sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O QUE SERÁ QUE ELES TÊM?


Em uma dessas noites em que o sono veio, mas depois sumiu. Numa hora torta como costumo chamar, liguei a televisão e peguei por acaso a reprise de uma entrevista com um filósofo rabino de quem não guardei o nome, pois essas minhas súbitas insônias me provocam eventuais amnésias.

Mas nada disso tem verdadeiramente importância. O que valeu mesmo foi que a certa altura da entrevista, quando perguntado sobre a crise mundial e sobre as mazelas humanas, o filósofo rabino, do alto de seus mil anos e por de trás de suas brancas barbas deu um sorrisinho maroto e me segredou: Há que se ser otimista.

Pensei que tivesse caído no sono e estivesse sonhando, porque alguém, não só filósofo como também rabino, falando de otimismo me pareceu ficção.

O programa terminou e eu fiquei remoendo...De onde se pode tirar otimismo neste inicio de século, em meio ao mundo com suas mazelas e crises?


Márcia veio jantar com a gente ontem. Quando tocou a campainha, Marie correu pressurosa em direção à porta,  saltitante e latindo. (Ela salta quando late). Porta aberta e saudações de ambas as partes. Latidos entrecortados por habituais comentários: Como você está minha pequenininha? Tenho medo de te pisar! Você está lindinha!

Fomos, as três, eu, Márcia e Marie em direção à sala. Marcinha se jogou na poltrona, exaurida e encalorada, e fechou a série de cumprimentos: Vem cá, pequenininha. Você quer carinho?

E, então, olhou para mim e sentenciou: Uma coisinha assim enche a casa, né?

Enquanto a cena acontecia, Carol chegou na sala também e ficamos todas ali, rindo muito. Tudo uma grande brincadeira. Um recreio. Descompromisso.

Uma coisinha pequenininha, como diz Márcia. Não chega a ter dois palmos de corpo e não pesa mais que um quilo e meio. E, a sua volta, a festa se faz. Sempre.

O que será que esses bichinhos têm? Que nos fazem sorrir. Que nos fazem esquecer. Que nos fazem falar com voz de criança. E ser criança... E criançar.

O que será que eles têm?


Marie não é minha, é de Celina e Carol, mas tem ficado aqui em casa numa espécie de guarda compartilhada. 

Divide comigo os meus dias. Me exige carinhos e colinho. Além de comidinha na boca. (Acho que a estou mimando demais!). 

Mas quando ela deita num canto e me olha com seus olhinhos de bola de gude, redondos e bem pretos, e fica assim por um tempo, quietinha, me olhando, a vida fica mais leve. Ah, isso fica. E dá até pra se ter um certo otimismo.

Cachorrinhos deveriam ser vendidos em drágeas, como antidepressivos contra as mazelas do mundo. E, como medicamentos de última geração, teriam uma grande vantagem... Ao invés da tarja preta, trariam uma coleira de strass.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

Um comentário:

Eulalia disse...

Texto lindo... mas o último parágrafo é monumental!!!

E... por conhecer Marie... endosso cada vírgula!