sexta-feira, 12 de março de 2010

63,116,175,119,71...

Há algum tempo atrás, eu escrevi um texto sobre os onibus que fizeram parte de minha vida. Acho que este texto é a sua continuação.
Esta semana decidi ver a cidade usando transporte público. Começou de forma organizada, comprando o bilhete para todo o dia e pedindo informações sobre trajetos e linhas. Descobri, entao o 63, o onibus que pode resolver a maioria dos problemas dos turistas, pois passa pelos points mais desejados. Mas foi ai que o vicio começou...
Como uma boa adicta, comecei com o light 63, e buscando novas emoçoes, me entreguei ao 116, que, para falar a verdade, é uma versao ainda mais leve do 63. Um micro onibus elétrico que tambem perambula pelos sights turisticos. Alias todos estes onibus da linha 11... sao assim. Pequeninos, vao se embrenhando por vielas e Roma vai surgindo... inesperada. Hoje tomei o 119 e cai na Piazza dei Popoli, de repente. O vicio està instalado e busco agora o tuimmmm do 115, ainda um mistério para mim.
O 175 jà foi uma outra experincia. Fui andando pela Via dei Fori, ruinas romanas de um lado e do outro, e acabei chegando ao Coliseo. Veio entao a pergunta, que onibus pode me levar daqui ate a Via Veneto? Levei um tempo perscrutando as placas com as indicaçoes até que descobri o 175. Decidi espera-lo. Mas passava tudo que era onibus, menos o dito cujo. Quando ia desistindo, pensei na fantastica oportunidade de poder ficar em frente ao Coliseo esperando um onibus. Tinha ainda um solzinho morno que jogava uns raios fraquinhos entre os arcos do monumento. Decidi esperar, o quanto tivesse que esperar. Eu as vezes pensava, Ei Patricia, é isso mesmo. Voce esta parada em frente ao Coliseo esperando um onibus. E sem urgencias. E sem horas marcadas. Curte.. muito. Por essas e por outras é que o vicio foi se instalando. Literalmente, viagens inesqueciveis.
Cada vez mais confiante em minhas very good trips, decidi tomar o 63 e ir até o final da linha, Largo Pugliese. Era uma manha ensolarada e la fui eu. Aos poucos, os pontos conhecidos foram desaparecendo e, na janela do onibus, começou a surgir uma outra Roma, feita de largos e suburbios. As pessoas tambem mudaram um pouco. Mais simples, menos turisticas. Um burburinho de falas ao celular. Eles falam muito ao celular. Em todas as partes. Andei por mais de uma hora ate o ponto final. E ai a decisao foi inevitavel... ir de volta ate o outro fim da linha. Ja podia sentir o vicio instalado em minhas veias. E a volta me levou à beira do Tibre. Bem proximo à ponte que leva a Isola Tiberina e ao bairro judeo, outro lugar por onde perambulei, entre restaurantes de comida Koshe e muitas lojinhas que vendem de tudo.
E, como viciado sempre quer mais, quando Silvio me disse que tinha que comprar um microfone para Ricardo na Via Tiburtina e que nòs iriamos là no sàbado, eu nao pensei duas vezes e decidi ir antes, e de onibus. Foi na Piazza Barberini que descobri o 71 que poderia me levar a Stazzione Tiburtina. E là fui eu, mas ai a trip foi um pouco bad. O onibus foi passando por uns lugares estranhos e seu ponto final era debaixo de uns viadutos. Tudo bem feiozinho. Ainda tentei descobrir onde ficava a loja, mas como me informaram que eu tinha que atravessar uma ponte (por sinal bem feiozinha), decidi retornar.
Voltei a meu velho vicio, o 63. E foi ele que me levou até a exposiçao dos impressionistas que està na Piazza Venezia. Linda!!!!! Ia vendo os quadros e me lembrando de tanta gente que eu queria que estivesse comigo ali. Me bateu uma saudade... morninha.
Bem... Posso dizer que a vida mudou. Com o vicio totalmente instalado, agora nao consigo mais passar por uma parada de onibus sem que tenha a incontrolavel compulsao de entrar no primeiro que vier e seguir... seguir ate o ponto final. Esse é o jogo... ate o ponto final... (mas sempre tendo no bolso [do colete], a passagem de volta). Que hà que se voltar, nem que seja para escrever mais um texto no blog e passar a vida a limpo, como diria Drummond.


(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

Celina disse...

Ticha,
Andar de ônibus é tudo de bom. Eu também fiquei completamente viciada em Londres. Já conheço boa parte das linhas, mas tenho um projeto de passar uma semana inteira dedicada a descobrir todas. Tenho um mapa tudo de bom que mostra todas as paradas. Já estás totalmente romana!!!
bachos

Eulalia disse...

Muito muito muito lindo!

Alzira Willcox disse...

Você tem o espírito aventureiro. Eu, se começasse a ver a paisagem mudar e as pessoas também, ficaria estressada certamente. Mas é a melhor maneira de se conhecerem as cidades, verdadeiramente. Transporte público.

monica disse...

'Omnibusanom', grupo fundado para adictos em ônibus. Rsrsrs
Texto delicioso.
Mônica