domingo, 14 de dezembro de 2008

FELIZ NAVIJAZZ!!!!!


É época de Natal, mas por aqui pouco se ouve de Jingle Bells. Os centros comerciais estão cheios. Há entre eles como que uma competição de presépios. Qual será o maior e o mais bonito? As pessoas, apesar da crise, continuam comprando os seus regalitos que, para as crianças daqui, são trazidos pelo Niño Jesus. Não há nada de White Christmas. Os venezuelanos têm canções de Natal próprias, os Aguinaldos (em toda a Venezuela) e também as Gaitas (um ritmo próprio, muito típico da cidade de Maracaibo).
É época de Natal e a cidade, depois de eleições tensas, depois de chuvas tão fortes que ainda mostram suas seqüelas, vai aos poucos se enfeitando para a celebração religiosa mais importante do país. Praças, ruas, centros comerciais, casas e apartamentos, dos mais simples aos mais sofisticados, vão recebendo novas luzes, novas cores. A cruz do Ávila já está acesa. ENORME!

Como já falei tantas vezes, quando cheguei a Caracas sabia muito pouco sobre a Venezuela. Fui aos poucos descobrindo suas nuanças, suas sutilezas. Sua música foi uma dessas surpresas. Comecei no Teatro Teresa Carreño, ouvindo a orquestra sinfônica juvenil da Venezuela. Depois disso, foram algumas indicações, novos CDs, shows com gente jovem fazendo música muito boa. C4Trio, Kapikua, e também, El Cuarteto, Luz Marina. Visitei as canções de Aldemaro Romero, um Tom Jobim daqui. O inventor da Onda Nueva, uma espécie de Bossa Nova caribenha. Tantos nomes, tantos ritmos. A nova música venezuelana é uma mistura de salsa, jazz, e até chorinho. Gostam de misturar. Gostam de resgatar tradições. Querem muito. Querem tudo.

Todo ano, no mês de dezembro, o Centro Cultural Corbanca oferece uma série de shows com músicos venezuelanos, muitos deles morando hoje nos Estados Unidos, chamada Navijazz. Foi em um desses shows, no Natal do ano passado, que conheci Huascar Barradas, um flautista maracucho (leia-se de Maracaibo), que sabe tudo de música clássica, tudo de jazz, tudo de música venezuelana, tudo de MÚSICA!

A sala estava lotada. Os músicos foram entrando no palco. Huascar e seus convidados tomando suas posições e aí, quando o show ia começar, ele se vira para a platéia e diz que aquela era uma festa de Natal e na casa dele em Maracaibo, festa de Natal tem criança à volta dos adultos fazendo... arte! (Maracuchos, como os baianos, não nascem, estréiam). E foi, sem nenhum pudor, chamando as crianças que estavam na platéia para que subissem ao palco. Em poucos minutos, o músico estava cercado de crianças de todas as idades, inclusive bebês de colo. Barradas tomou da flauta e começou a tocar e foi convidando a seus micro parceiros a tocar também. Teve de tudo, desde o básico do básico até gente muito bem preparada. Então, um menino de seus seis anos de idade puxou o casaco do flautista. Cochichou algo em seu ouvido. Queria cantar. Pára tudo! Pára tudo! Aos poucos foi se fazendo silêncio. As crianças, os músicos, a platéia, todos foram se calando e Huascar Barradas apresentou o pequeno anônimo cantor. E aí aquela figurinha começou a cantar, à capela. Voz pequena, bem rouquinha. Foi enchendo a sala com um aguinaldo tradicional de Caracas – El Niño Jesus Del Ávila. (Del Ávila viene / um niño chiquitico / bien arropadito / lleno de bondad / a los caraqueños / les trae de la sierra / la brisa serena / de la Navidad). Foi cantando, cantando e pouco a pouco a platéia começou também a cantar. A principio tímida, mas sua voz foi crescendo até que a sala era um canto único. Alto. Alegre e comovido.

Eu ainda não entendia as palavras. Não sabia o que era um aguinaldo. Não conhecia as muitas tradições da terra. Mas aquele canto inesperado, perdido naquela manhã de dezembro, estará para sempre comigo. Como um Natal particular. Uma celebração intima. Um Natal sem renas, sem neve de isopor, sem mil bons velhinhos clonados em plástico.
Apenas um menino anônimo, cantando uma canção antiga para embalar outro Niño.


FELIZ NAVIDAD!!!


3 comentários:

Lúcia disse...

Ahh Patrícia, que lindo.
Me emocionei, fiquei com os olhos cheios dágua. Suas estórias me alegram e me emocionam.
Obigada pelo lindo presente de natal: este texto!
Uma bela noite de natal pra você, querida. Que no ano novo você continue com suas estórias, sua inspiração, sua beleza.
Beijo grande,
Lúca

Alzira Willcox disse...

Na azáfama que precede o nosso Natal, tão vazio de tradições locais, fiquei sem abrir o computador e, só hoje, passado o Natal, pude deliciar-me com a sua narrativa. Tão delicada, tão emocionante. Estou descobrindo a Venezuela através dos seus relatos vívidos e ricos. Descobrindo e me encantando.
Espero que em 2009 possamos continuar desfrutando da sua inspirada e deliciosa escrita.
Um Ano Novo de paz e renovação é o que desejo a você.
Beijo

Vestígios da alma disse...

Oi tiaaa!!!tudo bom?chegamos da praia...tava muito boaa,apenas um dia de chuva...uma sortee hehehe...adorei os textos ,muito bonito parabéns pelo exemplo de dedicação e pela conquista de escalar!muitas saudades de vocês dois viu?fiquem bem e continua cuidando do tio pra mim hehehe..e pede pra ele cuida de ti por mim tbm viu? hehe..um beijão tiaa..fica bem