segunda-feira, 23 de março de 2009

CACHORROS DE GATOS

Ainda não me acostumei com certas esquisitices lingüísticas do espanhol. A começar pela palavra exquisito, de sabor sempre questionável para mim. E há ainda engrasado, embarasada, enojado e muitas outras palabritas más que fazem nossos idiomas tão próximos e tão distantes. Como irmãos, muitas vezes são falsos amigos. Entre as muitas palavras e expressões, existe uma que ainda me dá arrepios e, como adoro animaizinhos, tendo a usa-la com freqüência. Entro em uma pet shop e disparo: ?Cuánto cuesta este cachorro de gato?
Cachorro de gato!!!!
Como pode ser isto? Uma pobre entidade, um serzinho de nada, um gatinho. Como pode estar ele envolvido com uma expressão que traz em si um mundo de antagonismo e tensão? Um filhotinho de gato perdido em um verso e reverso de si. Seu maior inimigo intrinsecamente existindo nele mesmo.

Esta semana continuo pelo Rio de Janeiro e tenho tido o enorme prazer de matar saudades de muitos amigos. O almoço na Cobal com um de meus grupos gerou uma deliciosa conversa sobre Hamlet, Shakespeare e sobre prosa e poesia. Na montagem de Hamlet que está em cartaz por aqui, não foi usado um dos ... como direi? ... artifícios literários do bardo, o jogo entre prosa e poesia. Quanto mais esquisito (olha a palavra de novo) seja o personagem, mágico, alterado e sofrido, louco e desesperado, ou bestial, mais suas falas serão impregnadas de POESIA. As mais belas falas em A TEMPESTADE são ditas em forma poética por Calibã, o monstro, o filho da bruxa. Sábio Shakespeare. Em seu infinito talento, estabelece uma tensão permanente entre prosa e poesia. Em uma mesma entidade, o texto, contrapõem-se o verso e seu inverso.

Há muito tempo não escrevo um poema. Esta semana, conversando com Cida (como é bom conversar pessoalmente com Cida!), contava a ela que não conseguia entender bem o porquê disto. Sinto como se me faltasse uma sintonia, uma espécie de onda cerebral especial que me proporcionou, por tantos anos, a capacidade de brincar com as palavras e escrever poemas. Ritmos, sons, significados, todos e tudo são postos à prova em um poema (mesmo naqueles de pé quebrado). Para mim, não há nada mais lúdico que o fazer poético.
Eu, que já disse em um texto a respeito da Poesia: “eu mão direita / ela esquerda / no meio de corpo inteiro / o vazio”, estou incapaz de visitá-la. É um desejo recorrente e complicado, este re-encontro (com hífen mesmo).

E foi pensando em re-encontros, re-versos, in-versos, contra-pontos, contra-senhas, contra-regras, que percebi que o que fiz de poesia sempre foi o espelho de mim. E, quantas vezes, usei esta imagem: a sala de espelhos, o re-flexo. Em uma mesma entidade, a tensão entre eu e o meu in-verso, imagem ao contrario feita de vidro e silêncio. Minha inimiga? Eu ... um cachorro de gato.

O texto que segue foi escrito em 1996, quando eu ainda escrevia poemas, não tinha muito tempo para elucubrações, não conhecia o Ávila, nem Silvio e ... nem gostava de gatos.


A MENINA E O GATO

faço de meu verso
o reverso de mim
rosto felino
olhos verdes
verticais

e afago o meu dorso
veludo
pelo pele
plástica vertente
sinuosa
voraz

os bigodes de sonho
compridos/cumpridos
macios e pretos
são restos de leite
e escondem as presas
que presas se escondem
por trás de uma boca
entre a língua e meus medos
por trás
por detrás

farejo
o cio
o poente
o possível
sou o salto do muro
sou o salto no escuro
valente
fugaz

um gato na noite
um gato e a noite
de mais
nada mais


(in à vista del àvila)

segunda-feira, 16 de março de 2009

DA JANELA VEJO O CORCOVADO, O REDENTOR, QUE LINDO!


Cheguei ao Humaitá e o Cristo me recebeu de braços abertos. A mistura de saudades foi substituída pelas mil coisas que tenho que fazer por aqui. Recebi as boas vindas de Elzinha:

“O Cristo tem variado de cor em comemoração ao Mês da Mulher e ao aniversário da Cidade. Há noites em que abro a janela e ele se encontra azul claro como a acompanhar o entardecer. Em outras, ele está vermelho como o sol de um final de tarde. Adicionam, assim, um "quê" a mais de beleza naquilo que já é tão belo. Pat, abra sua janela do Humaitá e você vai ouvir os pássaros cantando alegres pela sua chegada e, quem sabe, perceber que o Cristo se enfeita para festejá-la, também.”

Já encontrei a família. Já falei com muitos amigos pelo telefone. Aguardo ansiosa o momento de me encontrar com Bia e Lúcia, interlocutoras fiéis de minhas histórias. Fico pensando o que aconteceu com Alzira ... Sinto falta de suas visitas ...

Debruçado em minha janela, o Cristo me observa, como sempre, descuidadamente atento.

Fico pensando nas muitas noites passadas aqui no Humaitá. Aqui na cápsula, codinome de meu apartamentinho. Noites de insônia por tantas preocupações. Noites de muito trabalho: orçamentos, planos de aula, palestras a serem preparadas, muito estudo para o MBA. Noites de muitas conversas com Márcia, amiga querida com quem dividi o apartamento por tantos anos. Noites de solitude. Foi aqui na cápsula que escrevi alguns de meus últimos poemas. Aqui estão dois deles que têm a ver com o Humaitá e com um estado de espírito que se perdeu por aí, entre as árvores e a neblina da Cordilheira do Ávila:

JANELA DO HUMAITÁ
(Dez. 2003)

estrelas são migalhas da noite
com elas alimento meus sonhos
faminta que estou

a lua
é prato cheio

UM POEMA FEITO PARA MINHA AMIGA MARCIA CONTANDO A ELA COMO TENHO ANDADO
(Humaitá -01/08/2006)


um poema qualquer
feito à navalha
na linha do tempo
um resto de vento
o sopro do mar

na saudade de todos os dias
os dias são soltos
saltimbancos e rotos

mergulho em mar e desalinho
na linha do horizonte a linha do tempo
há linha no tempo
alinha seu tempo
que um traço é lampejo
em meu verso revejo gaivotas do Tejo
me atrevo
arremesso
remexo gavetas
dispersas no ar

quem fui se foi em tudo que disse
quem sou é silêncio e abismo
um salto no espelho
contra-face de mim
o contra ponto
o contra canto
a contra regra a ser seguida

o meu verso é uma eterna tristeza
que de tão presente
me faz sorrir de repente
me apressa e represa
não me deixa vazar

Quando fui para a Venezuela, prometi a Marcinha que escreveria uma peça de teatro chamada A Cápsula. Contaria nossas aventuras e desventuras, mas seria uma comédia. Tentei sem sucesso. Talvez porque me falte em Caracas este Cristo descuidado e atento debruçado em minha janela.

Ao longe, muy lejos, o Ávila me espera e me espreita com a paciência das pedras.

(in à vista del ávila)


segunda-feira, 9 de março de 2009

SUBINDO O ÁVILA


O Ávila é como o Pão de Açúcar ou o Corcovado. Quem nasceu em Caracas um dia tomará o teleférico para ir a seu topo, mas, como a montanha está ali pertinho e à disposição, os nativos estão sempre adiando a visita. Já quem chega para morar na cidade tem como prioridade fazer tal passeio. E se a gente recebe visitas de fora, reza para o céu ficar bem limpinho para que possamos subir e vislumbrar lá de cima toda a cidade e também, do outro lado, Galipán e o mar do Caribe.
Ao contrário do Cristo, que está normalmente de braços abertos aos turistas, a montanha é fêmea cheia de melindres. Sofre de TPM. Nem sempre está disponível aos pobres mortais. Vai se enrolando em seus véus, fecha o cenho e desaparece.
Silvio sabe direitinho quando é hora de subir. Fica olhando a cordilheira, assuntando que nem caçador e de repente diz: Hoje vai dar para ter uma boa vista. Hoje dá. Foi assim quando Eulália nos visitou. Os dias estavam fechados, chuvosos e numa tarde de domingo, ele nos informou: Hoje dá para subir. E Eulália fez fotos fantásticas. Com o cair da tarde, o céu foi se abrindo, se abrindo ... até explodir em um emaranhado de vermelhos e azuis.
Não se deve esquecer de levar um abrigo. Caracas está a mil metros do nível do mar e o pico do Ávila a dois mil e cem. Em vinte minutos, de teleférico, são mais de mil metros vencidos. Dependendo da época do ano, lá encima é bem frio ou só fresquinho, mas há que se ter um abrigo.
Além do teleférico, há outras maneiras de subir. Há caminhos, trilhas mais radicais e tem até gente que faz uma espécie de maratona, uma corrida Ávila acima. Há caraquenhos muito esportivos e muito preocupados com o físico. Caminham, correm, vão a academias. Eu ... eu prefiro o teleférico.
São vinte minutos de encantamento. Muito verde e passarinhos. Na verdade, não se sobe uma montanha, e sim uma cordilheira. Então, o teleférico vai abrindo caminho entre montanhas e vales. Céu e mar brincam de esconder com a cidade. Olhou prum lado é mata, olhou pro outro é um cantinho de mar, uma nesga de cidade, uma nuvem que surpreende.
E lá encima ... bem lá encima tem comidinhas, uma pista de patinação, morangos com creme, o bandeirão enorme amarelo, vermelho e azul, flores, cheirinho de café, restaurante italiano, artezanías. Lá ao longe o hotel desativado, uma enorme torre de muitos andares que agora é usada, às vezes, para eventos. Tem dulces criollos também e as lunetas para se ver Caracas, tão distante e protegida de seus eternos engarrafamentos. É só se virar e ali está Galipán. Próximo ao pueblito há umas pousadinhas e restaurantes. O Le Galipanier, oferece fondues, uma boa carta de vinhos, um prato de carne com frutas vermelhas e uma vista incrível do mar. Eles buscam a gente de Jeep lá no alto e levam até o restaurante.
Tenho lembranças gostosas de visitas ao Ávila. Na primeira vez que fui, eu ainda estava tão impregnada do que eu fazia no Rio que fui com um terninho bege e sapato alto. Nada a ver!!!
(Aqui cabe uma observação, comentamos entre nós como as roupas que nos serviam no Brasil agora nos parecem estranhas ou desnecessárias. Esta semana mesmo, Vilma, que chegou há pouco para viver aqui, já reparava nisso. Claro que há espaço para tacones e roupas mais produzidas, mas, no dia a dia é muito jogging, muito jeans e tênis. Tudo que eu adoro, roupas informais.)
Mas, voltando ao Ávila... Lembro também quando pegamos o teleférico com um amigo que sofre de fobia de alturas e que passou toda a subida olhando fixamente para frente. Olho vidrado. Enrolava entre os dedos uma venda, dessas que se recebe em aviões, caso perde-se o controle, ia se vendar!!!
E a alegria de Eulália e sua super câmera. Ela já tinha fotografado o Ávila de minha casa e agora ela estava em seu coração (ou seria, ele estava em seu coração?).
E a enorme lua cheia que nos acompanhou até o Le Galipanier? O Jeep se esgueirando pela estradinha de terra, pendurado em sua tração quatro por quatro, e tudo meio prata: o mato, as árvores, os nossos rostos.
E a descida da montanha, normalmente com noite fechada e Caracas se aproximando. Caracas e seu caos já tão familiar.

Fico me perguntando o porquê deste texto agora, nesta semana. E a resposta é simples: saudades (assim mesmo, no plural).

Encontro-me em um vai e vem de saudades. Saudades do Rio, da família, dos amigos. Seis meses longe podem pesar enormemente. (Sábado está próximo e da janela verei o Corcovado, o Redentor, que lindo). Saudades de Caracas, de Silvio, dos meus amigos e da minha casa. (Sábado está próximo e minha montanha vai estar muy lejos, muy lejos...)

Que o tempo passe bem rápido! Que o tempo passe bem devagar! E que um desses dias, por magia dos deuses, eu possa abrir minha janela no Humaitá e, bem ao lado do Cristo, esteja o Ávila, esta montanha tão fêmea, adornada de brilhos e cristais.

(in à vista del ávila)


terça-feira, 3 de março de 2009

UMA FREQUÊNCIA MÁGICA











Quando vivia no Brasil, a minha relação com as rádios era diretamente ligada à música. Ouvir notícias ou qualquer outra coisa falada no rádio era uma conseqüência e não uma opção. É bem verdade que houve uma época em que a ponte estava sempre tão engarrafada que decidi ouvir a CBN só para variar. Naquela época, eu também lia o jornal enquanto dirigia, tal a lentidão do trânsito. Mas isso foi pontual. Rádio para mim era sinônimo de canções.
Ainda hoje, quando chego ao Rio, sigo um ritual. Aterrisso, passo pela imigração, Duty Free, alfândega, depois direto para a Localiza para alugar um carro e, tendo o carro nas mãos, ponho logo na memória do rádio as estações básicas que vão da 90.3 de MPB até a Antena 1, passando claro pela JB e MEC, que um clássico de vez em quando não faz mal a ninguém.
Quando cheguei à Caracas, as minhas referências eram estas. Notícias e outros programas são vistos na televisão. Mas, em pouco tempo, descobri que os canais de TV aberta aqui ou são doentiamente a favor do governo ou violentamente contra. Há um canal que se lançou como sendo imparcial, mas em pouco tempo já deixava claro um certo colorido conhecido. A TV Vale é muito interessante, com inúmeros documentários científicos (Silvio adora a Vale), mas passar um tempão vendo o acasalamento de animais que eu jamais imaginara que existissem, de bactérias a dinossauros, pode ser um pouco cansativo.
É bem verdade que há as novelas. Colombianas, mexicanas, venezuelanas, como também as brasileiras. Já me acostumei a ver nossos atores falando espanhol. No momento estão apresentando Mujeres Apasionadas e, pasmem, Pantanal(!). Há novelas com títulos instigantes como La Dama de Troya, Bellezas Indomables e ... é verdade, eu juro, Estrambótica Anastásia (sic).
Temos TV a cabo e a Globo Internacional é uma opção que tem como efeito colateral suas propagandas. São as coisas mais amadoras que se pode imaginar. Todo o estudante de publicidade deveria fazer um estagio assistindo aos anúncios da Globo Internacional para aprender a como NÃO fazer propaganda. Um bom teste para se avaliar o quão expatriada uma pessoa está é perguntar-lhe se conhece Vionaldo Express ou as vantagens do curso Zenaric, ou ainda se sabe qual é a melhor oferta imobiliária em Ipatinga ou qual o melhor show sertanejo em Pompano Beach. Não se pode esquecer de todos os advogados especializados em imigração e acidentes de carro, bem como dos dentistas que são esteticistas também. Ou dos esteticistas que são clínicos gerais. Ou dos clínicos gerais que são cirurgiões plásticos e assim por diante. Todos profissionais que aceitam cartões de crédito e que falam português com os sotaques mais estranhos. Tem também a moça que não sabe como vai pagar o mortgage e teme ser levada “em corte”(sic). Ou as firmas de mudança para o Brasil que prometem rapidez e segurança.
TV a cabo, como uma partida de futebol, é uma caixinha de surpresas. Há programas para todos os gostos, em todas as línguas e em todos os horários, mas chega uma hora em que tudo é muito chato e dá câimbra no dedo do tanto que se muda de canal.
O rádio foi entrando em minha vida aqui na Venezuela aos poucos, meio que por acaso, quase como uma terceira via, ou melhor, uma tábua de salvação.
No inicio, os contatos eram tímidos e ainda muito impregnados de minha visão brasileira. Comecei com a 95.5 Jazz, a pronúncia é noventa y cinco punto cinco... jAAAAzzz. Só a ouvia no carro, na verdade nem tinha rádio em casa. Eventualmente ouvia outras estações e sempre ao final da tarde, pegava um programa em uma outra rádio onde uma apresentadora recebia convidados e conversava sobre vários assuntos. Eles comentavam tudo com muito humor, que a principio, eu só intuía, sem conseguir entender a maior parte.
Foi Soraya que me apresentou oficialmente a 99.1 Frecuencia Mágica. Aquele programa que eu escutava era um dos muitos da estação. A rádio tem uma estratégia super bem bolada. Há uma série de programas que são entremeados com noticias e muita música, inclusive clássicos internacionais das décadas de 80 e 90, do tipo Elton John, Phil Collins, e, às vezes, Barry Manilow (ninguém é perfeito). É uma geléia geral, com um pouquinho de tudo. Fico em sintonia com eles desde o programa de Marycarmen Sobrino (Qué ciudad), que, como indica seu título, trata de todos os problemas da cidade, em especial huecos (buracos) e basura (lixo). Passo pelas informações sobre casa e saúde com Marianela Lizardo (Qué pasa em Casa) e Shía Bertoni (Um café com Shia). Ouço as notícias com Elena Díaz Toledo (Lo más importante) e fecho a manhã ouvindo as entrevistas e debates políticos com Nito Pérez Osuna. A tarde tem Marianella Salazar em seu Hoy por Hoy, aquele programa que eu ouvia por acaso. Há também informações gastronômicas, rápidas inserções na programação, com Victor Moreno e sua Geografia Del Paladar.
Não é que eu tivesse ficado viciada na estação, mas comecei a sentir muita falta de ter um rádio em casa e o primeiro que comprei era em formato de headphone com uma antena pontuda em um dos lados. Adorei o modelo, pois filtrava os outros sons e eu podia ouvir com limpidez aquele espanhol caribenho, falado a toda velocidade. O problema é que eu ficava incomunicável, porque quando me sintonizava, eu não ouvia campainhas, telefones, nada a minha volta. As pessoas tinham que me ligar umas 10 vezes para fazer contato. Tinha também o problema de meu visual. Com o rádio pendurado em minhas orelhas, eu parecia um ET. Enquanto era só caminhar pela casa, fazer as coisas, tudo bem, mas um dia quase matei meu vizinho de susto quando fui jogar o lixo fora e ele deu de cara comigo com aquelas bolotas nas orelhas e uma antena pontuda. Não sei se foi intencionalmente, mas Silvio quebrou meu brinquedinho. Não perdi tempo e comprei um FRE DIGITAL IND MR-515, que não passa de um radinho de pilha bem vagaba, mas foi com ele que retomei minha sintonia.
E foi com ele que constatei algumas coisas e revi alguns conceitos sobre o ensino de línguas estrangeiras. Há muito acreditava que os alunos lucravam mais quando eram expostos ao inglês falado, através de vídeos. A situação parecia mais real. Afinal quantas vezes ouvimos uma pessoa sem a estar vendo? Dá mais confiança ao aluno, pois além da fala, tem a linguagem corporal, a leitura dos lábios. Poderia listar muitos outros argumentos a favor do vídeo, mas foi com o radinho vagaba que soltei meus ouvidos e passei a entender espanhol cada vez mais e melhor. Entendo agora quando as pessoas diziam que aprenderam inglês ouvindo a BBC. É justamente esta falta de apoio externo, este estar dependendo apenas de seus ouvidos, que faz com que os sentidos fiquem mais aguçados. O que antes para mim era um emaranhado de sons foi se transformando em reclamações, comentários ácidos, conselhos para a saúde, receitas culinárias, opiniões e críticas.
Às vezes me pego soltando uma enorme gargalhada e me surpreendendo porque não tive de me esforçar em nada para entender, simplesmente entendi o que se estava dizendo.
Não tenho a menor intenção de discorrer sobre os pros e contras de se trabalhar com viewing ou listening comprehension. O texto trata de prazeres. Pequenos e mágicos prazeres, como o de se descobrir novos divertimentos ou o de se sentir, a cada dia, um pouco mais competente em uma língua estrangeira, ou o de se sentir em sintonia com outras pessoas e culturas.
Em suma, é como diz o slogan da 99.1: ¡Que bien se siente cuando la frecuencia es mágica!



Nota:Se não conseguir ouvir direito o som do filmezinho, é só tocar uma segunda vez que aí funciona.



(in pblower-à vista del ávila)