quinta-feira, 9 de julho de 2009

WELCOME TO TRINIDAD (II)

Depois de uma noite de sono com ainda alguma chuva e com um repicar ao longe de tambores, o dia amanheceu com toques acinzentados. Tomamos um breakfast bem ao estilo inglês e fomos à recepção para ver que passeios poderíamos fazer. O atendente, super amável, nos confirmou que não havia forma de se ir a Tobago, mas, como um bom representante de Trinidad, nos informou que apesar de Tobago ser mais turística, e talvez mais bonita, iríamos fazer belos passeios. Propôs que conhecêssemos o litoral norte, segundo ele, onde ficavam as praias mais lindas. A idéia era correr a costa, almoçarmos em Maracas Bay e terminarmos o passeio em Blanchisseuse Bay, onde, também segundo ele, há um rio de águas azuis que se encontra com um mar transparente. Era puro sonho. O paraíso ao alcance das mãos.

Maracas Bay ... De imediato lembrei da possibilidade de comer o tão famoso bake&shark em um restaurante aconchegante e típico naquela praia. Visualizei o cenário, mesmo sem o pôr do sol. Mesas quadradas de madeira e uma decoração rústica e praiana. Certamente haveria sobre uma imaginária lareira um veleiro dentro de uma garrafa. Que beberíamos? Um Curaçao, tão azul quanto o mar.

O rapaz me tirou de meu devaneio.

Um pouco sem graça nos informou que o hotel não estava muito cheio e que havia um outro hóspede que gostaria de fazer o mesmo tour e, se nós não nos incomodássemos, ela (porque era um hóspede ela) poderia ir conosco no carro. Como sempre altruístas, e porque não dizer curiosos, aceitamos a nova companheira de aventuras e fomos encontrá-la na saída do hotel.
Morena, alta, com uns trinta anos. Um tipo de nacionalidade indefinida. Podia ser de brasileira a afegã. Ao apresentar-se, matou a charada. Era libanesa, mas morava em Londres com o seu marido francês. Estava na ilha fazendo um trabalho para a British Petroleum e queria aproveitar o final de semana para conhecer o lugar. Um pouco penalizada nos informou que só poderia ver Trinidad, pois não havia conseguido vôo para Tobago. Nos solidarizamos.
O carro chegou e começou a aventura. Enquanto íamos nos afastando da cidade e o guia, um indiano simpático e muito jovem, nos passava algumas informações, trocávamos figurinhas com a libanesa que ficou encantada ao saber que éramos brasileiros. Ela tinha acabado de fazer uma viagem para mergulhar em Fernando de Noronha e, se as minhas expectativas quanto ao Caribe eram altas, percebi que as dela eram ainda maiores, porque tinha como base o mar, o céu, a luminosidade da ilha brasileira.
Íamos nos afastando da cidade e entrando em uma estrada estreita e ladeada por uma quase floresta. Subíamos muito. Foi a primeira vez que experimentei uma coisa que depois tornou-se quase praxe para mim. Em muitos lugares no Caribe, para se ir a praia, é preciso subir para depois descer em outra parte do litoral. Ou porque há morros altos bem junto ao mar ou porque as estradas não passam necessariamente pela costa, e sim, mais pelo centro onde, normalmente, o relevo é mais ... como direi ... acidentado.
O céu, ainda bem chumbo, me remetia mais a uma ida a Petrópolis do que a qualquer zona de praia. A sensação era de que nos afastávamos da civilização e subíamos. Era o lugar perfeito para eu descobrir que as pilhas da câmera fotográfica tinham acabado.
Informei ao guia o meu problema e ele, submisso, decidiu me ajudar parando nas mais estranhas biroscas de beira de estrada. Saía do carro solicito e voltava sempre com a mesma resposta: Só vendem frutas, rum e refrigerantes.Quem sabe quando chegarmos à praia?
Não é que a paisagem justificasse fotos inesquecíveis, mas a antevisão de não poder fotografar minha primeira experiência no Caribe me fazia muito infeliz.

E, depois de mais de uma hora de viagem, chegamos à primeira praia...

Estava deserta, como exige, de uma praia caribenha, o inconsciente coletivo, mas... Não é que fosse feia. Não era. Talvez fosse o céu ainda chumbo que interferisse... Talvez ... Mas nem de longe era o que eu e, acho que principalmente a libanesa, esperávamos. Tudo era cinza e o mar era recortado por línguas barrentas. O guia, atento e pressuroso, nos informou que devido à chuva, como muitos rios deságuam nas praias, o mar ficava assim... barrento. Aproveitou, também, para me dizer que já tinha checado na birosca local e não havia pilhas. Foi então que Silvio, o bom engenheiro, decidiu entrar em ação. Tirou as pilhas, as inverteu, as colocou de novo. Virou, mexeu e eu consegui fazer duas fotos e o encanto acabou. A máquina deixou de funcionar. Quem sabe a gente não encontra pilhas em Maracas Bay?, ponderou o guia, devastado. A libanesa olhava tudo com um olhar distante e enigmático. Seriam saudades de Noronha?

Maracas Bay... Ali faríamos uma parada mais longa para pegar sol (certamente o dia ia melhorar), nadar, comer e, se Alá permitisse, comprar minhas pilhas. Maracas Bay... A melhor praia da região. A solução de meus problemas. Pilhas e bake&shark.




(in à vista del ávila. Continua na próxima semana)

3 comentários:

Bia Veiga disse...

Caramba!
Já estou acompanhando e como só estou lendo hoje, já tive uma surpresa de ver dois capítulos de mais uma de suas histórias tão incríveis, com sabor de aventura, rsrs.
Estou aguardando os próximos.
bjs

monica disse...

Só aguardando... o que ainda vem por aí.
Bjs,
Mônica

Celina disse...

ando meio desconectada, mas quanta animação, hein? já voltei `a ativa internáutica...acompanharei os próximos capíyulos. besos