Final de semana passado, estivemos em Valle de Bravo. Este pueblo fica a umas duas horas da Cidade do México. Uma represa linda e, à volta do lago, casas de tirar o fôlego. Tudo de bom para andar de barco, perambular pelas ruelas antigas, ver e comprar artesanias, descansar muito e experimentar um deslumbrante pôr de sol.
Ao cair da tarde, Silvio e eu nos sentamos na varanda de nosso quarto e ficamos ali, só olhando o sol performar.
Há muitos anos atrás, fui a Salvador com papai e mamãe. Íamos com frequencia à Bahia de carro, pois Dona Thereza sempre teve pavor de avião. Viagem longa, de três dias. Íamos parando e descobrindo a região. Aprendi com meus pais a viajar e a aproveitar cada momento dos passeios.
Daquela vez, estávamos em Porto Seguro. Não a cidade de agora, mas uma Porto Seguro de mais de trinta anos atrás. Poucas pousadas, um ou dois hotéis. Ficamos no Vela Branca , um hotel que ficava no alto de uma colina e que tinha como uma de suas principais atrações o seu amanhecer. Quando fomos levados ao chalé onde ficaríamos, o rapaz nos apontou um canto do gramado que dava para o mar e nos informou que era ali que devíamos ficar para ver o sol nascer.
Mamãe empolgou-se, Não vou perder o espetáculo! (Dona Thereza era assim. Ariana passional! Vibrava com as coisas e se enfurecia na mesma medida, mas nunca guardava rancores. Ariana... Muito ariana).
Silvio e eu, ali, quietinhos. De vez em quando, nos levantávamos e faziamos uma foto. Ele queria que eu filmasse tudo. Eu só queria fotografar. Ao longe, uma música vinda do restaurante Los Pericos que fica no embacadero ia emoldurando a cena.
Nota inesperada: Quando tinha acabado de publicar este texto, algo bateu no vidro da varanda. Fui olhar e encontrei no chão do balcón um passarinho meu tonto. Tinha voado de encontro ao vidro. Tentei pegá-lo, mas ele me olhou assustado e se foi... Coincidencia?
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
Mamãe acordou cedinho. Quando vi, ela estava enrolada em um cobertor e pronta para ver o amanhacer. Era julho e fazia frio. Era muito cedo. Lá fora, o dia começava a amanhecer.
Vamos! Está na hora. O sol está nascendo! Joe, acorda! Tá na hora! E papai nada. Thereeeeza... é cedo... Patricia, vem comigo. o sol está nascendo. O moço disse que é lindo! E eu nada. Mãããe... tá frio...
Ela tentou de tudo, mas não ousou sair sozinha. Teve medo. (Tinha medo de fantasmas... Ainda estava escuro). Se encarapitou na cama e passou o resto do dia sem falar com a gente. Perdeu o amanhecer.
Desde aquela manhã, já tive o privilégio de ver muitos nascentes e muitos poentes em diferetes lugares deste planeta Terra. (O Ávila, por exemplo, sempre me presenteou com espetáculos inesquecíveis). E todas as vezes em que estou, assim, diante do sol, me lembro de Dona Thereza e daquela manhã em Porto Seguro. Aquele amanhecer para mim é uma eterna dívida. Não me custava nada ter me levantado e ido com ela ver o sol chegar. Ela queria tanto... Não me custava aquele carinho. Mas não fui. Não fiz. (Filhos, melhor não tê-los!) Não dá para me redimir. Então, a cada nascente e poente que vejo, penso muito nela, tentando trazê-la para junto de mim. Tentando...
Minha mãe me ensinou muito pelo oposto. Acho que ela deixou de fazer muitas coisas por medo... (Ela e seus fantasmas!) Então, quando quero fazer algo, faço um esforço enorme para vencer os meus. Se ninguém quiser ir comigo, tento abrir o caminho sozinha. (Às vezes, me amedronto, mas, pelo menos tento.) Faço isso por mim e também por ela. Como uma homenagem. E, diante de meus nascentes e poentes (reais e metafóricos), sempre dou uma paradinha e digo, como se entrelaçasse as suas mãos com as minhas: E aí Dona Thereza? Tá gostando?
Nota inesperada: Quando tinha acabado de publicar este texto, algo bateu no vidro da varanda. Fui olhar e encontrei no chão do balcón um passarinho meu tonto. Tinha voado de encontro ao vidro. Tentei pegá-lo, mas ele me olhou assustado e se foi... Coincidencia?
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)