sexta-feira, 23 de agosto de 2013

EM NOME DO PAI



Há algum tempo, estava conversando com uma amiga kardecista quando ela, do nada, me perguntou: Pat, você sabe rezar?

Fiz uma cara de espanto e disse que sim. Pelo menos as orações mais básicas, aquelas do catecismo. E, sem titubear, ela completou: Então reza. Reza muito. Que o mundo está precisando de muita oração. 

Continuamos a conversa por outros caminhos, mas aquele pedido ficou lá num canto guardado, escondido na memória. De vez em quando o recordo, quando notícias de tsunamis climáticos ou sociais invadem o meu dia a dia. Nossa! Preciso rezar pelo mundo. Rezar para pedir um pouco de paz.  

O que não tive coragem de contar para ela naquele dia era que eu não conseguia mais rezar para pedir coisas. Fazia muito tempo que eu não conseguia mais. Rezo para celebrar, para agradecer, mas para pedir... Não. Desaprendi.

Tudo começou com o meu pai já no CTI e eu convivendo com o meu desespero. A morte. A espera da morte. O fio de esperança... Tênue... Frágil... Mas um fio de esperança ao qual a gente se agarra como se fosse um cabo de aço puro.

Meu pai no CTI e minha tia me deu uma novena. Se agarra com ela. Reza muito e pede por ele. 

E eu rezei. Rezei. Rezei muito. O papel da novena ia amassando em minhas mãos. Palavras enrugadas e suarentas repetidas ao infinito. Rezei. Rezei muito. De pé. Deitada. Na porta do hospital. Sabia de cor já alguns trechos. E me agarrava a um fio de esperança... Tão frágil e tão tênue... Pedi pela vida. Pedi um milagre. Pedi sem saber o que pedir...

E, um dia, de tarde, o meu pai faleceu.

Eu já não era criança. Entendi que a vida termina. É parte do jogo morrer. Não perdi minha fé, mas... Não consegui mais rezar para pedir qualquer coisa. Já no Em nome do Pai, um pensamento paralelo e obsessivo se repetia. Não adianta rezar. Não adianta pedir. 

E fui deixando de pedir. Continuei agradecendo por tantas coisas. Continuei celebrando, mas deixei de pedir.

Ultimamente, tenho andado angustiada com as coisas do mundo. Essa confusão. Esse não dá pra entender. Essa passagem de um tempo pra outro que nem maremoto. Tenho andado muito angustiada.

Então, decidi voltar a pedir. Pedir pelo mundo. Pedir pela vida. Pedir, sem pudor, por mim também. Comecei há pouco tempo. No inicio, sem muita convicção, mas tenho melhorado a cada dia. 

E se todos nós, em todas as partes do mundo, decidíssemos pedir, em todas as línguas, insistentemente, PAZ? Mas paz sem considerações filosóficas ou ideológicas. Que todos sabemos o que é paz quando a sentimos. Paz sem elucubrações. 

Quem sabe se esse despudorado pedido não imantava o planeta e nos fazia mais simples, mais plenos e tranquilos.

Você aí, sabe rezar? Qualquer oração... Então, junte-se a mim. Eu que, timidamente, estou só começando...  Em nome do Pai... 

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

2 comentários:

Eulalia disse...

Muito lindo, muito lindo mesmo!
Sim, sei rezar... e me junto a você!
beijos

Celina disse...

Eu sou uma resadeira de carteirinha e acredito de todo o meu coração em grandes e pequenos milagres. Peço sem pudores. Porque sei que o melhor de mim se conecta com o melhor de mim, quando rezo.