sexta-feira, 23 de março de 2012

C4 TRIO: OUTRA HISTÓRIA VENEZUELANA


Das duas uma, ou estou com muitas saudades da Cordilheira da Costa e da minha montanha mágica, El Ávila, ou realmente ainda não escrevi todas as histórias vividas por lá. Dentre muitas recordações, esta vai ficar para sempre guardada em um cantinho da minha saudade.

Se não houvesse nada de bom na Venezuela (e há muita coisa linda!), ainda assim a terra se destacaria pela música.  Ela está impregnada em tudo e em todos, da Orquestra Sinfônica Juvenil ao mais recôndito rincão onde se dança tambor e se saúda os santos e a vida. A Venezuela é feita de música. E música sem fronteiras, do clássico ao mais tradicional, passando por jazz e chorinhos. Gostam de dançar, tocar, cantar. Festejam à vida em claves de sol.

Descobri isto logo na primeira semana em que cheguei. Fomos convidados para uma apresentação da Orquestra Sinfônica Juvenil sendo regida por Isaac Karabtchevsky. Projeto Venezuela/Brasil. Em pouco mais de uma hora, fui de Vila Lobos ao sabor sensual de salsas e merengues.

E depois, foram as ruas, foram os bares, foram os concertos no Corbanca. Foram as gaitas de Natal e Huascar Barradas tocando em flauta a América Latina.

Um dos primeiros shows que vi por lá, foi o do C4 Trio e foi paixão a primeira vista. Acho que vale a pena explicar o nome do trio. São três músicos mesmo (ainda que sempre tenham algum convidado para dar uma canjinha), 4 é o nome do instrumento que tocam, uma guitarrinha de quatro cordas.

Mas estou me perdendo que a história ainda nem começou. Vi o show, comprei o CD e virei fã.

E, mais de um ano depois, eu estava no aeroporto de Maiquetia indo para Maracaibo quando reconheci um dos músicos do grupo. Não resisti e fui falar com ele. Essa coisa de tiete mesmo. Qual não foi minha surpresa quando ele me apresentou o resto do trio. Quando lhes falei que eu era brasileira, foram eles que não pouparam elogios a nossa música e me contaram de sua paixão pelo chorinho. Despedidas feitas, beijinhos trocados, segui para esperar meu avião.

Minutos depois, um dos músicos veio falar comigo. Queriam me mostrar uma coisa. Eu o segui meio que cabreira. Eles estavam sentados em um quiosque, desses de aeroporto onde se pode tomar um café ou uma cerveja.

Entre muitas desculpas, pois ainda estavam estudando os arranjos, me disseram que queriam tocar para mim um chorinho de Jacob do Bandolim. Para mim!!!! E começaram a tocar. E as pessoas foram se chegando, se ajuntando, se aconchegando, e eu, no meio da festa. E tudo foi festa. Um momento, um transe, o tempo suspenso no espaço e o espaço bailando na música. Eu, a princípio um pouco constrangida, fui me deixando levar. Fui protagonista e coadjuvante da informalidade do gesto, do descompromisso da cena, do acaso. Como pano de fundo a nossa despudorada latinidade.

Ao final da música, de meu concerto particular, todos aplaudiram, assoviaram, riram e ... seguiram, cada um pro seu lugar.

E eu, a homenageada da festa, segui, nas nuvens, para pegar o meu voo.

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Outro dia, uma amiga me disse que já estava na hora de eu mudar o nome do blog. Que À Vista Del Ávila já era passado.

Pensei um pouco e respondi: Ainda não posso... Sabe, ainda não posso.



(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

2 comentários:

Celina disse...

Eu já achei um unico dia, que poderia mudar o nome, mas estar À vista del Ávila já pode ser considerado gramaticalmente como uma metáfora. Momentos assim são de guardar ma nossa caixinha de música particular.
(muitas saudades)

Eulalia disse...

Querida,

Quando leio Ávila, em seu blog, leio Patricia após a tempestade... uma tempestade que só a Venezuela pÔde (insito no acento) aplacar.

à Vista del Ávila, para mim, é uma espécie de grande encontro, muito mais do que um lugar físico.

É a Patricia "revisitada".
Por mim, é título que não sai (sorriso)

Adorei o post. Eles são muito bons mesmo! Fiquei encantada.

Depois me ensina a incluir vídeos? tenho tentado sem sucesso...

beijinhos