sexta-feira, 5 de abril de 2013

FAZ UM PUXADINHO


Mabel costumava dizer: Ai, Pat, a vida é dura! E Silvio tomou a fala como mantra e mote e vive repetindo: É como diz Mabel... A vida é dura.

Conheço um bocado de gente (incluo-me nesta tribo) que gostaria de controlar a vida como se fosse escritor de novela, uns tantos capítulos de perigo, mas sempre um final feliz. 

Mas a vida tá na dela. Escorre por nossas mãos. Foge por entre os dedos. É areia... Movediça!

Levei muito tempo de análise para entender que a vida é precária. A vida não dá mole pra ninguém. No meio do salto, lá bem no alto, ela sopra um vento de lado e a gente cai de barriga, de queixo ou de bunda. E fique feliz se só ficou arranhado, que tem muitos que não se levantam nunca mais.

Foi ontem que a sobrinha me disse: Ai, tia, é muito difícil! A vida é muito difícil.  E eu respondi por instinto: É... Na vida, a gente tem de aprender a fazer puxadinhos.

A vida não é lançamento de construtora famosa, com banner, folheto e apartamento decorado.  Que nada. Não dá pra se comprar na planta, que nem planta tem. 

Se a gente tem sorte, consegue fazer, de inicio, um alicercezinho. Depois, cada dia é um dia e o que a gente pode fazer é ir ao sabor e ir fazendo uns puxadinhos. 

Apertou de um lado, joga um segundo andar com teto de amianto e janela de alumínio. Se der, pinta de branco, se não der, deixa no tijolo mesmo e reza pra aguentar.

Apertou do outro lado, cava um pouco do barranco, põe mais um quartinho e reza pra não chover.

Sobrou um dinheirinho, corre uma laje e põe churrasqueira e piscina. E reza pra fazer muito sol e ser de vez em quando domingo.

E se tem festa na laje, tem também dia de bala perdida. E se o terreno tá pacificado, a gente festeja e vai aprender alguma coisa nos cursos e nas escolinhas.

E um dia vem a chuva e leva tudo junto com a lama e a gente tem de recomeçar. E como chove de quando em quando, porque às vezes é verão, a gente recomeça... E recomeça... E recomeça.

E recomeça no susto, tirando a casa do lixo. Mas depois... Mesmo sem alicerce, a gente vai construindo paredes e janelas e varandas. Vai criando puxadinhos. E se der, a gente pinta a casa de rosa ou verde ou de um azul bem azulzinho...

A vida é precária e difícil. É feita de inesperados e surpresas. É feita de acasos... Cada dia é outro dia. Se quiser controlar, morre tentando. O negócio é ser criativo. Abrir espaços e... Construir puxadinhos!

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

3 comentários:

Celina disse...

Nesse quesito já fiz um complexo projeto de arqitetura. o problema é que nem sempre temos o metrial necessário, isso sem falar que a mā de obra nem sempre corresponde! bjs

Carla disse...

Eu vou seguindo, de puxadinho em puxadinho, tentando fazer conexões entre eles e não me perder em um labirinto. Eu vou seguindo, minha Pat, me inspirando em tantas Pats, enquanto busco as tantas Carlas de mim mesma. Saudades. BJS

Eulalia disse...

Haja puxadinho,querida, haja puxadinho.

O que vale, no entanto, é a vista que se tem quando se chega à janela... ou... ao puxadinho...

bjs!