sexta-feira, 1 de março de 2013

HOUSTON: DESEMBARQUE INICIADO

 
Faltavam umas duas horas para o final do voo, quando o casal de russos sentado ao meu lado, depois de ter preenchido os formulários de entrada em país estrangeiro, abriu o guia de viagem e mergulhou ansioso nas possibilidades do Rio de Janeiro.
 
Eu, olhando de lado, ia vendo com que emoção as paisagens, para mim cotidianas, iam invadindo as expectativas dos dois. Quando a página foi virada e em letras maiúsculas e vermelhas COPACABANA se apresentou, com uma foto de um céu radiante, os russos se entreolharam como que confirmando um sonho.
 
Fiquei imaginando quanto tempo e quanto dinheiro os dois tinham gastado até chegarem àquele momento, a pouco mais de uma hora da aterrissagem no Rio.
 
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Gosto de viajar, conhecer lugares novos, gente nova, novas culturas e realidades, mas não sou daquele tipo que volta ao Brasil com o coração nostálgico de tudo de maravilhoso que viveu  lá fora. Nada disso, tenho olhos de ver o que há de bom em outras terras, mas percebo bem que paraísos deixaram de existir no século XXI. É crise para todo lado. Então, volto feliz para minha terrinha. E gosto de estar por aqui. Mas...
 
CHEGAR NO GALEÃO... NÃO IMPORTA EM QUE TERMINAL... É UM DESRESPEITO Á CIVILIDADE!!!
 
O que é aquilo? E o pior é que está piorando!!!!
 
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Ainda em voo, fomos informados em que esteira recolheríamos as bagagens, o que achei um grande avanço, mas, tão logo a porta do avião abriu e começamos a sair, caímos em uma fila inexplicada. E não era nada de fila indiana, que até daria uma sensação de organização, era uma fila... Como posso descrevê-la? Uma fila amontoada. Daquelas que não se sabe para onde se vai e nem por que... Só se vai indo... Corredor a fora. Um loooooongo corredor a fora.
 
Os estrangeiros, sem entender nada, começaram a perguntar o que era aquilo e para onde deveriam ir. E como as respostas não os satisfaziam, começaram a furar a fila. (Gringo também fura fila!).
 
O meu olhar esbarrou no olhar perplexo da russa. Perplexo e perdido. Onde estaria a Copacabana de letras vermelhas e maiúsculas?
 
E aí chegou ajuda. Uma funcionária da United começou a gritar ao longe: Foreigners on the left, Brazilians on the right! Os estrangeiros não se fizeram de rogados e, aqueles que não tinham já furado a fila, saltaram para a esquerda que, diga-se de passagem, era uma fila muito menor. (Continua saindo mais dólar que entrando. Por que será?)
 
A nossa fila tupiniquim viu a fila gringa fluir com rapidez, enquanto esperávamos. Já tinham me dito que uma das estratégias para os eventos internacionais vai ser essa. Prioridade para os estrangeiros.
 
Enquanto os nativos esperavam para passar pela imigração, foram muitas piadinhas, chistes... Brasileiro nervoso... debocha.
 
(Outra dúvida que não quer calar... Porque justamente, neste momento da chegada, tem aquelas mocinhas de colete cinza, fazendo aquela pesquisa... A senhora é da onde? Vai para onde? Essas meninas correm risco de vida. E imagino que devem receber umas respostas bem pesadas, tipo: Eu? Eu não sei pra onde vou, mas você vai pra &*%$#@!!!)
 
Passada a imigração e já devidamente entrada em meu país, temi pela espera das malas. Da última vez foi uma hora e meia contada no relógio. (Afinal, o voo de Houston sempre chega junto com outro de Charlotte, e outro de New York e... Grande terror! Um chegadinho de Miami!!!!)
 
Vencido o périplo das malas... (Jurei que minhas próximas malas serão roxo batata ou verde limão. Mala preta, mesmo que se marque com fitas do Bonfim, pachiminas coloridas, ou seja lá o que for... São sempre malas pretas e todas as malas são pretas!)
 
Reencontrei o casal russo novamente. Tinham passado pela imigração mais rápido que eu, mas não escaparam da espera das malas. Na espera das malas, todos os gatos são pardos e não há Infraero que proteja os estrangeiros. (O casal russo também tinha malas pretas. Eu os vi recolhendo a bagagem.) O olhar perplexo e agora levemente irritado da russa antecipava um mar tropical.
 
Foi então que eu vi... Eu vi e não pude acreditar... Era sonho, miragem, PE-SA-DE-LO... A fila da alfândega.
 
Na maratona de obstáculos criada pela Infraero para receber de forma agressiva e indignante todos os estrangeiros... (Não vou falar de nós brasileiros, porque a gente tem mesmo que voltar, né?). Mas para receber os estrangeiros, nessa maratona, o ponto alto é a passagem pela fila da alfândega.
 
A fila da alfândega é uma coisa que começa em algum lugar e vai continuando por outros lugares e vai virando, e virando , e virando, e virando, e virando. Sei que passa por algumas esteiras, se embola pelos carrinhos, quase atinge a entrada do Duty Free e... CONTINUA!
 
(É nessa hora que sai briga porque as pessoas pensam que o outro está furando a fila. Na maioria das vezes, não é, a pessoa está apenas atordoada e perdida. Conheço casais que nunca mais se encontraram depois da fila da alfândega. E, tenho certeza, que em breve, criarão aqueles cartazes de desaparecidos, como tem o de crianças, para os participantes da fila da alfândega. Imagino as fotos com a frase abaixo: Visto pela última vez em 2007, voltando da Disney.)
 
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Ao longe, vi a russa procurando algo. Buscava o final da fila? As malas? O marido? Ou a praia de Copacabana? Eu não poderia responder. Seu olhar de pânico era uma névoa de indefinições.
 
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Deixo aqui uma sugestão, já que acho que nada vai mudar e que continuaremos condenados aos desmandos e à incompetência da Infraero... Nos guias de viagem sobre o Rio de Janeiro, deve haver um capítulo com fotos (e se possível um DVD) sobre a chegada ao Galeão. Sugiro, também, que venha antes da descrição dos pontos turísticos e deve se chamar: THE TWILIGHT ZONE: THE AIRPORT OF TERROR... DON´T BE AFRAID! IT´S JUST A RIDE!
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

2 comentários:

Eulalia disse...

Muito bom... eu ainda tenho esperança de que mude... sempre tenho esperança...

Como sempre voltei em voos não muito concorridos, chego num vazio de dar dó, com a alfândega dando sopa para mim.

Mas posso imaginar o que seja a chegada de três voos ao mesmo tempo... aquilo não aguenta não!!! Cruzes!

Celina disse...

Ah Patrícia!!! Só mesmo seu bom humor para descrever o terror que se apossa de mim, quando vejo se aproximar o Tom Jobim! Na ida, ainda temos a alegria de viagem. Na volta eu que não tenho a mesma felicidade no retorno, eu tenho vontade de escrever para Deus! sabe as mocinhas com pranchetas? Uma delas tentou me atacar. De que estado a senhora é? Resposta: do estado de CHOQUE, minha filha!