quinta-feira, 2 de julho de 2009

WELCOME TO TRINIDAD (I)

Era nossa primeira viagem pelo Caribe e, como era um feriado enforcado, ou como dizem por aqui, un puente, não havia mais vagas em vôos para nenhum outro lugar. Era pegar ou largar: Trinidad. Silvio me pareceu bem interessado pela região o que me motivou ainda mais a fazer a viagem. Até aquele momento, para mim, eu estava indo para Trinidad & Tobago, que também para mim era o nome de um único país e, conseqüentemente, um único lugar. A coisa não é bem assim, afinal estamos no Caribe. É um único país, mas são duas ilhas. E, ao longo da semana, quando eu dizia que ia a Trinidad, todos completavam meu comentário com: “mas não deixe de visitar Tobago, que é a parte mais bonita e mais turística”. Duas ilhas ... Pela informação que tive se poderia ir a Tobago de avião ou barco. Tudo seria fácil, de tão perto uma da outra, daria para ir até a nado. Equivoquei-me.

Chegamos ainda pela manhã e como o nosso era o único vôo que havia aterrissado achei que passaríamos pela imigração rapidinho e aí era curtir o Caribe e buscar informações sobre a forma mais prática de se chegar a Tobago. Duplo equívoco. Já na imigração começamos a experimentar um jeito Bob Marley de ser. Leeeeeeeento. Muuuuuuiiiiitoooo leeeeeento(!) (sem exclamações, por favor, para não assustar os locais). E, quando suados e famintos, nos dirigimos à loja de venda de passagens para Tobago, nos informaram que havia vôos de meia em meia hora, mas ... como era feriado ... estavam todos lotados. Com solicitude a moça no balcão nos informou também que não adiantava buscar os ferries. Também estavam lotados. Só nos restava ir a nado ou, ficar em Trinidad e curtir o passeio.
Saímos do aeroporto e, antes de pegar um táxi, fomos nos informar sobre o que fazer na ilha. Entre muitos mapas e folhetos havia uma unanimidade, tínhamos que comer bake&shark. Não ficou claro para nós o que seria, mas nos informaram que em Maracas Bay poderíamos experimentar o quitute. A imaginação vôo. Maracas Bay... Caribe... Piratas e um restaurantezinho aconchegante com vista para o por do sol ...
Tanto o rapaz quanto a moça que nos atenderam no Information Desk eram sorridentes, simpáticos e absolutamente negros. Falavam um inglês com um sotaque deliciosamente diferente. É bem verdade que às vezes um pouco difícil de compreender. Por exemplo o bake&shark para eles era algo como “bikanchá”. (Nota: esqueci, entre tantas outras coisas com as quais convivi por muitos anos, como usar o alfabeto fonético).
O calor era intenso e até chegarmos ao táxi esbarramos em uma miscigenação de indianos, afros e alguns turistas americanos e europeus.
O percurso entre o aeroporto e o hotel foi como entrar em um filme inglês sobre colônias inglesas do inicio do século passado. Havia alguns edifícios modernos, mas estavam muito ao longe. Nós, pouco a pouco, íamos virando personagens à procura de um diretor ... Onde estaria Sir Richard Attenboroug? Enquanto viajávamos no tempo, não olhamos para o céu que, em pleno meio dia, ia ficando cada vez mais escuro.

Até aquele momento, tudo o que tínhamos visto de praias era fortemente protegido por pequenas refinarias, andaimes, o porto e conteiners. Foi quando Silvio me segredou que Trinidad é um grande produtor de petróleo. Aí eu entendi o súbito interesse dele pelo lugar. As coisas não eram bem o que eu havia imaginado para minha primeira experiência caribenha, mas o hotel me trouxe um novo cenário. Era lindo! Uma mescla de muita madeira, concreto aparente e cortinas coloridas. Tudo se espraiava por um jardim enorme. Um gramado interminável e muitas árvores.
A fome apertava e decidimos comer no restaurante do hotel. Uma comida deliciosa. Inesquecível. Picante. Sabores intensos. Desatentos, não percebemos que o colorido das roupas das garçonetes contrastava, e muito, com o negror do céu. E começou a chover. A CHO-VER. Foi a primeira vez que vi a chuva no Caribe. Para mim era um furacão, mas como todos agiam com naturalidade, decidimos fazer o que dava para fazer, isto é, dormir.
Acordei por volta das 9 horas da noite. Silvio continuava dormindo. A chuva tinha parado e na noite escura se podiam ver luzes ao longe e ouvir muitos tambores. Confesso que não conseguia decidir se estava diante de um sonho, uma festa para turistas ou um macabro e vetusto culto vudú. Quanto mais os tambores repicavam, mais me convencia de que a terceira opção era a correta. (Não havia a possibilidade de “nenhuma das respostas anteriores”).
Tentei acordar Silvio. Eu faço isto com freqüência. Imagina você dormindo a sono solto, total relaxamento e uma pessoa te chamando. Sabe criança pequena que abre as pálpebras da mãe? Sou eu. Os tambores aumentavam de intensidade e agora havia gritos também.
Consegui acordar Silvio que, depois de pensar(?) um pouco, me sugeriu que devíamos pedir o jantar no quarto. Achei a sugestão super romântica. Seria o nosso primeiro jantar no Caribe. O clima era aconchegante, apesar dos tambores e gritos. (Quantos alfinetes já não haviam sido usados nos bonequinhos de pano?)
Pedimos o jantar e, enquanto esperávamos, decidimos ligar a TV. E foi aí que eu vi o mais completo e detalhado documentário sobre ... serial killers. Uma produção que fez de Hannibal matiné do Discovery Kids.

O jantar chegou. Os tambores continuavam. Desligamos a TV para facilitar a digestão. E este era apenas o primeiro dia. No dia seguinte, começaria o nosso tour pela ilha.

(in à vista del ávila. Continua na proxima semana.)



Um comentário:

Alzira Willcox disse...

A crônica de hoje deixou sabor de quero mais...
Quero saber mais sobre o passeio,sobre a ilha, quero saber se você desvendou o mistério dos tambores, enfim, quero a continuação desse relato. Rsrs