Chegamos ainda pela manhã e como o nosso era o único vôo que havia aterrissado achei que passaríamos pela imigração rapidinho e aí era curtir o Caribe e buscar informações sobre a forma mais prática de se chegar a Tobago. Duplo equívoco. Já na imigração começamos a experimentar um jeito Bob Marley de ser. Leeeeeeeento. Muuuuuuiiiiitoooo leeeeeento(!) (sem exclamações, por favor, para não assustar os locais). E, quando suados e famintos, nos dirigimos à loja de venda de passagens para Tobago, nos informaram que havia vôos de meia em meia hora, mas ... como era feriado ... estavam todos lotados. Com solicitude a moça no balcão nos informou também que não adiantava buscar os ferries. Também estavam lotados. Só nos restava ir a nado ou, ficar em Trinidad e curtir o passeio.
Saímos do aeroporto e, antes de pegar um táxi, fomos nos informar sobre o que fazer na ilha. Entre muitos mapas e folhetos havia uma unanimidade, tínhamos que comer bake&shark. Não ficou claro para nós o que seria, mas nos informaram que em Maracas Bay poderíamos experimentar o quitute. A imaginação vôo. Maracas Bay... Caribe... Piratas e um restaurantezinho aconchegante com vista para o por do sol ...
Tanto o rapaz quanto a moça que nos atenderam no Information Desk eram sorridentes, simpáticos e absolutamente negros. Falavam um inglês com um sotaque deliciosamente diferente. É bem verdade que às vezes um pouco difícil de compreender. Por exemplo o bake&shark para eles era algo como “bikanchá”. (Nota: esqueci, entre tantas outras coisas com as quais convivi por muitos anos, como usar o alfabeto fonético).
O calor era intenso e até chegarmos ao táxi esbarramos em uma miscigenação de indianos, afros e alguns turistas americanos e europeus.
O percurso entre o aeroporto e o hotel foi como entrar em um filme inglês sobre colônias inglesas do inicio do século passado. Havia alguns edifícios modernos, mas estavam muito ao longe. Nós, pouco a pouco, íamos virando personagens à procura de um diretor ... Onde estaria Sir Richard Attenboroug? Enquanto viajávamos no tempo, não olhamos para o céu que, em pleno meio dia, ia ficando cada vez mais escuro.
Até aquele momento, tudo o que tínhamos visto de praias era fortemente protegido por pequenas refinarias, andaimes, o porto e conteiners. Foi quando Silvio me segredou que Trinidad é um grande produtor de petróleo. Aí eu entendi o súbito interesse dele pelo lugar. As coisas não eram bem o que eu havia imaginado para minha primeira experiência caribenha, mas o hotel me trouxe um novo cenário. Era lindo! Uma mescla de muita madeira, concreto aparente e cortinas coloridas. Tudo se espraiava por um jardim enorme. Um gramado interminável e muitas árvores.
A fome apertava e decidimos comer no restaurante do hotel. Uma comida deliciosa. Inesquecível. Picante. Sabores intensos. Desatentos, não percebemos que o colorido das roupas das garçonetes contrastava, e muito, com o negror do céu. E começou a chover. A CHO-VER. Foi a primeira vez que vi a chuva no Caribe. Para mim era um furacão, mas como todos agiam com naturalidade, decidimos fazer o que dava para fazer, isto é, dormir.
Acordei por volta das 9 horas da noite. Silvio continuava dormindo. A chuva tinha parado e na noite escura se podiam ver luzes ao longe e ouvir muitos tambores. Confesso que não conseguia decidir se estava diante de um sonho, uma festa para turistas ou um macabro e vetusto culto vudú. Quanto mais os tambores repicavam, mais me convencia de que a terceira opção era a correta. (Não havia a possibilidade de “nenhuma das respostas anteriores”).
Tentei acordar Silvio. Eu faço isto com freqüência. Imagina você dormindo a sono solto, total relaxamento e uma pessoa te chamando. Sabe criança pequena que abre as pálpebras da mãe? Sou eu. Os tambores aumentavam de intensidade e agora havia gritos também.
Consegui acordar Silvio que, depois de pensar(?) um pouco, me sugeriu que devíamos pedir o jantar no quarto. Achei a sugestão super romântica. Seria o nosso primeiro jantar no Caribe. O clima era aconchegante, apesar dos tambores e gritos. (Quantos alfinetes já não haviam sido usados nos bonequinhos de pano?)
Pedimos o jantar e, enquanto esperávamos, decidimos ligar a TV. E foi aí que eu vi o mais completo e detalhado documentário sobre ... serial killers. Uma produção que fez de Hannibal matiné do Discovery Kids.
O jantar chegou. Os tambores continuavam. Desligamos a TV para facilitar a digestão. E este era apenas o primeiro dia. No dia seguinte, começaria o nosso tour pela ilha.
(in à vista del ávila. Continua na proxima semana.)
Um comentário:
A crônica de hoje deixou sabor de quero mais...
Quero saber mais sobre o passeio,sobre a ilha, quero saber se você desvendou o mistério dos tambores, enfim, quero a continuação desse relato. Rsrs
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