Tentei me desfazer do intruso. Afinal, não pode haver mais espaço para silêncios em pleno século XXI. Mas ele insistia.Um poema à flor da pele.
Fui até o meu mágico balcón. Tentava distrair-me. Tentava despistar o poema. Quem sabe não desistia. Nada. Continuava presente com sua impotente indignação. Ao longe, o Ávila me observava. Parecia se divertir com a minha inútil batalha para me livrar do poema. O monte me sorriu solidário. Trocamos olhares e silêncios. Nunca havia me sentido tão criolla, tão parte desta terra.
E o poema me venceu e saiu boca a fora, sussurrado no ar, bem a frente da montanha.
PRISMA
Pois que se cumpram todas as sentenças
Pois que se fechem todas as cabalas
Nas mãos abertas
o destino é rasgado à faca
Faça-se, então, o que se tem que fazer
(o que se há de fazer?)
Aceito a estrada
como quem tem o mapa
(mas tudo é descaminho)
Pois que se percam todas as certezas
Pois que se abram todos os atalhos
Se há de ser tristeza
que eu a reinvente
Que a vida viva
me sirva de mortalha
Eu tenho a arte de estar sempre atenta
Tiram-me a palavra
E eu não me calo
Nota: Foto by Eulália Fernandes. É incrivel que mesmo nos dias mais escuros, o sol insista em aparecer. É incrivel como uma foto, mais que mil palavras, possa expressar tão bem a eloquencia do silêncio.
(in à vista del ávila)
4 comentários:
Querida:
Seu poema e a foto de Eulália se complementam de forma exemplar. Fiquei tocada com os dois.
Bjs agradecidos pelo lindo momento.
Tão verdadeiro, tão absolutamente tocante o poema.
O poema e a foto traduziram perfeitamente o jeito como amanheci hoje. Interessante. Há muitas coisas que não têm uma explicação lógica.
Valeu, Patrícia. Lindo!
Oi Patricia,
maravilhei.
Bjs,
Mônica
Querida,
Espero que os poemas surjam com mais frequência... são tão lindos quanto os textos... faceta perceptível de um silêncio que gosto tanto de rever, reler, vislumbrar...
beijos carinhosos!
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