Da primeira vez que fui, apenas visitei, como turista jovem e sem muita grana, a Via Veneto, desta vez, a rua foi meu endereço. Há pros e contras no passar do tempo: os hotéis ficam mais chiques, mas a gente tem mais rugas e mais ... corpo! Se é que me entendem.
Eu sabia que na primeira semana eu ia ficar por minha conta, já que Silvio tinha uma agenda de trabalho longa e certamente bem cansativa. Resultado: por uma semana a cidade era minha para eu fazer o que quisesse, do jeito a na hora que eu quisesse.
A cidade fervia. Por ser pleno verão, além dos muitos turistas (em especial brasileiros, russos e australianos), o calor era intenso, o sol implacável e o céu de um azul arrogante. Depois da primeira manhã de passeios, em plena Fontana di Trevi, cercada de uma multidão, comprei um chapéu de palha e filtro solar, meus fieis e únicos companheiros de aventuras.
Há uma atmosfera especial quando se está só. Você tem tempo para ver os lugares, mas também para ver detalhes que passam desapercebidos quando se está acompanhado. O silencio propicia observações especiais. O olhar fica mais atento e surgem novos e inesperados ângulos.
O Coliseu, o Forum, o Capitolio, a Boca da Verdade, Santa Maria Maior, Piazza de la Republica, o Tibre, o Vaticano, fontes, estátuas, igrejas, esquinas. Ruínas, ruelas e o rumor da cidade. Viva. Cheia. Tórrida.
Os dias que se seguiram serviram para eu refinar o olhar e as visitas.

Passei um dia entre o Coliseu e o Forum, e foi quando descobri que os australianos, russos e brasileiros haviam invadido a cidade. A própria invasão dos bárbaros. Os australianos, esportivos e alegres, querendo ver. Os brasileiros, sempre descontraidos e em sua maioria mulheres, querendo fotografar e comprar lembrancinhas para a familia e os amigos e os russos, ricos e opulentos, querendo COMPRAR e mostrar a todos que podem COMPRAR MUIIIITO. Eles, ou atléticos e com acompanhantes lindas e chiquérrimas ou velhuscos e com acompanhantes lindíssimas e chiquerésimas. (Acho que as esposas russas ficam guardadas na Sibéria por uns tantos meses do ano).
No outro dia perambulei pela Fontana di Trevi, Piazza di Spagna e a Via Veneto. Joguei minha moedinha na fonte e pensei em me atirar na água com ela, por estar a um passo de uma insolação. Afinal, se uma moeda faz a gente voltar, imagina o corpo inteiro, deve resultar em dupla cidadania.
Passei um dia entre o Coliseu e o Forum, e foi quando descobri que os australianos, russos e brasileiros haviam invadido a cidade. A própria invasão dos bárbaros. Os australianos, esportivos e alegres, querendo ver. Os brasileiros, sempre descontraidos e em sua maioria mulheres, querendo fotografar e comprar lembrancinhas para a familia e os amigos e os russos, ricos e opulentos, querendo COMPRAR e mostrar a todos que podem COMPRAR MUIIIITO. Eles, ou atléticos e com acompanhantes lindas e chiquérrimas ou velhuscos e com acompanhantes lindíssimas e chiquerésimas. (Acho que as esposas russas ficam guardadas na Sibéria por uns tantos meses do ano).
E assim, a semana foi escorrendo entre os dedos, até que, na 6a feira, decidi passar o dia na Villa Borghese. Fui ao museu. Passeie de trenzinho. Comi pizza e tomei sorvete. Fui até ao zoológico, mas fiquei pouco tempo. Achei ridículo ficar olhando elefantes em plena cidade de Roma. Se ainda fossem aqueles usados nas Guerras Púnicas... Um solo de jazz me chamou à aléia principal. Um saxofonista e uma menininha. Ela, deitada em seu colchãozinho e chupando o dedo. Ele, com CDs caseiros e um sax suave, gostoso de ouvir. Sentei em um banco e fiquei ouvindo e vendo as pessoas passar. A menina ensaiou dançar ao som da música. Desistiu e voltou a chupar o dedo. Não sei se o bailado fazia parte do espetáculo, mas não aconteceu. A minha frente, em outro banco, uma senhora, com cara de inglesa e com um chapéu de palha maior que o meu, ouvia também o concerto. Às vezes, sorria para a menina. Às vezes, só sorria, como se lembrasse de algo muito bom, mas que ficou distante, perdido no tempo. Me lembrei de um antigo poema estudado nas aulas de inglês: When I am an old woman I shall wear purple/ With a red hat which doesn't go/ and doesn't suit me. / And I shall spend my pension on brandy and summer gloves/ And satin sandals, and say we've no money for butter. (by Jenny Joseph)
Todas as tardes, eu ia até o Sweet Life, um desses bares/restaurante que fica na Via Veneto. Pedia um cappuccino ou um vinho ou um campari e ficava olhando as pessoas. Ficava imaginando como teria sido aquela rua quando Fellini fez La Dolce Vita (Sweet Life). Ficava ... Alessandro, o garçom, às vezes puxava conversa. Me contou que já tinha estado em Foz do Iguaçu. Falávamos uma mistura de português, espanhol e italiano. Numa dessas tardes, um passarinho decidiu visitar minha mesa. Ficamos ele e eu ali, vendo os carros passar.
E de repente a semana havia passado. Houve sempre bons jantares, onde se falava de negócios e se discutia os contratos e se tomava bons vinhos. E assim chegou a 6a feira, os contratos assinados e a missão cumprida.
Na semana seguinte, alguns dias de férias. Silvio e eu. Que planos teria a Itália para nós dois?
in pblower-vistadelvila)
in pblower-vistadelvila)
3 comentários:
Oi Patricia,
Fotos lindas e o texto faz a gente dar um belo passeio por Roma, refiz vários caminhos por onde passei na cidade cor de sépia. Uma tia diz que voltarei a Roma para tomar um espresso e sorvete, não o fiz !!?? quando estive lá.
Bjs,
Mônica
Ah, Patrícia não me canso de ler os seus relatos, sua narrativa sempre cativante. Essa teve sabor especial - eu tenho um amor imenso por Roma. E, além do mais, recheada de belas fotos. Encheu-me de prazer e alegria. Estava com saudades. Bj
ticha querida,
tirando o calor, que aqueceu seus relatos, toda a paisagem e sabor da sua semana, me fizeram sentir cheiros, visualizar pequenos momentos. Esse momento a sós, é quase sempre revelador...Só entende quem namora! bjs
Celina
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