terça-feira, 29 de setembro de 2009

A COSTA AMALFITANA: ESCARPAS, CÉU E MAR

Silvio tem muitas qualidades, mas um de seus defeitos mais graves é considerar Roma uma cidade velha. Ele sempre explica: não tem nada a ver com a idade da cidade, mas com sua manutenção. Todos os prédios deveriam ser bem pintadinhos (!?!?). Isto quer dizer que aquela caiação sépia e mal feita que é a marca do lugar e umas das coisas que mais amo na cidade, para ele é falta de cuidado.

Para evitar um divórcio por incompatibilidades estéticas e levando em consideração que ele é um baiúcho (gaúcho totalmente baiano) que ama o mar, decidi que nossa semana de férias seria no sul da Itália, mais precisamente na Costa Amalfitana, a começar por Sorrento, passando por Positano, Amalfi e Ravello. O problema era como chegar lá.

A primeira idéia foi a de alugar um carro, mas foi rechaçada com veemência pelos italianos do projeto. Segundo eles, o trânsito na região é absolutamente louco e com a alta temporada não haveria nenhum lugar para estacionar. Sugeriram tomarmos um trem, mas aí fui eu que não achei muita graça. Afinal, eu já me imaginava dirigindo um daqueles carrinhos SMART, se possível, sem capota. Silvio e eu naquela máquina, serpenteando a costa italiana. Não ia ter graça tomar o trem. Continuei a considerar possibilidades, até que descobri que bem em frente ao hotel havia uma agência de turismo.

Depois de muita negociação, decidi que iríamos fazer uma excurção. Esperem, sei que pode ser um programa de índio, mas essa era só de três dias e nos levaria a Sorrento, onde teríamos um dia livre. Aí, já ficou melhor. Ofereciam também uma visita a Pompéia, que já conhecíamos e outra a Capri, que seria algo novo para Silvio. Topei fazer o pacote.

E, no domingo bem cedinho, lá estava o ônibus a nos pegar no hotel. O grupo era heterogêneo, mas consistente. Muitos australianos e alguns brasileiros, um casal venezuelano também. Não havia russos, pois russo não faz excurção, compra a agência de turismo.

Primeira parada Nápoles, que como terra já conhecida, não trouxe maiores emoções. Nem mesmo a proximidade do Vesúvio deu frio na espinha.

E chegamos a Pompéia em um dia tórrido de verão europeu. Silvio e eu, munidos de chapéu e garrafinhas de água, enfrentamos o périplo com bravura. Para Silvio foi uma vitória, pois eles estão reconstituindo algumas casas exatamente como eram no momento da hecatombe. Ele achou o máximo. Já eu, com o meu purismo radical, continuo temendo que as ruínas virem uma Disney. A História feita de plástico.



Apesar de já conhecermos a região, a visita nos trouxe surpresas, como a ida ao bordel da cidade e a descoberta de como era indicada a sua direção. Um achado de Marketing! Gravadas na pedra, a figura de um pênis indicava o caminho.





E assim, o dia foi passando, entre muita caminhada, calor, almoço, sorvetes, mais estrada e a chegada a Sorrento. A chegada ao hotel. O hotel!

Não ficava na cidade, mas em seus arredores. No topo de uma colina. De seus quartos se divisava o mar, alguns cruzeiros que se iluminavam ao cair da tarde e casas brancas em meio ao verde muito escuro da vegetação típica da região. Tudo subindo e descendo colinas. Para fechar a cena, um céu azul, que se fez rosado e assumiu seu tom noite, com direito à lua. Tudo emoldurado por nossa varanda.

Ficamos um tempo ali, parados, olhando a paisagem. Em silêncio. Ficamos quietos, só olhando e vendo as cores se transformarem, nos surpreendendo com luzes que surgiam. O calor foi aos poucos sendo substituído por uma brisa de fim de tarde. E nós dois lá, em silêncio. Olhando ...


Antes do jantar, contratamos um carro com motorista para ficar a nossa disposição no dia seguinte. Assim, resolvíamos o problema do trânsito e dos estacionamentos. Uma breve passagem por Sorrento já nos tinha dado a proporção exata da quantidade de carros que estavam na região. Estacionar? Só por milagre.


Tonny (por que todos se chamam Tonny?) chegou cedo ao hotel e, com ele, começamos nossas descobertas.

Serpenteávamos por estradas estreitas feitas de encostas escarpadas, despenhadeiros e o mar. Como em um passe de mágica, dois carros podiam se cruzar onde não havia espaço para uma lambreta. O céu, o Mediterrâneo, casas, praínhas, barquinhos, iates, hotéis, barraquinhas de temperos e frutas. Limões, oliveiras, uvas. Uma parada em Positano, com suas ruelas e lojas de grife.
Depois, uma loja de cerâmicas, onde comprei um garfo e uma colher para minha saladeira e a Grotta dello Smeraldo, uma gruta de chão de mar azul esverdeado e com um presépio sob as águas.




Amalfi nos trouxe o burburinho das pessoas e o caos no trânsito. Tonny nos deixou na pracinha e nos prometeu voltar em mais ou menos uma hora. Daria tempo para vermos a catedral com o seu claustro, suas obras de arte e seu silêncio. Subimos uma enorme escadaria e nos encontramos com a catedral medieva (839-1135 A.D.) e com seu interior barroco, do início do século 18. Ali estavam reunidas muitas épocas, muitas mãos de artistas, muita beleza.

Caminhamos pelo centrinho de Amalfi e nos encontramos com Tonny. Próxima parada, Ravello.

A cidade fica encarapitada no alto de uma colina bem alta. Em seu caminho: estrada estreita, limoeiros, parreiras, hortas, casas antigas, vegetação, subidas, carro que vem em outra direção. Muita espera para subir e uma chuvinha rala que molhava a possibilidade de boas fotos.

Almoçamos em um restaurante pequeno e delicioso. Bom vinho. Boa comida. Seu dono se encantou ao saber que éramos brasileiros. Se sentia nosso compatriota, pois tem casa em Geriquaquara, no Ceará e é lá que passa os meses do inverno europeu. Nos saudou com muitos abraços e antipasti por conta da casa.
Depois do almoço, passeamos pela cidade, por seu centrinho. Vimos mais cerâmicas e quadros. Vielas com flores e, ao longe, os Apeninos.

De volta ao hotel, a chuva caiu forte só para que depois, ainda na estrada, uma sucessão de arco-íris enfeitasse o caminho. No dia seguinte: Capri.


(in pblower-vistadelvila)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

ROMA, CIDADE ABERTA

A viagem foi bastante longa, afinal começou no Rio de Janeiro, onde eu pretendia ficar até 7 de setembro, passou por São Paulo com o jantar das primas que estava marcado há mais de quatro meses, seguiu até Caracas onde me encontrei com Silvio, fez uma escala em Frankfurt e, finalmente, Italia! Uma caminhada de 4a feira a domingo, com muitas emoções, diferentes fusos horários e a deliciosa expectativa de reencontrar uma das cidades que mais amo: Roma, minha cidade aberta! (Como diria Roberto Rosselini).

Enquanto o avião aterrissava, a ficha caiu, já se haviam passado trinta anos desde a primeira vez que pisei em solo italiano. Era a minha primeira viagem à Europa, com direito a se ter vinte e um anos e uma incontrolável curiosodade de viajante.

Da primeira vez que fui, apenas visitei, como turista jovem e sem muita grana, a Via Veneto, desta vez, a rua foi meu endereço. Há pros e contras no passar do tempo: os hotéis ficam mais chiques, mas a gente tem mais rugas e mais ... corpo! Se é que me entendem.

Eu sabia que na primeira semana eu ia ficar por minha conta, já que Silvio tinha uma agenda de trabalho longa e certamente bem cansativa. Resultado: por uma semana a cidade era minha para eu fazer o que quisesse, do jeito a na hora que eu quisesse.

A cidade fervia. Por ser pleno verão, além dos muitos turistas (em especial brasileiros, russos e australianos), o calor era intenso, o sol implacável e o céu de um azul arrogante. Depois da primeira manhã de passeios, em plena Fontana di Trevi, cercada de uma multidão, comprei um chapéu de palha e filtro solar, meus fieis e únicos companheiros de aventuras.

Há uma atmosfera especial quando se está só. Você tem tempo para ver os lugares, mas também para ver detalhes que passam desapercebidos quando se está acompanhado. O silencio propicia observações especiais. O olhar fica mais atento e surgem novos e inesperados ângulos.

Comecei tomando um daqueles ônibus de dois andares que fazem sightseeing. Foi minha estratégia para me reencontrar com os lugares. De câmera em punho, ia fotografando ao acaso. O céu era tão azul que, de vez em quando, a lente subia e registrava uma quina de telhado e o céu, uma estátua e o céu, uma escadaria e o céu. O ônibus ia seguindo e aquele rosado amarelecido pelo tempo e pela poluição que faz de Roma, Roma, ia se impregnando em mim. O meu reencontro com a cor da cidade. Às vezes, não um, mas muitos sinos tocavam em conjunto, anunciando as meias e as horas inteiras.

O Coliseu, o Forum, o Capitolio, a Boca da Verdade, Santa Maria Maior, Piazza de la Republica, o Tibre, o Vaticano, fontes, estátuas, igrejas, esquinas. Ruínas, ruelas e o rumor da cidade. Viva. Cheia. Tórrida.


Os dias que se seguiram serviram para eu refinar o olhar e as visitas.


Passei um dia entre o Coliseu e o Forum, e foi quando descobri que os australianos, russos e brasileiros haviam invadido a cidade. A própria invasão dos bárbaros. Os australianos, esportivos e alegres, querendo ver. Os brasileiros, sempre descontraidos e em sua maioria mulheres, querendo fotografar e comprar lembrancinhas para a familia e os amigos e os russos, ricos e opulentos, querendo COMPRAR e mostrar a todos que podem COMPRAR MUIIIITO. Eles, ou atléticos e com acompanhantes lindas e chiquérrimas ou velhuscos e com acompanhantes lindíssimas e chiquerésimas. (Acho que as esposas russas ficam guardadas na Sibéria por uns tantos meses do ano).

No outro dia perambulei pela Fontana di Trevi, Piazza di Spagna e a Via Veneto. Joguei minha moedinha na fonte e pensei em me atirar na água com ela, por estar a um passo de uma insolação. Afinal, se uma moeda faz a gente voltar, imagina o corpo inteiro, deve resultar em dupla cidadania.
Teve o dia da Piazza di Popolo e seus arredores, onde me diverti vendo a paquera de um garçom romano (bem bonitinho, por sinal) e uma americana. Fico encantada com esta dança entre machos e fêmeas de todas as raças. Ele falava alto, sorria, gesticulava e ela se fazendo de distante, mas sempre com uma pergunta quase sussurrada e um sorriso que todas as mulheres sabem dar ... quando querem dar. (Opa! Escorreguei!)

Mais um dia e fui ver o Capitólio e fiquei deslumbrada com o seu museu. Toda a região é linda. E foi onde pude explorar ruínas, estando protegida por um forte ar condicionado. Mas também subi e desci muita escada e aproveitei para me perder na Piazza Venezia. Escadas, estátuas, jardins e sorvete!


No dia destinado ao Vaticano, eu ia só dar uma passadinha na Catedral de São Pedro para matar saudades da imagem de São Longuinho, que fica bem perto do altar mor, mas no tumulto dos muitos visitantes, escutei uma voz, um trimilicar de sininhos ... Fui chegando mais perto e eu, que cada vez mais me sinto distante da Igreja, me ajoelhei e assisti à missa em uma das capelas lateriais. Missa com direito a comunhão e a me comover silenciosamente. Rezei por todos que amo. Senhor, escutai a minha prece! Dali, depois de uma caminhada a sol a pino, fui ao museu e, seguindo o instinto e as setas, cheguei à Capela Sistina. Uma vez estive lá com Silvio e ficamos sentados olhando o teto, aquele teto. Desta vez, com a capela invadida por milhares de turistas que me seguiam fosse eu aonde fosse, arranjei um cantinho entre um australiano e uma russa e fiquei olhando. Tomei da câmera e fotografei uma das imagens mais fotografadas do mundo: Deus e Adão... mas esta era a minha foto, só minha.


E assim, a semana foi escorrendo entre os dedos, até que, na 6a feira, decidi passar o dia na Villa Borghese. Fui ao museu. Passeie de trenzinho. Comi pizza e tomei sorvete. Fui até ao zoológico, mas fiquei pouco tempo. Achei ridículo ficar olhando elefantes em plena cidade de Roma. Se ainda fossem aqueles usados nas Guerras Púnicas... Um solo de jazz me chamou à aléia principal. Um saxofonista e uma menininha. Ela, deitada em seu colchãozinho e chupando o dedo. Ele, com CDs caseiros e um sax suave, gostoso de ouvir. Sentei em um banco e fiquei ouvindo e vendo as pessoas passar. A menina ensaiou dançar ao som da música. Desistiu e voltou a chupar o dedo. Não sei se o bailado fazia parte do espetáculo, mas não aconteceu. A minha frente, em outro banco, uma senhora, com cara de inglesa e com um chapéu de palha maior que o meu, ouvia também o concerto. Às vezes, sorria para a menina. Às vezes, só sorria, como se lembrasse de algo muito bom, mas que ficou distante, perdido no tempo. Me lembrei de um antigo poema estudado nas aulas de inglês: When I am an old woman I shall wear purple/ With a red hat which doesn't go/ and doesn't suit me. / And I shall spend my pension on brandy and summer gloves/ And satin sandals, and say we've no money for butter. (by Jenny Joseph)



Todas as tardes, eu ia até o Sweet Life, um desses bares/restaurante que fica na Via Veneto. Pedia um cappuccino ou um vinho ou um campari e ficava olhando as pessoas. Ficava imaginando como teria sido aquela rua quando Fellini fez La Dolce Vita (Sweet Life). Ficava ... Alessandro, o garçom, às vezes puxava conversa. Me contou que já tinha estado em Foz do Iguaçu. Falávamos uma mistura de português, espanhol e italiano. Numa dessas tardes, um passarinho decidiu visitar minha mesa. Ficamos ele e eu ali, vendo os carros passar.

E de repente a semana havia passado. Houve sempre bons jantares, onde se falava de negócios e se discutia os contratos e se tomava bons vinhos. E assim chegou a 6a feira, os contratos assinados e a missão cumprida.


Na semana seguinte, alguns dias de férias. Silvio e eu. Que planos teria a Itália para nós dois?

in pblower-vistadelvila)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ARRIVEDERCHI ROMA

Ainda sem um computador decente, vou me despedindo de Roma. Amanha bem cedo sigo para Frankfurt e depois Caracas. E ai, o Avila que me perdou, mas tenho algumas historias sobre esta terra maravilhosa para contar.
Estou bem na recepcao do hotel, o mais inadequado lugar para se ter um busisness center, mas estamos na Italia e, em Roma, facamos como os romanos. Ao meu lado, tres aeromocas americanas tentam ver sua agenda de trabalho e acabo de ouvir que alguns voos da Delta estao atrasados. Bom para elas, alguns minutos mais em Roma.
Nesta semana, passamos quatro dias na costa de Amalfi, proximo a Napolis, com direito a Capri tambem. Ontem fomos a Florenca e hoje e se despedir da cidade.
Semana que vem, muitas fotos e um texto novo e decente.
Arrivederchi!!!!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ERRO ESTRATEGICO

Ca estou em Roma, sem meu computador e sem poder publicar fotos ou um novo texto. Foi uma bobagem nao ter trazido o computador. Nao faz mal... quando eu chegar em Caracas, coloco o blog em dia.
Nao resisto. Enquanto escrevo, umas brasileiras acabaram de chegar no hotel cheias de compras. Deve ser do tour OUTLET. Discutem as vantagens nos precos e comparam com Sao Paulo ...
Ao longe, muitos seculos de historia as contemplam.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

OUTRA VIAGEM INESPERADA




Cá estou em São Paulo, na sala da Varig (ainda não consigo dizer GOL) em Guarulhos. Os planos eram outros: vir a Sampa só para participar do jantar das primas, uma tradição milenar que se iniciou este ano, e depois voltar para ao Rio para ficar com a família mais um pouquinho, até dia 7 de setembo. Mas aí Silvio me ligou me dizendo que tinha que ir à Itália para uma reunião e ... resistir quem há de?





Cá estou em Guarulhos, pronta para embarcar para Caracas e amanhã seguir para Roma.





E, com toda esta correria, faltou novamente tempo para um texto inédito. Estou louca para escrever sobre minha visita à Quinta Anauco Arriba, mas isto vai ficar para quando eu voltar de viagem.





No entanto, para não deixar o blog em branco esta semana, volto ao meu baú e trago um texto curtinho sobre um bate papo que tive em um desses muitos voos que tenho feito pela vida a fora.





VOO RG 8756





Sandra namorava Claudio

Mas se apaixonou por Tanya

Uma irlandesa que trabalha na Bolsa de Londres

Sandra tem olhos longos

Cheios de saudade

Havia perdido o pai há dois meses

E me segredou que não sabia mais chorar




(os nomes são falsos e a vida é mera ficção)


(in à vista del ávila)