segunda-feira, 16 de março de 2009

DA JANELA VEJO O CORCOVADO, O REDENTOR, QUE LINDO!


Cheguei ao Humaitá e o Cristo me recebeu de braços abertos. A mistura de saudades foi substituída pelas mil coisas que tenho que fazer por aqui. Recebi as boas vindas de Elzinha:

“O Cristo tem variado de cor em comemoração ao Mês da Mulher e ao aniversário da Cidade. Há noites em que abro a janela e ele se encontra azul claro como a acompanhar o entardecer. Em outras, ele está vermelho como o sol de um final de tarde. Adicionam, assim, um "quê" a mais de beleza naquilo que já é tão belo. Pat, abra sua janela do Humaitá e você vai ouvir os pássaros cantando alegres pela sua chegada e, quem sabe, perceber que o Cristo se enfeita para festejá-la, também.”

Já encontrei a família. Já falei com muitos amigos pelo telefone. Aguardo ansiosa o momento de me encontrar com Bia e Lúcia, interlocutoras fiéis de minhas histórias. Fico pensando o que aconteceu com Alzira ... Sinto falta de suas visitas ...

Debruçado em minha janela, o Cristo me observa, como sempre, descuidadamente atento.

Fico pensando nas muitas noites passadas aqui no Humaitá. Aqui na cápsula, codinome de meu apartamentinho. Noites de insônia por tantas preocupações. Noites de muito trabalho: orçamentos, planos de aula, palestras a serem preparadas, muito estudo para o MBA. Noites de muitas conversas com Márcia, amiga querida com quem dividi o apartamento por tantos anos. Noites de solitude. Foi aqui na cápsula que escrevi alguns de meus últimos poemas. Aqui estão dois deles que têm a ver com o Humaitá e com um estado de espírito que se perdeu por aí, entre as árvores e a neblina da Cordilheira do Ávila:

JANELA DO HUMAITÁ
(Dez. 2003)

estrelas são migalhas da noite
com elas alimento meus sonhos
faminta que estou

a lua
é prato cheio

UM POEMA FEITO PARA MINHA AMIGA MARCIA CONTANDO A ELA COMO TENHO ANDADO
(Humaitá -01/08/2006)


um poema qualquer
feito à navalha
na linha do tempo
um resto de vento
o sopro do mar

na saudade de todos os dias
os dias são soltos
saltimbancos e rotos

mergulho em mar e desalinho
na linha do horizonte a linha do tempo
há linha no tempo
alinha seu tempo
que um traço é lampejo
em meu verso revejo gaivotas do Tejo
me atrevo
arremesso
remexo gavetas
dispersas no ar

quem fui se foi em tudo que disse
quem sou é silêncio e abismo
um salto no espelho
contra-face de mim
o contra ponto
o contra canto
a contra regra a ser seguida

o meu verso é uma eterna tristeza
que de tão presente
me faz sorrir de repente
me apressa e represa
não me deixa vazar

Quando fui para a Venezuela, prometi a Marcinha que escreveria uma peça de teatro chamada A Cápsula. Contaria nossas aventuras e desventuras, mas seria uma comédia. Tentei sem sucesso. Talvez porque me falte em Caracas este Cristo descuidado e atento debruçado em minha janela.

Ao longe, muy lejos, o Ávila me espera e me espreita com a paciência das pedras.

(in à vista del ávila)


3 comentários:

Alzira Willcox disse...

Tenho visitado o seu blog e, como sempre, me deliciado com os posts. Mas andei meio desanimada no geral... Estou melhorando e ler a sua poesia me ajuda sempre.
Bem-vinda à terrinha!
Bjs

monica disse...

Oi Patricia,

E da janela vês o Corcovado, que lindo!

Bjs,
Mônica

Lúcia disse...

Olá Patrícia,

Que delícia conhecer você pessoalmente! Suas histórias me traziam muito de você, mas faltava o olhar, o sorriso, o abraço, a voz!
Foi uma noite divertida, não foi? Voltei para casa com as novidades que você nos contou e lendo seus textos para marido e filhos.
Um prazer enorme sentar ao seu lado, ouvir suas aventuras rir com você.
Beijo carinhoso,

Lúcia