sexta-feira, 30 de março de 2012

SILÊNCIOS



Tô ficando velhinha! Já sei... Já disse isso antes... Mas tô mesmo ficando velhinha. E um dos sintomas mais fortes disso é que tenho sentido uma grande necessidade de silêncios.

É importante explicar que silêncios não é a mesma coisa que silêncio. Esse último é acabrunhado e tristonho. É um genérico. De certa forma, um antônimo de fala amorosa, informada; música; burburinho gostoso; risos e confraternização. Já silêncios, não. 

Silêncios é o que se faz na hora certa. É quando a gente se cala no momento em que não tem nada para falar. Quando solidários, abaixamos o som da casa ou do carro que invade a alma alheia sem piedade ou pudor. Silêncios se faz quando não damos o grito que é golpe e agressão.

Silêncios é coisa para iniciados.

É quando a gente fica num canto e bem quietos escutamos o nada. E não falamos nada, mesmo que a língua se retese em espasmos. Calamos porque não sabemos. Calamos porque queremos. Calamos porque não vale a pena.

Silêncios... Há que se exercitar.

É algo físico e ético. Como em qualquer exercício, há que se repetir o gesto até cansar. Não falo, quando não sei. Não grito, porque machuco. Não produzo o som que invade, mesmo que seja um sussurro, que há muitos balbucios tão ou mais eloquentes que um murro.

Há coisas que só se dá para ouvir em estado de silêncios. Um amanhecer. Um afago. Um mero se espreguiçar.

Me aconchego em silêncios, como num colo de mãe. E é em silêncios que escuto o conto de fadas da infância, a oração do anjinho e aquela canção de ninar.

Silêncios é parte da vida, como cheirinho de lavanda na fronha e no lençol passadinho. Só que tá ficando algo raro, feito água de moringa. 

Já imaginaram se por um dia, só por um dia, todos ficássemos quietos? Um dia de silêncios, não por luto, mas para ressetar as vontades, os pensamentos, a volúpia!

Será que daria certo? Nós, por um dia, silenciosos ermitões.

Sei não... Acho que não funcionaria. Como mudos ansiosos, desenharíamos no ar, com gestos eloquentes e argutos nossas opiniões e palpites.

Mas se funcionasse? Por um dia que fosse... Quietos... Todos... Ressetando-nos... Como computadores...

De uma coisa estou certa... Em nossa mudez inventada evitaríamos muitos erros fatais.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

3 comentários:

Eulalia disse...

Tentei, em vão, buscar uma frase que tivesse me marcado mais.
Não consegui.
O texto está inundado delas, querida!

Celina disse...

Comentar silêncios? nem para iniciados! Talvez o meu maior silêncios seja o tanto que gosto de você. Não sei como falar...

Elza Martins disse...

Texto lindo amiga.Emocionante. Envelhecer é ganhar o discernimento de que só se deve falar quando faremos diferença.
Seu texto fez... como sempre faz.
Um enorme beijo.