E já se passou um ano desde o primeiro texto. E já se passaram 54 textos! Quase três anos em Caracas e um ano cumplido, escrevendo o blog.
O primeiro texto, bem curtinho, uma tentativa de trabalho em um tipo de mídia tão novo para mim, dizia apenas:
Aqui começa a narrativa de minhas experiências e impressões vivendo junto à Cordilheira Del Ávila ou Warairarepano (El mar que se hizo tierra), a montanha mágica que abraça e observa a cidade de Caracas, Venezuela.
Será meu diário, algo que havia me prometido fazer há mais de um ano quando cheguei a Caracas. Só agora me disponho a fazê-lo. Espero que este registro possa ser para mim um bom companheiro de viagem!
E como tem sido parceiro e amigo este meu espaço virtual onde me conto e me encontro com amigos. Onde me aconchego, em meus silêncios, nas tardes de chuva; em minha alegria, quando o sol nasce iluminado; em minha eterna surpresa e deslumbramento, quando olho a Cordilheira da Costa e vejo, à distancia, o meu Cerro Ávila.
Na primeira apresentação do blog, eu informava que ele traria “Relatos de experiências e impressões de uma brasileira vivendo em Caracas, Venezuela.” E assim foi, no inicio, mas aí comecei a querer mais. Queria contar para além das fronteiras da cidade. Foi Eulália quem me propôs a mudança. Um dia ela me disse: "Amplia a apresentação" e então complementei: "E ainda ... eventuais poemas e outras histórias."
De um salto, cruzei a montanha e cai no Caribe e em um mar de possibilidades. De um salto, abri meu baú e me reencontrei com poemas escritos há tanto tempo. Uns ainda tão eu, outros, uma sombra de tempos passados (perdidos?).
A disciplina de trazer um novo texto a cada semana reativou em mim uma coisa que estava adormecida há tempos: o olhar atento ao detalhe, ao acaso, à surpresa. Olhar e ver. Ver para contar. E olhar para fora e para dentro. E perceber reflexos em espelhos, metais, estilhaços, vidraças ... Reflexos em profundas superfícies, como naquele texto sobre amigos:
Se amigo é casa, amizade, para mim, é uma vidraça muito transparente. E é no silêncio do vidro que se dá o encontro. Íntimo. Pleno. Muitas vezes, raro. Amizade que nos surpreende, nos emociona. Cúmplice superposição de almas.(in Amigo é Casa)
E ao longo deste ano, quantos encontros aconteceram. Lúcia e Bia, a quem fui apresentada via comentários e que depois encontrei pessoalmente numa deliciosa tarde no Rio. Elzinha, Marilia, Celina e Eulália, amigas/irmãs de tantos anos e que me visitam com íntima assiduidade. Mônica e seus comentários rápidos e precisos. Soraya, companheira de aventuras em terras caribenhas. Alzira (um gratissimo reencontro!) e suas observações feitas de contida emoção. E Cida Neves, que nunca aparece, mas que agora eu conto para vocês, me escreve (via email!) toda semana. O blog para nós serve de uma boa desculpa para matarmos saudades e colocarmos o assunto em dia.
Outros são invisíveis encontros. Como quando estou com alguém que me diz: "O texto desta semana foi ótimo!" Ou: "Leio seu blog toda semana."
E que gratas surpresas são as visitas esporádicas de Ricardo, Ana Cristina, Valéria e Vera, amigos de diferentes épocas. Queridos amigos.
Quando penso nos textos, descubro que há os grandes sucessos. Os preferidos. E em primeiríssimo lugar está Jo hablo Portinhol ou Jonathan, Mãos Sujas, a saga de um eletricista em minha casa.
Tive ímpetos de pedir para que parasse de se arrastar pelas paredes e fosse lavar as mãos, mas nem os meus dez anos de análise me possibilitaram tal gesto. Em que registro se pede para que o electricista, tão aguardado, pare tudo e vá lavar as mãos.
Minhas aventuras entre terremotos e enxurradas têm também boa receptividade, bem como meus esforços em academias de ginástica.
É um blog com muitas fotos, mas nenhum rosto. Cabe ao leitor desenhar seus personagens. E por falar em personagens... Não posso deixar de falar de Silvio, meu companheiro de todas as viagens e meu personagem mais que especial. Lembro que um dia ele ficou de mal comigo porque eu o comparei a Shrek em um dos textos. (Mas era verdade!)
Nas últimas semanas Silvio chegava do trabalho cada vez mais verde. Foi esverdeando aos poucos, mas sua cor de Shrek se intensificava a olhos vistos.(in Um Casal Argentino)
Mas também foi para ele que fiz um dos textos que mais gostei de escrever e que Valéria classificou como “narrative verse”. Fiquei super orgulhosa.
Depois ele olhou para mim e sorriu um sorriso que só ele sabe dar. Não se fez de rogado: “Viu? A pedra maior é a minha, porque sou maior e mais forte.” E eu sorri e me fiz de ofendida e incrédula, mas não disse nada ... Eu sabia que era verdade. Olhei para o nosso castelo. Nossas pedras unidas, o vento e o sol. Fotografei o momento com a câmera e meu coração.(in Amor)
Momentos. Meus momentos ... que compartilho com todos que me queiram ler.
Quando comecei o blog, acreditava que seria a autora de minhas histórias, mas que nada. Hoje, percebo que não passo de uma das muitas personagens. Quem me narra, me cria e me dá vida, é quem me observa, a uma certa distancia, e que, com a sabedoria das montanhas, pode perceber todas as minhas nuances. Minhas mudanças de tom e humor. Meus dias de arco-íris.
Um ano de blog... Agora sei quem é o meu autor e, como cúmplice, em um pacto de vida, me entrego em suas mãos e permaneço, pelo menos por mais um ano, À Vista Del Ávila.
(in pblower-vistadelvila)
PS: Podem enviar comentários. Agora a configuração está modificada e os comentários entram. Pelo menos, espero que entrem.
6 comentários:
Querida,
Que texto maravilhoso! Para mim, foi curto. Não queria parar de ler. Nele, você me lembra todas as Patrícias maravilhosas que há em você: espelhos, estilhaços, vidraças, reflexos...
Passados "jamais" perdidos, mas revisitados e inusitados, apesar de tudo, sempre...
beijos, querida, parabéns!!!
Já faz um ano? Parece menos, muito menos! É o típico caso de mais ser menos...
Cida me apresentou ao seu blog (sempre ela, atenta, embora sujeito oculto) e o primeiro post que li foi "Jonathan, Mãos Sujas, a saga de um eletricista em minha casa". Sensacional! Dei boas risadas! Amei, mas sabia que os seus textos trariam surpresas e emoções, não ficariam só no humor. E aconteceu o que eu previa: ri, muito, me emocionei, me deliciei, me identifiquei... Resumindo, seus textos fazem parte da minha vida. Não mais às terças, mas a qualquer dia. Leio e releio. Parabéns, amiga! Bj
Que delícia! Já tem um ano que te conheci pelo blog, e há quanto tempo nos conhecemos pessoalmente? Parece que foi há bem pouco tempo...
Como é gostoso ler suas histórias sobre as aulas no Curves, as aventuras na chuva, o concerto de Natal, as aventuras no Caribe. Esta última parecia história de suspense,rsrs. Foi a que eu mais gostei. Obrigada, adoro ler cada uma delas.
beijos grandes.
Feliz Aniversário!
Bia
Parabéns!!!!!!!!!!!!! E muitos anos de vida. Esse texto de aniversário arrasou. Sempre engasgo e seguro uma lágrima ( estilo elevador) quando leio...Tenho uma certa responsa, pois lembro de ter te mostrado como era o blogger...Vida longa! mil bjks!!!
Patricia,
emociona mesmo ler o que você sente e escreve. Parabéns pelo aniversário e aguardo muitos outros.
Bjs,
Mônica
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