sexta-feira, 4 de outubro de 2013

EM QUE POSSO TE AJUDAR?



Tenho que confessar. Às vezes sinto muita peninha de Deus. Sim. Desse Deus de catecismo. Deus com letra maiúscula.

Imagino Sua onipresente solidão. Imensurável.  Deus deve se sentir muito sozinho! Dessa solidão que dói. Solidão daquelas que se sente em certas festas, quando, à sua volta, todo mundo se diverte e você lá, em sua redoma de vidro. E, quando vêm falar com você, as palavras soam longe... Têm eco. Solidão de não encontrar Sua turma. De não encontrar parceria.

Em Sua infinita onisciência, Deus deve saber que fez a tudo e a todos em seis dias só para bater Sua meta. Devia ter negociado, pelo menos, mais um pouco. Certamente, teria atingido melhores resultados. Deus devia ter jogado o domingo no banco de horas, só para ter mais um tempinho. Devia ter negociado... Mas com quem? 

Penso nesse Deus onipotente. Como não deve se sentir frágil?  De mãos atadas, diante de tanto desacerto e ignomínia. Quantas vezes não deve se prostrar em Sua disfarçada e dolorosa onimpotência.

Tenho peninha de Deus.

Deus nunca teve o aconchego de um colinho de mãe e, muito menos, ouviu histórias de avó. Deus nunca se apaixonou!

Pra quem será que Deus reza quando sente aquela angústia forte no peito? Quando tem medo? Quando não vê saída? Será que Deus é ateu?

Deus não teve para quem apelar, quando Seu filho pediu por socorro. Não teve a sorte de Abraão que, na hora H, quando ia apunhalar seu rebento, teve Deus para desviar sua mão. Nada disso. Nenhum ser supremo afastou o cálice de Seu menino. Acho que Deus é ateu.

Tenho, sim, peninha de Deus.

Deus nunca teve recreio. Nunca andou de bicicleta. Nunca ficou de mal com um amigo. Deus nunca comeu jujuba!

Imagino que Deus, em noites de céu minguante, noites de escuridão, deva chorar baixinho. Choro que não deixa rastros, só um tantinho de orvalho espargido nas manhãs.

Deus deve fazer muito esforço para ser mal, injusto, ambicioso, egoísta, perverso, interesseiro e sovina, para manter viva a crença de que somos feitos a Sua imagem e semelhança. Criador imitando a criatura!

E toda a Sua crise de identidade? Ele com tantos nomes! Ele que não pode ser nomeado! Ele difuso e monolítico. Uno e sem direito a mitologias... Deus lá... Sozinho... Sem direito a terapia.

É por isso que às vezes, em tardes de céu azul, mas com aquelas nuvens bem brancas e gorduchas, eu olho lá para cima e fico só na espreita. De vez em quando, vejo um pedaço de Sua barba, um cacho de Seu cabelo, um pouco de Seu perfil. Vejo um mindinho ou a alça de Sua sandália...

Aí eu pergunto assim, sem pudor: Ei, Senhor. Pode me ouvir? Eu aqui, nesse cantinho de terra juntinho ao mar. Pode me ouvir? Em que posso Te ajudar?

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

5 comentários:

monica disse...

Uau!Tomara que ele já tenha lido. Deve estar bem contente.
Bjs

O Sili disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Sili disse...

Que maravilha, Pat! Deus te agradece.

O Sili disse...

De acordo com esta página, Deus não está tão sozinho assim: http://www.umsabadoqualquer.com

Eulalia disse...

Lindo texto!

Me fez lembrar Alberto Caeiro, trazendo deus-menino para viver com o poeta!...