sexta-feira, 14 de junho de 2013

O RIO É PARA INICIADOS

 
 
 
O Rio é para iniciados... A frase não é minha e sim de um turista americano, dita enquanto era entrevistado para um jornal de TV. O tema era a violência sofrida por um motorista que havia saído do Aeroporto Internacional do Galeão.
 
O turista americano alugava um carro e, quase sem sotaque, dizia que podia sair do aeroporto sem problemas, pois havia vivido aqui por muito tempo e repetiu... O Rio é para iniciados.
 
Foi então que me imaginei na posição de uma gringa, chegando ao aeroporto internacional e tentando me movimentar pelo Rio, como quem "navega" por cidades europeias.
 
Ontem, depois da aula de francês na Gávea, decidi pegar o Metrô na Superfície para voltar para Botafogo.
 
Por sorte, a placa indicando o transporte ficava bem na esquina da rua de minha professora, mas era uma placa de ida para a PUC, será que o ônibus de volta passava por ali também? Resolvi perguntar ao guarda municipal que orientava o trânsito e, em claro e bom português, arrisquei: O Metrô na Superfície passa por aqui voltando para Botafogo?... Sei não senhora, que hoje é meu primeiro dia neste ponto. Meditei: Não teria feito diferença se eu tivesse perguntado em inglês. Ele não sabia mesmo.
 
Fui, então, ao lugar mais bem informado de qualquer região do Rio: Uma banca de jornal. Daquelas que vende até apartamento na planta. Refiz a pergunta e, desta vez, tive uma explanação detalhada. Não passa não, mas a senhora pode pegar ele aqui e ir até a PUC que é pertinho e depois volta para Botafogo. Meditei: Acho que naquela banca se eu falasse em chinês, eles respondiam.
 
(YES! Pensaria uma gringa com tão preciosa informação.)
 
Atravessei a rua, mas aí surgiu uma dúvida. A placa do Metrô na Superfície estava presa a um poste. Ela, lá, solita. E, a uns vinte metros à esquerda, havia um ponto de ônibus com uma enorme fila. Ou seriam algumas enormes filas que se entrelaçavam?
 
Afinal, onde eu deveria esperar meu ônibus? Debaixo da placa ou na muvuca do ponto?
 
Fui perguntar a uma senhora que parecia a última da fila. Se eu fosse gringa ia precisar de muita mímica, pois ela não me pareceu falar inglês. Mas ela tinha a informação. Lá, na placa, perto daquele homi barbudo.
 
Fui em direção à placa novamente e o homi barbudo me confirmou a localização. Já deve estar chegando. Aí a gente vai até a PUC, são duas quadras daqui, e depois a gente segue para Botafogo. Meditei: Para uma gringa, teria sido difícil, mas... Mas eu não sou gringa, então... Yes!
 


O ônibus chegou logo, mas as duas quadras até a PUC foram feitas em quase meia hora. Essa hora é pesado o trânsito. É hora da volta pra casa. Me explicou o homi barbudo.
 
O trânsito estava tão ruim que, na altura do Planetário, o pessoal começou a pedir para o motorista abrir a porta para que eles saltassem. Pelo visto, todos eram alunos com prova na primeira aula. Todos saíram, e o homi barbudo checou se a gente devia descer para pegar outro ônibus. A trocadora disse que a gente podia ficar. Meditei: E se eu fosse uma gringa e todos descessem? Acho que eu desceria também. Desceria para ficar perdida em frente ao Planetário. No caos de ônibus e carros e alunos.
 
Mas tudo correu bem e, afinal eu não sou gringa. Chegamos ao ponto final, uma fila enorme adentrou o ônibus e saímos rumo a Botafogo.
 
Trânsito lento. Muito lento. Leeeennnttttooo.
 
Não levou nem dez minutos e percebi que já era de noite e ouvi um PÁ!!!! Seco. O homi barbudo me disse: Bateu! A sua constatação foi seguida pela informação da trocadora. O ônibus bateu. Todo mundo tem que descer. O próximo ônibus vai pegar vocês. Meditei: Se eu fosse gringa teria entendido a seguinte mensagem: LFKGlwei ufghWKEJF BWIUY GHsd.kjbc. skufWKEJFK DGK.
 
Descemos e logo um outro ônibus chegou. Malandra, corri para pegar um lugar lá no fundo e foi aí que ouvi... Siqueira Campos. Logo entendi que o ônibus estava indo para a estação do Metrô da Siqueira Campos em Copacabana. De lá, eu teria de pegar o Metrô subterrâneo para Botafogo. Meditei: Se eu fosse gringa... Teria pena de mim.
 
O ônibus foi seguindo lentamente. Asssiiiimmmm.... Beeemmm lleeentaaameenttteeeeeeeee.
 
Depois de literalmente uma hora e meia, vi o mar. E aí foi mais uma hora e meia até a estação Siqueira Campos. Tinha havido um mega acidente em algum lugar, o que fez com que o trânsito da Zona Sul virasse uma zona.
 
Quando entramos na Figueiredo Magalhães, a senhorinha ao meu lado desabafou: E eu ainda vou para a Pavuna... Meditei: Se eu fosse gringa, seria bom. Não teria entendido o desabafo e não teria sentido a pena que eu senti de todos os muitos milhares de cariocas que passam um tanto da vida espremidos em transportes públicos.
 
Faltavam apenas umas duas quadras e o motorista se rendeu à lentidão e abriu a porta e deixou que as pessoas fossem a pé para o Metrô. Certamente a pé era mais rápido.
 
Cheguei à estação ainda acompanhada pelo homi barbudo. Num mar de gente, tentei me encontrar no tumulto das placas e pegar o trem na direção certa. Pedi informação a umas duas pessoas. Aqui é mesmo a plataforma para Botafogo? Meditei: Se eu fosse gringa... Ah, se eu fosse gringa, eu pegava qualquer trem, só para sair dali. 
 
O homi barbudo se separou de mim, pois tinha vencido o tempo de seu bilhete de integração.
 
Finalmente consegui me atirar no vagão e aí foi festa. Uma estação e Botafogo e uma pequena caminhada e minha casa.
 
Cheguei em casa e meditei: Ô, meu Cristinho. Você que tem braços e olhos para todas as partes desta cidade, olha por nós. Olha pelos gringos todos que vão estar na cidade e não deixa de ter um olhar muito especial para aquela senhorinha lá da Pavuna. Ela merece.
 
 
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

Um comentário:

Eulalia disse...

Lindo. Lindo! Lindo...

Adoro suas linhas, adoro suas entrelinhas, adoro suas preces. Sempre!

beijos!