quinta-feira, 13 de agosto de 2009

REFRANES VENEZOLANOS

O dia amanheceu azulzinho e assim se iniciou nossa rotina diária. Como levo Silvio ao trabalho, tudo começa muito cedo para nós dois. Acordar, banho, café da manhã, tudo ao som de Primeras Páginas, um programa informativo da Globovisión. E aí é só sair e, via caminos verdes, ir direto à Torre Plaza onde Silvio trabalha.
Se não tomamos a autopista, que está sempre engarrafada pela manhã, o percurso não leva mais que vinte minutos. Vamos conversando e sintonizados a 99.1 (Frecuencia Mágica) que, neste horário, apresenta um programa novo e delicioso chamado Contra Reloj. Nele, duas jornalistas (Diana Carolina Ruiz e Sheina Chang - um dia escrevo sobre esta última) comentam notícias e conversam sobre os mais variados assuntos. Estão sempre conectadas com seu público e recebem e comentam mensagens de texto, correos eletrónicos e telefonemas. É um grande bate papo a que me incluo como atenta ouvinte.
E, nesta manhã bem azulzinha, enquanto voltava para casa, tendo a meu lado esquerdo o Ávila e umas núvens bem brancas que faziam o céu ficar mais azul, as jornalistas começaram a falar de refranes venezolanos (ditos populares da terra). Riam, brincavam, iam se lembrando de falas de suas abuelas, o público contribuía: A caballo regalado no se le miran los colmillos. Seria miran ou miden? E riam novamente e foi aí que eu me lembrei do primeiro refrán que ouvi por aqui e a esta lembrança foram se somando outras.
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!Cachicamo no trabaja pa lapa! me disse uma vez Señora Paulina, minha massagista, enquanto exaltada explicava que não ia trabalhar pelos outros, afinal o cachicamo (acho que tatu para nós) não vai fazer buraco para servir de moradia para a lapa, uma espécie de paca daqui.
Adorei o dito e tentei usá-lo várias vezes, mas sem sucesso. Afinal, para quem, em plena Venezuela, eu iria dizer !Cachicamo no trabaja pa lapa! Se fosse em outros tempos, eu saberia perfeitamente como, quando e para quem proferí-lo e até em que entonação, mas aqui, só mesmo para Silvio e não acredito que fizesse muito efeito. Em questões de casa, ele é uma lapa bem espertinha.
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!Hacer borrón y cuenta nueva! Foi assim que reagiu um dia, Claudia, depois de eu conseguir ser absolutamente consistente em meus erros com verbos em espanhol. Hacer borrón y cuenta nueva ... Passar uma borracha. Começar de novo. Esquecer o que passou de difícil e complicado. Tentar de novo e buscar novos resultados. Me apaixonei pelo dito. Já o usei uma ou duas vezes falando com venezuelanos e confesso que causa efeito. Me dá um certo status de nativa.
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Gosto também de !Tocar la puerta no es entrar! É verdade, há que se fazer maaais esforço. E é neste dito em que penso todas as vezes em que caminho na redoma de Valle Arriba tentando perder os quilos que foram achados entre os mais deliciosos pães e doces desta terra.
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Há um outro que tenho ouvido com muita frequência nos últimos tempos: !A mal tiempo, cara buena! Isto é, se a situação está difícil, há que se ter humor e reagir com esperança e alegria. Este, particularmente, me emociona em uma época de tantos desencontros. E me remete a um outro que aprendi por acaso, perambulando pela Internet: Cuando el río suena es porque piedras trae. Em um rumor, há sempre algo de verdade... Não é verdade?
Sim, responderia o diabo, que Más sabe el diablo por viejo que por diablo. Assim se diz das pessoas mais velhas e experientes. Pessoas que já viram muitos filmes e sabem os clichês das histórias e da História.
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E por aqui vou terminando que Hasta aqui nos trajo el río, daqui pra frente, quem sabe?
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Me despeço imitando as crianças que ao final da história gritam e alardeiam: !!!!Colorín, Colorado, el cuento se ha acabado!!!!
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(in à vista del ávila)

2 comentários:

Unknown disse...

Pat,quando o assunto são ditos populares, "estar como pez en agua" é o mais indicado para ti.

Besitos

Alzira Willcox disse...

Tenho fascinação pelos ditos populares.
Minha mãe sempre tinha um apropriado a cada situação.
E, na verdade, só podemos afirmar que dominamos uma língua, quando mergulhamos na cultura do povo falante.Bom demais.