Em seus últimos comentários, Alzira aponta uma certa melancolia. Fiquei pendiente (como se diz por aqui). Confesso que me senti um pouquinho culpada. Ando escrevendo uns textos um tanto meditativos. Então, decidi: esta semana a coisa vai ser diferente.
E, portanto, convido a Alzira a viajar comigo. O texto de hoje é dedicado a ela. É só dela. Se bem que conhecendo o seu altruísmo, tenho certeza que ela vai adorar dividir esta história com as outras pessoas.
Amiga Alzira,
Há um lugar onde existe uma cidade dentro de outra. Em uma terra moderna, brota, bem de seu centro, uma cidadela, una ciudad amurallada. E por de trás de seus altos e grossos muros, surgem resquícios de piratas, donzelas com leque e mantilha, comerciantes, ricos senhores e negros escravos. Em suas ruelas, pode-se ainda ouvir o burburinho de tempos passados. Tempos de muitas esmeraldas.
Há, ali, uma praça Bolívar, como sempre, cercada de museus, igrejas e lojas. É por onde transitam os vendedores de frutas, os guias de turismo e a gente da terra. Morena, mulata. Uma mescla de muitas Histórias.
Não se deve usar carro nesta cidade sem tempo. O ideal é perambular por suas vielas. Surpreender-se com seus pátios abertos. Encantar-se com o repicar de seus sinos, som que se perde entre os muitos sobrados com seus balcones floridos.
Há que subir nas muralhas. Andar entre o que sobrou dos canhões que protegiam o pueblo de ambiciosos corsários e sentir o vento do mar que, sem cerimônias, vai entrando na gente, alma adentro, salgando nossos sentidos... e, de repente, tudo virá um enorme por de sol.
É também do alto da muralha que se pode ver, a uma certa distância, a casa de Gabo, envolvida em romance e mistério.
À noite, depois de um passeio de carruagem!!! por esta cidade tão mágica, a gente se senta nas praças, em seus restaurantes e bares e joga conversa fora e ouve música típica e vê improvisos e danças.
Bem junto à praça, há uma escultura gorducha, um regalo de Botero à tão famosa província. Estátua solidária e cúmplice de exageros etílicos. E há que se fazer comilanças com arroz de coco e pescado. (Que a gordita abençoa tão saboroso pecado).
É fundamental que numa manhã, bem cedinho, a gente se encaminhe pro porto e, de lá, em uma lancha voadeira vá direto pras islas, Las Islas Del Rosário, um arquipélago de corais em pleno mar do Caribe. E nas ilhas a gente fica só olhando o vento e o mar...
No mergulho a gente vê a transparência da água. Vê o dedão do pé, vê peixinho, vê arraia. Por perto tem tubarão, mas nada que amedronte. E de tarde, depois de um lauto almoço, a gente deita na hamaca e fica sentindo a vida, a vida que vai passando... pouco a pouco.
Essa é uma terra de histórias, um quase conto de fadas.
E na corrida da vida, no tempo que insiste em voar, nesta terra a gente encontra um pouso, uma parada... Pra virar fotografia!
Uma imagem sonolenta de muitos coqueiros e praias. E, na sombra do momento, o sol que vai se pondo aos poucos em tênues vermelhos rosados.
Assim é esse lugar que tem nome e sobrenome: Cartagena de las Índias, um cantinho na Colômbia.
(in pblower-vistadelvila)