam uma pesquisa de satisfação, queriam saber minha opinião sobre o atendimento dele.

(Como pode? O que esses pesquisadores têm na cabeça!? Eles deveriam se colocar no lugar dos clientes. Eu, com minhas compras perdidas, um atendimento desmarcado, sem perspectiva de solução de meu problema, com uma viagem marcada e um feriado pela frente, precisando de urgência, o pobre rapaz do call center só podendo me responder o seu script decorado, e eles querem saber minha opinião sobre atendimento!!!! Como pode?!)

[Site oficial da empresa: Além de adquirir um produto Electrolux, que além da superior perfomance, qualidade e design do mercado, você também conta com o melhor atendimento pós-venda.]

Esperei a resposta da análise. Enquanto esperava, limpava a geladeira e decidi botar uma caneca de pó de café dentro dela. Aquilo tudo estava cheirando mal.

Lá pela hora do almoço, liguei novamente para o 08007288778. Afinal, a análise era sobre um pedido de urgência.
 
[Site ofical da empresa: A Electrolux oferece uma Rede de Serviços Autorizados, responsáveis pelos atendimentos em todo o território nacional, que prestam um atendimento de credibilidade e empatia...]
 
Ah, entendi, não são solícitos, são empáticos.
 
A segunda atendente empática me informou a mesma coisa (script na ponta da língua!). Eu deveria aguardar que, até o fim do dia, eu teria uma posição da empresa. Mas eu vou viajar... Quinta-feira é feriado... Ela empatizou comigo, mas me pediu para esperar. Me pediu para não desligar porque iriam fazer uma pesquisa de satisfação, blablabla. Desliguei.
 
Decidi escrever para o FALE CONOSCO da empresa, setor de críticas. Expliquei meu problema.
 
[Site ofical da empresa: Nas principais capitais e cidades do Brasil, você também encontra Serviços Autorizados Electrolux com certificado TOP, que oferecem um atendimento diferenciado e com benefícios especiais...]

Às quatro horas da tarde, liguei novamente. Já tinha perdido a possibilidade de atendimento naquele dia. Iria viajar no dia seguinte, na quinta-feira era feriado... Mas, quem sabe? Se me dessem um atendimento diferenciado e com beneficios especiais e ainda por cima empático, eles me atenderiam no dia seguinte, na parte da manhã.

08007288778. Outra atendente empática e blablablabla.

Decidi escrever para o FALE CONOSCO da empresa, setor de sugestões. Ponderei: "Imagino que regionalizar o atendimento seja um procedimento logístico da Electrolux, mas não daria para simplificar as coisas? Se a própria autorizada de minha região me indica outra e a outra pode me atender, por que a necessidade de autorização? E se há necessidade de autorizar, por que tanta demora? Estava tudo acertado para o atendimento!"
 
Lá pelas cinco, a empresa FALOU COMIGO! Enviou duas mensagens:

MENSAGEM 1: (Acusamos o recebimento do seu email o qual gerou o protocolo de atendimento ....... Agradecemos pela oportunidade que nos foi apresentada e solicitamos que aguarde o contato de nossa equipe sobre o status de seu atendimento. Atenciosamente, Simone Aragão, Contact Center Electrolux)

(Não entendi nada. Que oportunidade eu apresentei para eles? A gente apresenta oportunidades? E, se eles estavam tão felizes, por que eu precisava esperar. Ai é desigual, eles não estavam me dando nenhuma chance, que dirá oportunidades?)

MENSAGEM 2: (Prezada Senhora Patrícia, Agradecemos o seu contato e informamos que nossa Rede de Serviços Autorizados está estrategicamente distribuída para dar cobertura a todo o território nacional para que nossos consumidores possam usufruir de seus serviços. / Sua solicitação está sendo verificada por nossa equipe de soluções sob protocolo de atendimento...........,orientamos que aguarde o contato sobre o status de seu atendimento. /Agradecemos seu e-mail e nos colocamos à disposição através do telefone 0800-7288778 ou pelo site www.electrolux.com.br/ Atenciosamente, Simone Souza, Contact Center Electrolux)

(Mais uma vez, não entendi nada. Se a rede está estrategicamente distribuida, como pode o atendimento do Flamengo e do Humaitá ser feito pela autorizada da Barra da Tijuca? Está no site oficial da empresa! Não deveria ser feito pela autorizada de Botafogo? E, outra coisa, esta ainda mais intrigante. Por que todas as atendentes do FALE CONOSCO da Electrolux se chamam Simone?)
 
Na quarta-feira de manhã, liguei para a autorizada de Botafogo e consegui que eles me atendam amanhã, sexta-feira. Estou desde cedo aproveitando as procissões de Corpus Christi e pedindo a Deus que eles cumpram a promessa.
 
Por fim, só me resta uma última reflexão:

Onde a gente armazena os alimentos enquanto se espera por quase uma semana pelo atendimento empático e diferenciado da Electrolux para o conserto de uma geladeira? Claro... Põe na Consul! Afinal, definitivamente a Electrolux não é nenhuma Brastemp, né?

Nota 1: Este texto é dedicado a todos os atendentes de call center que, impotentes como nós clientes, têm como refúgio apenas um script limitado e muitas vezes pouco inteligente. A eles, em uma pesquisa de satisfação, dou nota 10.
 
Nota 2: O gerundismo está diminuindo no atendimento, mas, às vezes, ainda escorregam.
 
Nota final: Sexta-feira, dia 24 de junho, início de tarde. Acabo de ser atendida por Davi que, em poucos minutos, trocou a placa e consertou a geladeira. Tudo poderia ter sido resolvido na terça-feira de manhã. Quanto tempo, esforço e desgaste para a imagem da empresa poderiam ter sido evitados com um pouco de bom senso. 
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

UM MOMENTINHO


Aguardem, hoje tem texto novo, mas vai demorar um poquinho para ser publicado. Enquanto esperam, que tal relerem umas histórias antigas.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

IT RUNS IN THE FAMILY


Enquanto escrevo, do lado de fora dos janelões de vidro levemente manchado de maresia, os coqueiros da cidade de Salvador me observam.

Inverno em Salvador, com suas chuvas esperadas, suas nuvens gorduchas, vento, e quando se pensa que tudo está perdido, o céu teima em azular. Ainda que por poucos momentos.

À tarde volto à cidade histórica, ao Bonfim, à Conceição da Praia. Pela primeira vez me hospedo em Itapoã. Meu pai amava Itapoã e seu farol. Meus pais amavam esta cidade. Sofro de uma síndrome amorosa por esta terra que já me deu tantas, tantas alegrias. Amor enraizado... perdido em algum ponto de meu código genético. Como se diz em inglês... It runs in the family!

Esta semana foi deliciosamente corrida. Na terça-feira, voei para São Paulo para assistir a segunda palestra do ciclo Fronteiras do Pensamento e na quarta, já estava de novo voando para Salvador. (Quem disse que ia aguentar ser Local Vagabond... não me aguento e invento coisas).

Desta vez a palestra foi com Shirin Ebadi, advogada e ativista dos direitos humanos. Iraniana, exilada na Inglaterra. Prêmio Nobel da Paz em 2003. Sua palestra enfocou a situação da mulher no mundo e, em especial, no Oriente Médio.

A figura pequenina que se apresentou no palco encheu de energia cada espaço da Sala São Paulo. (Engraçado, tenho sempre a sensação de que quando as pessoas realmente acreditam no que fazem, no que vivem, no que pensam. Acreditam verdadeiramente em suas crenças e verdades, ficam maiores em tempo e espaço...).

A palestra em si, no entanto, não trouxe grandes novidades. Apesar de todas as lutas, as mulheres têm ainda um longo caminho a percorrer na busca da igualdade (?) Não, na apropriação de seus espaços. Quem disse que queremos ou precisamos ser iguais aos homens. (Somos melhores, não é?)


Houve um momento em sua fala que me chamou atenção. Não porque estivesse dizendo algo novo, pois todos, todas sabemos que as melhores replicadoras do machismo são as próprias mulheres com seu carinho e desvelo exacerbado por seus filhos varões. Mas ela comparou, em uma metáfora para mim inesperada, este comportamento supostamente positivo e carinhoso à hemofilia. É a mulher que carrega a informação genética, mas são seus filhos que desenvolvem a síndrome. E no final, todos sangram.

Ao sair da palestra, fiquei pensando em quantas metafóricas sindromes continuamos a legar para as próximas gerações. Todas correndo em nossas veias... (It runs in the family!). Intolerâncias, desrespeitos, o pavor às diferenças. Quantas vezes nos aproximamos de nosso próximo para afastá-lo no tranco. 

Vivemos o momento do preconceito ao preconceito e como podemos ser politicamente corretamente preconceituosos!

Continuamos a sangrar pelos poros da alma. Replicamos, repetimos... It runs in the family!







Foi uma pena que a Presidenta Dilma não tenha podido receber em audiência a Dra. Shirin Ebadi. Fico pensando o que terá impedido este encontro entre essas duas mulheres. Talvez uma agenda cheia... Ou quem sabe alguma questão politicamente genética, genéticamente politica... Quem sabe, uma rara síndrome tristemente (des)conhecida?

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A AVENTURA CONTINUA



Foram muitos os pedidos, de diferentes partes do mundo, e, então, a aventura continua.




Como vocês devem lembrar... a mais secreta dupla de super heróis intergaláticos, Aunty Pat & Danny Boy, estava em Oxford Circus quando houve a explosão.

Acostumados a enfrentar grandes intempéries, os dois heróis estranharam o seu rápido desfalecimento. O que estaria acontecendo??? se perguntavam, enquanto tentavam se manter conscientes.

A explosão havia desencadeado uma força, uma onda energética que os impedia de pensar. Ambos sabiam que sozinhos não conseguiriam resolver a situação. Era hora de ativar os outros da equipe.

  




Com um esforço sobre-humano, só possivel entre super heróis de alta estirpe, Aunty Pat levantou o braço e tocou o pompom de sua boina. Este era o gesto para conclamar à ativa o mais eficiente e genial cientista, especialista em fontes de energia alternativas. Em poucos segundos, S.J.W. se materializou diante dos olhos atônitos dos dois heróis.


Baa! Tchêêê! Nunca vi energia tão potente em todos os meus anos de pesquisa! Sozinhos não daremos conta de enfrentar o problema! Será preciso ativar mais companheiros.



Esta foi a deixa para que Danny Boy, quase paralisado devido à alta exposição à energia misteriosa, tocasse por três vezes a lapela de seu sobretudo de corte impecável. Ao final do terceiro toque, MummyCel e CyberKarolSister surgiram, como em um passe de mágica.






O que está acontecendo?, perguntou a especialista em comunicação com celulares de última geração. Em todo o mundo, os celulares deixaram de funcionar. O único som que transmitem é o repicar de um sino à distância. 

O mesmo aconteceu com todos os computadores da Terra !, complementou a expert em cibernética. Além disso, em todas as telas, surgiu uma imagem um tanto desfocada de uma pequena capela. Vejam aqui.

Todos voltaram os olhos para uma pequena tela de computador que CyberKarolSister trazia acoplada a seu pulso. Não dá para ver bem. Está muito desfocada, todos falaram ao mesmo tempo.

Com sua expertise em computação, CyberKarolSister foi refinando a imagem até que esta surgiu definida na telinha.



Todos olharam novamente e, depois de algum tempo, foi MummyCel que quebrou o silêncio. Eu conheço este lugar! É Temple Church! Já escrevi sobre este lugar em meu famoso blog Mala de Rodinhas & Necessaire!

Temple Church???, todos repetiram em uníssono. E como se dissessem um mantra, uma palavra mágica, um abretessésamo, num solavanco monumental, todos cairam em uma dimensão desconhecida e, em segundos, estavam em uma pequena saleta, como uma sacristia. Atordoados e cobertos por uma penumbra úmida e fria, tentavam identificar onde estavam. E foi novamente MummyCel quem reconheceu o lugar. Estamos em Temple Church. Em uma parte remota e secreta do lugar. A secrestia!

Baaa! Tchêêê!, gritou S.J.W. Há uma força energética intensa e desconhecida. E o pior é que todos os meus equipamentos indicam que ela está aumentando em progressão geométrica. Não resistiremos por muito tempo! Se já estamos afetados por ela, imagino os seres humanos normais. Já deve haver casos de morte nas imediações.

Aunty Pat, então, lembrou a todos. Há uma criatura que pode resistir a tais partículas energéticas. Por seu tamanho diminuto e sua complexa construção robótica, MarieDoggy é nossa única salvação! Danny Boy! Rápido! Ative nossa nano robô!






Aunty Pat, você sabe que esta não é uma tarefa fácil. Terei de ativar meu lápis especial e desenhá-la. A ativação é demorada.

Não temos saída. A humanidade depende agora de você. Ative MarieDoggy, por favor!

Novamente, em uníssono, todos repetiram... Danny Boy, ative MarieDoggy, por favor!

(Conseguirão nossos heróis sair dessa energética armadilha? Conseguirá Danny Boy usar o seu lápis mágico e ativar MarieDoggy a tempo? Quem estará por detrás de tão pérfida situação? Conseguirá a humanidade sobreviver? Todas as respostas estão agora nas mãos talentosas de Danny Boy... Aguardemos!!!)

Nota 1: Para relembrar o inicio da história, buscar no blog o texto The Escape de maio de 2011.

Nota 2: Para saber tudo sobre viagens low-cost na Europa e, especialmente, ter muitas informações sobre Londres, busquem o blog http://maladerodinhaenecessaire.wordpress.com/

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O AVESSO DO AVESSO


Esta história de ser uma Local Vagabond não está mesmo dando certo. Vira e mexe e lá estou eu inventando algo para fazer. É bem verdade que o convite foi mesmo irrecusável. Assistir a um ciclo de palestras em São Paulo sobre o pensar criativo. Oito palestrantes, de diferentes áreas, de diferentes países, de diferentes tendências, pensando e falando sobre o pensar. Uma palestra a cada mês: Fronteiras do Pensamento.

Não resisti. Se o evento, por si só, já valia o meu engajamento, a possibilidade de ir todo mês a Sampa e ainda estar com queridos amigos de tempos venezuelanos (quem disse que Soraya não iria participar também das conferências?), fazia as coisas ainda mais atraentes.

Primeira palestra:

Voo tranquilo, encontro esperado com minha amiga, muito papo colocado em dia e um cafezinho delicioso. Decidimos ir cedo para a Sala São Paulo, sede da OSESP. Não queríamos ter surpresas com o trânsito. Soraya me jurou que sabia ir dirigindo e ainda tinha o GPS. E chegamos ao local sem problemas, com antecedência e loucas por outro cafezinho.

Em nosso tempo de espera até que as portas fossem abertas, continuamos conversando e observando a arquitetura do lugar, da região. Na noite friazinha, dava também para ver a Estação da Luz e eu intuia bem perto de mim a Pinacotheque e o Museu da Língua Portuguesa. Tudo cuidado, bonito.

Portas abertas ... Um olhar geral para entender onde estávamos. Empanadinhas e outro café. Gente interessante... Todo mundo com cara de Casa do Saber. Um encontro casual com outra gaúcha, mestranda de Filosofia.

Mezanino... Vista panorâmica. Uma abertura condizente com o local... Uma concertista nos brindou ao piano com uma peça de Rachmaninov e então,  escoltado por dois catedráticos de Literatura, entrou Fredric Jameson.

Sua palestra: A Estética da Singularidade.

Por mais de uma hora, nos falou sobre Globalização e Pós-Modernidade. Sobre derivativos, flash-mobs e estratégias de criação. Economia, Política e novas Tecnologias ... Falou da efemeridade da Arte, da morte da História, da diluição do sujeito e do tempo. E discorreu sobre o espaço e sobre o final das Utopias. Nada de passado nem futuro. Tudo único, singular, perdido no caos do momento. Superficialidades intencionais. Intenções superficializadas. O fim da Dialética. Tudo muito denso, muito intenso e muito cabeça.  

Depois das perguntas habituais, o evento acabou e seguimos para o carro. Era hora de voltar para o planeta nós. A cabeça tinha voado demais. Estacionamento iluminado, funcionários solicitos nos indicando a saída. E saimos.

O cenário tinha mudado drasticamente. Ruas muito escuras, vielas, ladeiras. (Afinal, era o centro de São Paulo.). Soraya, você sabe como voltar para casa?... Claro que sei e ainda tem o GPS... Seguimos. Acho que nos perdemos um pouquinho, refizemos o roteiro umas duas vezes... Recalculando... (Ainda bem que o carro é blindado! Caramba, como sou covarde!). E de repente, caimos em uma avenida larga e bem mais iluminada. O meu alívio se misturou a minha surpresa e a meu choque. Eu estava diante de outras Fronteiras... Nas ruelas transversais, a Cracolândia... No outro lado da janela, eu podia ver cobertores sem cor caminhando. Como um enxame  de vagalumes, cachimbinhos se acendiam e se apagavam. Fogo fátuo. Fato. Os párias dos párias diluindo-se em tempo e espaço. Singulares subjetividades perdidas na fronteira do nada. Sujeitos indeterminaos... Nem homens, nem mulheres, nem crianças... Os párias dos párias perdidos entre lixo e cruzamentos.

O sinal abriu... Seguimos... Ao longe, e não sei de onde vinha a canção, escutei Caetano recitando baixinho, como em uma nova Bossa Nova... pan-américas de áfricas utópicas/ mais possivel quilombo de zumbi / Avesso do avesso do avesso do avesso.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)