sexta-feira, 19 de março de 2010

MEDOS

Hà muito tempo atràs, escrevi em um poema... o poema que nao foi feito/por medo do abismo/por medo do medo...
Sim. Sempre tive medo de ter medo e isto deu muito pano pra manga em meus encontros com minha analista.
Tenho uma imaginaçao um tanto feérica e sou capaz de amplificar situaçoes de perigo ou, no minimo, de desconforto. Sofro do que chamo da sindrome do E se...? E se acontecer isto? E se acontecer aquilo? E ai vou criando filmes de terror.
Foi exatamente por isso que quando estive em Roma pela primeira vez, hà mais de trinta anos, nao visitei as catacumbas. Cheguei a ir a Via Appia, mas quando estavamos nos preparando para descer, o infeliz do guia fez o seguinte comentario: Se alguem sofrer de claustrofobia, nao deve entrar. Foi o suficiente para eu panicar. Nao estava com medo dos possiveis fantasmas de vetustos cristaos, tinha medo de meus medos. E se eu sofrer de claustrofobia e nao souber? Criei a cena perfeita. Eu tendo um treco no meio das tumbas e todos me atendendo. A falta de ar... O desespero. Nao desci. Ficamos eu e Timo, o motorista do onibus, esperando os turistas nao claustrofobicos voltarem do passeio.
A vida é assim. Foram precisos mais de trinta anos para que eu decidisse voltar às catacumbas e melhor que tudo, entrar terra a dentro. Nao vou negar que no momento exato em que ia pisar o primeiro degrau, as maos gelaram, mas o casal espanhol que estava atras de mim me sorriu e eu olhei para o ceu que estava de um azul perfeito. Respirei fundo e entrei.
A visita foi tranquila e, ao sair da terra, nao resisti e sussurrei um YES!, sò para mim.
Catacumbas vencidas, resolvi visitar uma igreja que fica na Via Veneto e que me haviam dito que tinha a cripta feita com os ossos dos padres enterrados là. Um tanto macabro, mas achei que valia a pena.
A igreja em si é normal, com uma linda Nossa Senhora da Conceiçao pintada no altar e enfeitada com coroa, brincos e pulseras de ouro. Rezei... que eu rezo sempre e fui para a area que eles chamam de cemiterio. Entrei. Uma senhorinha sorridente me informou que nao poderia tirar fotos por respeito e que eu deveria fazer um oferta de no minimo um euro. Me disse tambem que o caminho de ida era o mesmo de volta (achei simbolico). Deixei minha oferta e entrei. Uma cripta toda caiada de branco e toda ornamentada de ossos. Girlandas, esculturas, flores, simbolos religiosos. Tudo feito de ossos e tudo guardado por muitos esqueletos vestidos de frades. Confesso que nao me deu medo, era ate esteticamente bonito e quando sai sussurrei outro YES!, sò para mim.
Engraçado... realmente nao sei se foi resultado das visitas um tanto estranhas a que me dediquei durante esta semana ou se o jantar de ontem estava um pouco mais pesado, mas o fato é que, durante a noite, tive um dos piores pesadelos que ja tive em minha vida, com direito a acordar Silvio, acender todas as luzes e ligar a televisao para ver se passava o medo. E ainda tive de ouvir de Silvio: Voce é maluca. Quem manda ficar visitando esqueletos.
O medo do medo...
... e de fantasmas tambem.

(in pblower-vistadelvila.blogger.com)

2 comentários:

Alzira Willcox disse...

O pior dos medos é exatamente o "medo do medo". Esse "e se" que prenuncia ansiedade, pânico, MEDO é paralisante mesmo. Fantasmas não metem medo. Talvez o pesadelo tenha sido consequência da superação que lhe permitiu visitas um tanto macabras,rsrs.

Eulalia disse...

Fantástico, adorei! Principalmente pelos "Yes" (!!!) e apesar dos pesadelos (sorriso)

Estou sentindo falta da visita a San Pietro in Vincoli (será que se escreve assim?) para ver o Moisés. Depois dessas aventuras pitorescas, não duvido que ele "parle" para você... (rs)

Mas você tem tempo e sei que chega lá!
beijinhos saudosos!