sexta-feira, 22 de março de 2013

QUASE ESQUECI DO TÍTULO





Ana, a nova professora de francês, andou visitando meus poemas. Entrou em meu outro blog, ainda em construção, onde pretendo algum dia, algum dia!, deixar registrado o que escrevi e publiquei lá pelos idos de minha juventude. Ela leu e me fez a pergunta que não tem resposta. [Ai! quantos anos de análise!] A pergunta dura. A pergunta que hoje já não me machuca... [Viva os tantos anos de análise]:
Patricia, você não escreve mais Poesia?
Respondi como sempre respondo: Não. Acho que não sei mais escrever poemas. (Já consigo responder com naturalidade... [Muitos anos de análise!])
Fiquei pensando... Pensando... A resposta verdadeira talvez esteja neste poema que encontrei hoje, ao acaso, revirando antigos papéis.
Talvez o poema possa explicar, não a minha incapacidade, mas  pelo menos, a minha profunda angústia por não conseguir escrever mais Poesia. (Já tive, há muito tempo, o olhar vagabundo, despudorado e mágico dos poetas... Já tive.)
Talvez o poema consiga retratar a minha angustiante paralisia.


MOVIMENTO (24/10/99)

vértebra de mim

pedaço

filha e parceira

pedaço

vértebra arrancada de mim

sangue que jorra

sangue que forja

o que há de mim (em mim)

pedaço

laço

eu


vértebra de mim

menina

mina

roça agreste

palmo de terra sofrida

pedaço de mim (em mim)

me arranha

me empurra e machuca

em seu silêncio

de nãos


vértebra de mim

pá e pó de minha vida

eu às avessas


desespero desencontro

desespero


vértebra de mim

ungüento

minha ferida aberta

exposta

ruptura de tudo

com tudo

ranger de minha alma

(velha porta entreaberta)

vértebra de mim


foge entre meus dedos

suja as minhas mãos

e há desespero no seu/meu não dizer

silêncio

angústia


eu


naco de mim

saudade

travo na língua

saudade

de mim (que era eu)

onde eu estou?


vértebra de mim

fugidia


me sangra


me machuca

naco de mim que se nega a falar

silêncio

silêncio



poesia

eu

(não)
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

2 comentários:

Eulalia disse...

Para mim, a foto fala (grita?) pelo texto.

Celina disse...

Começo um sábado em emoção despudorada com esse poema que acho eu ainda não conhecia (?).
Também não escrevo mais poesia. Muito raro. Nossas mães escreviam... o que deu no nosso DNA, eu sinceramente não sei.