sexta-feira, 25 de abril de 2014

RESSACA


Abril nem bem chegou e já vai se despedindo. 

Foi um mês esquisito, embaralhado em feriados, dias enforcados e dias santos. 

Numa Inconfidência pós-moderna, Tiradentes veio de mãos dadas com Judas, ambos ajudando Jesus a carregar o seu fardo e, saltitantes, seguindo o cortejo, São Jorge tentando matar o coelho, enquanto o dragão, quase esquecido, brandindo uma coroa de espinhos, distribuía ovinhos de chocolate para beatas, manifestantes e criancinhas.

Abril teve lua de sangue! E teve eclipse! 

Chegou trazendo o outono e um susto de gripe a que os médicos insistem em chamar de virose. Talvez porque ao pobre paciente só reste mesmo é se virar na cama e tomar antitérmicos. 

Chegou trazendo chuva e disfarçadas ameaças de racionamentos. 

E já se vai, feito touro bravio e pragmático, bufando indícios de pouco crescimento para o país e muita inflação para seu povo. 

Ah! O mês trouxe com ele também a taça da Copa, os chefes da Fifa e a mesma lengalenga de que tudo estará perfeito para o evento com seus fantásticos estádios imersos no caos.

(Esta Copa confirma a nossa falência... Tudo uma grande falácia!)

No engarrafamento dos ônibus queimados, abril fechou todas as portas ao bom senso e à esperança.

(Atualmente, cidadania é um evento pirotécnico...)

Abril nos trouxe um mar revolto e a confirmação da revolta.

Abril superou agosto... Em seus maus ventos e sua ressaca.

Que ressaca! Do tipo que dá muita vontade de vomitar!

Abril entrou por uma porta, saiu pela outra e quem puder... 

Que conte uma boa história. Que traga uma boa nova. Ou, pelo menos, que nos lembre que quinta-feira que vem é feriado, Dia do Trabalho! 

E, melhor que tudo, já vai ser maio... 

O mês das noivas, com seus alvos e virginais vestidos...

E o mês das mães com sua doçura e a oportunidade de boas vendas no comércio. (Tudo com muito laço de fita... E muito amor!)

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sexta-feira, 18 de abril de 2014

TÔ DODÓI



Como a febre está renitente
Como a tosse não me deixou dormir
Vou ficar devendo o texto desta semana
Mas deixo a foto

A principio a achei com cara de bactéria
Dessa que eu imagino deva estar me visitando
(Febre alta é sinal de bactéria. Não é só vírus não.)

Mas que nada
É uma pipa solta no ar
É uma pandorga em voo livre
É uma cafifa

Muita paz e liberdade...

Ai... Bem que eu gostaria de pegar uma carona com ela

Vamos aguardar a próxima semana
Vou melhorar

Ah... E aproveito para desejar a todos
Uma Feliz Páscoa!
Inicio de novos caminhos

Muita Paz e Liberdade

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sexta-feira, 11 de abril de 2014

UM GOSTO DE MINEIRINHO


Como a infância gosta de brincar com a gente. Gosta mesmo de nos pregar peças. Decidi nos visitar nas sutilezas.

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Nasci no Rio por acaso. Ou melhor... Nasci no Rio por teimosia de minha mãe. Ou ainda... Nasci no Rio como resultado de meu primeiro ataque de ansiedade. De tanto medo de perder a hora de eventos, chego sempre adiantada. 

Estava tudo preparado para eu nascer no dia 28 de agosto. Eu seria uma virginiana de primeiro decanato. Organizada e metódica.

Se era para o dia 28, minha mãe encasquetou de ir visitar meus futuros padrinhos em Copacabana. Sair de Niterói. Pegar a barca e passar a tarde em uma casa de varanda na Rua Santa Clara. Sou do tempo em que ainda havia casas e varandas...  Imagino que meu pai tenha reagido à ideia, mas ele era pisciano de último decanato e ela, ariana de boa cepa. Não deu outra. A visita se fez. E eu, que ainda nem era, dei uma de leonina com ascendente em Libra, ansiosa e metida, e decidi chegar mais cedo. 

E a história terminou na manhã do dia seguinte na antiga Casa de Saúde Arnaldo de Moraes.

Todo este introito para dizer que, efetivamente, nasci no Rio, mas sou mesmo é de Niterói.

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Como a infância pode ficar entranhada no rés da alma. No onde e quando você não a espera encontrar.

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Minha mãe trabalhava fora e já estava tudo combinado. Minha avó tomaria conta de mim enquanto minha mãe estivesse no trabalho. Mas um dia, quando eu tinha só sete meses, minha avó faleceu e sobrou para meu avô, general reformado, aquela menininha careca e desdentada. Imagino como não era difícil para ele (Fui a rainha das assaduras...), mas ele ia bravamente cumprindo sua missão.

Minha primeira infância foi entre mamadeiras, chupetas, espadas e batalhas.

Aos dois anos e meio, meus pais acharam por bem me colocar na escola.

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A infância não pede licença, nos invadi. É tatuagem. Grafite em nossos sentidos. 

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E, toda tarde, vovô tinha por tarefa me pegar no Curso Pequeno Polegar. Muitas vezes, me levava para o Campo de São Bento, onde eu podia dirigir o autopista, o bate-bate, até a nota acinzentada de cinco cruzeiros acabar. Acho que aprendi a dirigir nas longas sessões dirigindo o carrinho. (Na verdade, minha autoescola começou no carrinho do carrossel. Sempre detestei o cavalinho. E, só depois de mais crescida, me entreguei ao bate-bate)

Toda tarde ele me pegava na escola e tinha de seguir mil recomendações. Não pode isso. Nem aquilo. Cuidado com o vento. Cuidado. Cuidado. Não pode comer nada fora de casa. Ela já lanchou na escola.

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A infância tem sabores...

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Na lanchonete na esquina da Rua Oswaldo Cruz, ele me instruía: É só um churrasquinho com farinha, está bem? E não conta nada pra sua mãe!

Eu seguia as suas ordens como soldado raso. Tá legal, vovô. Mas conta aquela história de quando o tubarão te pegou.

A história era uma epopeia. Ele sendo sequestrado por um tubarão em plena praia de Icaraí. Virava escravo na casa dos tubarões e tinha de fazer todo o serviço. O momento de maior tensão era quando ele tinha de varrer a casa e a maré levava toda a sujeira de volta para a sala. Um horror!

Ele contando a história. Um final de tarde avermelhando o céu e o mar. Os pedacinhos do churrasco de gato prendendo entre os meus dentinhos de leite e, de vez em quando, um gole de Mineirinho (O refrigerante tradicional da cidade. Feito da erva chapéu de couro. Uma maravilha para pedra nos rins).

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Minha infância tem sabor de Mineirinho. Docinha, docinha. 

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Hoje almocei em uma padaria em Niterói, fazendo hora pro dentista. Não resisti, pedi um Mineirinho (É certo que diet, mas Mineirinho).

Dei o primeiro gole... O segundo... E ouvi: Era de tarde quando o tubarão me pegou pelas costas, nem pude me defender...

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A infância tem essa mania de nos deixar com os olhos assim, sei lá, com um brilho estranho, feito beira d´água, onde se reflete o sol e o entardecer e onde, às vezes, só às vezes, um tubarão pode vir te pegar.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

ESPELHO


Tem sempre aquele dia em que se olha firme no espelho e se confirma... Quanto tempo passou!

É o tipo de dia em que a gente olha pro espelho e se conforma... É, passou!

E neste olho no olho, entre imagem e imagem, entre real e avesso, o espelho te conforta... Até que nem tanto passou.

Mas, arranhada no espelho, uma ruga te confronta... Que passou, passou!

O espelho é almofariz onde se macera a imagem. 

O sumo de seu reflexo é um canto de olho, um olhar, um subir de sobrancelha, um certo jeito de rir... Um rosto meio fada, meio bruxa, meio ninfa e duende. Um rosto que se dilui em um emaranhado de histórias... Nem sempre com final feliz.

No reflexo desse espelho, tempo diluído em água, se confirma e se confronta o que foi e o que não foi. Desejo que se perdeu em fato. Vontade que virou enfado.

O espelho é só reflexo. Sem magia e sem respostas. Não reage ao Espelho, espelho meu...

Não perdoa nem Narcisos...

O espelho é o que é. E só.

Almofariz de pedra onde se macera, com ervas e sal grosso, o caminho e a viagem. Miragem... Miragem...

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)