sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

E AGORA... PATRICIA?


E agora? O que é que faço? O danado do texto não sai. Passei a semana toda, procurando um bom motivo, um mote, uma grande cena, um rasgo de inspiração... Mas nada! Folha em branco. Boca seca. E um silêeeeencio!!!!

Pode até parecer assim por alto que nada aconteceu de bom. Que estagnei, fiquei parada ... Mas que nada! Foi semana atribulada!

Fui ao cinema ver o rei discursar. Comecei a caminhar no Aterro. Jantei fora. Me encontrei com gente amiga, lá dos tempos de Caracas. Me encontrei com gente amiga, amiga de todos os tempos ... (gente da confraria) e de quebra com Cristina, amiga que não via há tempos! Tive até no Consulado Geral da Venezuela pra ver se por fim dou fim a saga de minha mudança.

E nesse tempo todinho de olho e coração abertos, buscava o texto. Uma primeira frase que fosse. Uma imagem, uma idéia... Mas o maldito não vinha!

Tem semana que assim... Texto que é bom não dá as caras.

Pensei em escrever sobre uma antiga viagem que fiz para o Canadá. Pensei em escrever sobre uma foto amarelada. Pensei em contar uma história de familia... Mas o texto se fez de rogado.

Então... nem pensar em filosofias, elucubrações nem ousadias. Arrisquei um texto simples... Quase um cordel de cordel...

Teimando contra a corrente, me aventurei no vazio ... Que no meio do caminho tinha era muita pedra, dessas pedras portuguesas que prendem o salto alto, torcem o tornozelo, nos induzem a tropeçar!!! E acho...Sei não... Acho mesmo... Que travam a nossa língua... Feito um rei de Hollywood...

Uma boba da corte qualquer.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UM CERTO MOMENTO


Final de verão. Tarde de calor úmido e abafado. Já meados de fevereiro. O dia não tinha sido dos melhores: óculos quebrados pela manhã, NET fora do ar sem previsão de volta (Por que cismei de fazer esse tal de combo?), compras por fazer. E, marcada para o final da jornada, uma missa de 7o dia.

Na verdade, eu não precisava ir. A minha ausência não seria notada por ninguém. Não seria eu que diminuiria ou compartilharia a dor do momento. [Já vi este filme. Há dores tão particulares, tão pessoais que parecem que se entranham em nossas veias e músculos. Acompanham o ritmo de nossa respiração. A dor da saudade é dor matreira, como uma doença crônica. Quando se pensa que ela acabou, surge um novo surto, uma febre alta... mal estar...].

Não precisava ir, mas me senti na obrigação de estar lá.

Cheguei no horário e encontrei alguns amigos. Tinha uma sensação estranha de não pertencer. De estar por estar. O pensamento voava de um canto a outro: Ali, a igreja, as pessoas. Amanhã, que eu tenho que fazer? Agora, será que vai chover?

Havia uma comoção controlada, mas uma enorme comoção. Era claro que a maioria das pessoas que ali estavam, estavam por ela, pela amiga... Eu não a conheci, mas se podia perceber que ali as pessoas sentiam uma enorme saudade da amiga. Fosse ela, amiga-amiga, amiga-esposa, amiga-mãe, amiga-tia, amiga-vizinha... amiga.

A missa começou solene, mas não formal. Havia uma intimidade de todos com ela. Não era missa encomendada, para constar. Era um momento único. Uma oportunidade de estarem por um pouco mais de tempo junto a ela. De chorarem...por e com ela. E de esboçarem sorrisos, quando uma lembrança qualquer lhes passava pela cabeça.

O padre, ainda jovem, com uma voz firme e forte que sustentava a missa cantada em cadência gregoriana, não falou de morte. Ele sabia que ela estava bem. Era claro que havia convivido com ela. Era claro que tinha algumas vezes tocado sua mão em momentos de dor. O padre não falou de morte, falou de saudade e pediu a Deus que ajudasse aos vivos a suportá-la, que saudade é peso grande para se levar sozinho nas costas do coração.

A missa seguia e, aos poucos, o que era só dor, foi ficando mais leve, entre cantos, palavras e silêncios. Havia uma quase alegria no ar. Ela está bem... Vai estar com sua familia e amigos, só que de outra forma. Continuamos juntos ...

Eu não a conheci... Gostaria de ter tido a oportunidade. Deve ter sido alegre... Deve ter sido amiga... Deve ter sido vaidosa. Devia ter um bom papo e acreditar na vida. 

A missa acabou. Não tive oportunidade de conhecê-la. A morte impossibilitou o convivio...

A morte...

A morte... Todas as vezes que penso nela, quando bate a saudade dos meus e a garganta aperta e o ar não sai (como grito, suspiro, reclamo ou palavrão!), acho que a morte é só mais um ângulo, um detalhe de uma foto chamada vida, uma foto qualquer, como essas bonitas e anônimas, emolduradas em quartos de hotéis. A morte ... é um pedaço da foto, Não devia doer.

O que dói é a saudade... Essa mania dos vivos.




(in pblower-avistadelvila.blogspot.com) 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

AURORA DOS SIXTIES


Essa noite vou ver HAIR, a montagem que está no Oi Casa Grande. Gosto de musicais.

Agora, aqui, neste meio de tarde, enquanto checo emails e, como sempre, espero alguém que vem instalar alguma coisa na casa, decidi folhear antigos poemas e rever fotos de uma Patricia que já não existe mais. O resultado: este post.

Sou a raspa do tacho da década de 60. Naquela época, eu achava que podia mudar o mundo e escrevia longos poemas...

Quem viveu... vai entender do que estou falando. 

AURORA DOS SIXTIES

é isso aí
          Aurora
já não há tempo nem hora

o tempo passou
a ave voou
agora
          Aurora
               são três a voar

é isso aí
          Aurora
feito amora
indomável
nódoa de sangue
nódoa de mangue
na roupa
no rastro
no passo
na mão

Aurora
dos sixties
cheia de tiques
cheia de truques
a vida era assim

tudo em cima
tô na tua
nem vem que não tem
e teve
e tinha

Aurora
do abaixo assinado
da denúncia
cheia de vícios
cheia de vida
cheia de dívidas
só dividida
entre o céu a a terra
ficava o gurú

na roupa hortelã
enrugada
a marca da bala que matou o viet

Aurora
a glória!
análise
psicodrama
teatro experimental
ainda roça no ouvido
a guitarra e o rock

herman hess
leví-strauss
na aldeia global
ela
elétrico elo
elemento na rota do espaço

é isso aí
          Aurora
já não há tempo nem hora
o tempo passou
a ave voou
doce pássaro

é noite
         aurora
é noite
         aurora
é noite

(Poema publicado em Moinhos ao Ventos, ed. Fontana, 1982)






















1974, 16 anos...
Não mudei o mundo...
(O mundo me mudou...)
Naquela época eu teimava em escrever...
longos poemas...
tristes.


(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

LOURDINHA CARNAVAL


Marcinha e Fátima chegaram lá pelas 8. Era mais um debut do apartamento. Apesar de estar ainda acampada, me esmerei nas comidinhas. Tinha até louça inglesa. Estou tendo um prazer enorme de poder usar minhas coisas novamente. As pobrezinhas ficaram por tantos anos escondidas em armários e depósitos... Agora não. Todas lavadinhas e prontas para o serviço.

Mas como eu ia dizendo, as meninas chegaram por volta das 8. Fátima me trouxe um tinto australiano de respeito e Márcia um vaso/presente. Uma bromélia amarelinha. Uma celebração nacionalista. Inconscientemente, ela me presenteava uma flor amarela em um vaso verdinho como se dissesse: Seja benvinda, amiga. Seja benvinda.

Silvio chegou logo depois e aí foi muito papo, pastinhas, risadas, margaritas (e suco de uva para Marcinha).

Uma história foi puxando a outra e também nós migramos para a mesa, onde nos esperava um espaguete ao pesto com salmão defumado. Vinho branco argentino, cerveja para Silvio... E... suco de uva. 

É impressionante e encantador como amigos verdadeiros são capazes de produzir assunto... e muitas risadas.

Enquanto comíamos, de vez em quando eu olhava para a flor que tinha sido deixada junto a nós. Depois eu encontraria o lugar certo para ela. A gente falando e ela... Sei lá... Acho que era o ângulo em que eu estava... Mas era como se ela seguisse a conversa com sua loura cabecinha. Participava, em silêncio, mas atenta e solicita. Havia algo de humano naquela bromélia. Um corpo delgado e proporcional. E a leveza da juventude.

A noite terminou já passava da 1 e como todos, inclusive eu, tinham que levantar cedo, foi apagar as luzes e deitar.

De manhã, não ouvimos o despertador e quase perdemos a hora. Sai do quarto direto para a cozinha para fazer o café e quando passei pela sala, lá estava ela, loura. E havia uma alegria indizível naquela ... flor? Menina? Moça? Os braços para o alto... Bailava.

Era isso. A bromélia rodopiava em seu eixo. Uma passista! Uma baiana! Alegoria de si mesma. Uma das mãos erguida em ponta, como um leque. Seu mais lindo adereço. E o silêncio da manhã se encheu de música, batuque, um repique carioca.

Minha sala, a festa. Minha sala, a passarela. Minha sala, a avenida!!!!

Quando se apercebeu de minha presença, fingiu passividade. Mas aí já era tarde. Eu sabia de seu segredo. De seu canto/encanto. Súbito intui o seu nome e a batizei em cerimônia simples, mas não menos formal: Eu te batizo em nome da vida... Lourdinha... Lourdinha Carnaval! 

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)