quinta-feira, 7 de março de 2013

VIZINHANÇA



Não é bairro, rua ou recanto. Nem prédio com varandas e paisagem. Nem casa de vila ou terreno baldio. Esta vizinhança é outra. Nada a ver com o de fora. É terra do de dentro. Guardada. Vielas e becos de emoções e sentimentos.

Estou convencida. Habitamos amores e paixões e raivas e medos da mesma forma que escolhemos moradia. Às vezes, alugamos por um tempo. Às vezes, construímos do alicerce. Às vezes, pagamos hipoteca. Às vezes, herdamos como filhos.

E aí é que entra em cena a vizinhança.

Em nosso bem lá dentro, tem um coração feito uma praça. Com bancos de madeira e alvenaria. Tem coreto. Tem um lago. E árvores centenárias que refrescam os verões e se entregam a ventanias.

Ao redor da praça, antigos e novos sentimentos se dispõem, sem planejamento. São velhos casarões com escadas curvilíneas ligando pavimentos e lembranças. São modernos arranha-céus que ferem a nossa alma e fazem arder, arder, até que nossos olhos lacrimejem.

Caminhamos por ruas feitas de saudade e, no cair da noite, esperamos o acender das luzes para poder ver antigas cenas com clareza.

E se pensamos que há silêncio ao redor, esbarramos em uma algazarra de sons diluídos pela vida.  Risos, cochichos, gargalhadas. Histórias contadas pelas tardes. Histórias sussurradas noite a dentro.

A vizinhança é feita de vidraças, por onde se pode ver, entre cortinas de veludo ou de  voil, espelhos bisotados e um rosto de menina.

E, quando pensamos que sabemos o caminho de chegada a nossa porta de entrada, ao número da porta e ao capacho dizendo bem vindos, nos perdemos por atalhos, paramos a ver vitrines de lojinhas.

A vizinhança nos liberta e aprisiona com sua urbana teia de incertezas.

Sentimentos... Emoções... Lembranças... E equívocos. São os nomes de travessas e avenidas.

Como se chega a nossa porta de entrada? Por um lance de escada? Ou por um beco sem saída?

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

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