Se não tomamos a autopista, que está sempre engarrafada pela manhã, o percurso não leva mais que vinte minutos. Vamos conversando e sintonizados a 99.1 (Frecuencia Mágica) que, neste horário, apresenta um programa novo e delicioso chamado Contra Reloj. Nele, duas jornalistas (Diana Carolina Ruiz e Sheina Chang - um dia escrevo sobre esta última) comentam notícias e conversam sobre os mais variados assuntos. Estão sempre conectadas com seu público e recebem e comentam mensagens de texto, correos eletrónicos e telefonemas. É um grande bate papo a que me incluo como atenta ouvinte.
E, nesta manhã bem azulzinha, enquanto voltava para casa, tendo a meu lado esquerdo o Ávila e umas núvens bem brancas que faziam o céu ficar mais azul, as jornalistas começaram a falar de refranes venezolanos (ditos populares da terra). Riam, brincavam, iam se lembrando de falas de suas abuelas, o público contribuía: A caballo regalado no se le miran los colmillos. Seria miran ou miden? E riam novamente e foi aí que eu me lembrei do primeiro refrán que ouvi por aqui e a esta lembrança foram se somando outras.
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!Cachicamo no trabaja pa lapa! me disse uma vez Señora Paulina, minha massagista, enquanto exaltada explicava que não ia trabalhar pelos outros, afinal o cachicamo (acho que tatu para nós) não vai fazer buraco para servir de moradia para a lapa, uma espécie de paca daqui.
Adorei o dito e tentei usá-lo várias vezes, mas sem sucesso. Afinal, para quem, em plena Venezuela, eu iria dizer !Cachicamo no trabaja pa lapa! Se fosse em outros tempos, eu saberia perfeitamente como, quando e para quem proferí-lo e até em que entonação, mas aqui, só mesmo para Silvio e não acredito que fizesse muito efeito. Em questões de casa, ele é uma lapa bem espertinha.
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!Hacer borrón y cuenta nueva! Foi assim que reagiu um dia, Claudia, depois de eu conseguir ser absolutamente consistente em meus erros com verbos em espanhol. Hacer borrón y cuenta nueva ... Passar uma borracha. Começar de novo. Esquecer o que passou de difícil e complicado. Tentar de novo e buscar novos resultados. Me apaixonei pelo dito. Já o usei uma ou duas vezes falando com venezuelanos e confesso que causa efeito. Me dá um certo status de nativa.
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Gosto também de !Tocar la puerta no es entrar! É verdade, há que se fazer maaais esforço. E é neste dito em que penso todas as vezes em que caminho na redoma de Valle Arriba tentando perder os quilos que foram achados entre os mais deliciosos pães e doces desta terra.
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Há um outro que tenho ouvido com muita frequência nos últimos tempos: !A mal tiempo, cara buena! Isto é, se a situação está difícil, há que se ter humor e reagir com esperança e alegria. Este, particularmente, me emociona em uma época de tantos desencontros. E me remete a um outro que aprendi por acaso, perambulando pela Internet: Cuando el río suena es porque piedras trae. Em um rumor, há sempre algo de verdade... Não é verdade?
Sim, responderia o diabo, que Más sabe el diablo por viejo que por diablo. Assim se diz das pessoas mais velhas e experientes. Pessoas que já viram muitos filmes e sabem os clichês das histórias e da História.
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E por aqui vou terminando que Hasta aqui nos trajo el río, daqui pra frente, quem sabe?
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Me despeço imitando as crianças que ao final da história gritam e alardeiam: !!!!Colorín, Colorado, el cuento se ha acabado!!!!
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(in à vista del ávila)
2 comentários:
Pat,quando o assunto são ditos populares, "estar como pez en agua" é o mais indicado para ti.
Besitos
Tenho fascinação pelos ditos populares.
Minha mãe sempre tinha um apropriado a cada situação.
E, na verdade, só podemos afirmar que dominamos uma língua, quando mergulhamos na cultura do povo falante.Bom demais.
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