sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

UMA FOTO DA FAMILIA

 
O motorista do taxi não resistiu. Depois de uma semana de chuva, olhou para o Aterro todo azulado e sentenciou... A senhora sabe, eu não conheço outros países, mas acho que não tem cidade no mundo mais bonita que o Rio de Janeiro.
 
Fazer declaração de amor ao Rio em pleno Aterro do Flamengo é mesmo covardia. Olhei pela janela do carro e só pude concordar.
 
Depois caímos naquele papo de sempre de que a cidade devia ser mais bem cuidada, que esperávamos que os eventos internacionais ajudassem a melhorar as coisas, que as chuvas são sempre um problemão e blábláblá...
 
Cheguei em casa e fui garimpar um mote para o texto dessa semana e, por acaso, esbarrei nessa foto tirada há algum tempo. Lá de cima. Lá do Parque da Cidade em Niterói.
 
Quando eu era menina, minha tia Babá costumava dizer, olhando para o sol se pondo na Praia de Icaraí... Isso parece uma foto de família... E explicava, dessas fotos que a gente tira em dia de aniversário ou Natal, dos avós aos netos, passando por primos e agregados, todos juntinhos para serem bem enquadrados e para que o momento e a família fiquem guardados para sempre em álbuns e na memória.
 
Olhei para a foto encontrada ao acaso e lembrei de titia... Era isso mesmo. Uma foto de família. Montanhas e mar se espremendo para que ninguém ficasse de fora. O relevo do Rio é mesmo tribal. Só tenho uma dúvida: E o que são os morros de Niterói nessa foto? Agregados? Ou daqueles parentes distantes que só se vê em batizado e funeral? Que nada, todos estão atados à volta da baia de Guanabara em uma infinita ciranda. Como em toda família, há sempre os que se deram melhor na vida, tipo Corcovado ou Pão de Açúcar, mas não dá para perceber nem um tantinho de inveja nos outros picos e cumes.
 
Quantas vezes desejei olhar para esta paisagem com olhos de turista e me surpreender e me encantar com o olhar inocente da primeira vez... Mas não funciona. Faço parte da vista e ela faz parte de mim. Para cada canto, recanto e montanha que olho me vem uma recordação de infância, uma imagem já amarelada pela vida. A voz de meu pai e seu dedo em riste me apontando as ilhas e cumes. Minha mãe me contando histórias da História, das invasões dos franceses ao baile da ilha Fiscal. Passeios de fim de tarde com os primos para ver o povo saltando de asa delta lá de cima e tudo sempre emoldurado pela vista desta terra que teima em ser maravilhosa.
 
Olho para a foto novamente e fico imaginando o quanto de buchicho não deve rolar entre praias e montanhas quando os turistas estão distraídos. Elas ali, bem juntinhas, deve rolar um bocado de fofoca do tipo o Dois Irmãos segredando pra Ipanema... Não topo muito a Pedra da Gávea com o nariz sempre levantado. É por isso que dou as costas pra ela.  
 
Brincadeiras a parte, a foto é mesmo familiar. Já transitei por muita paisagem bonita, mas este cantinho da Terra está mesmo em meu DNA. Mais que uma foto de família, ela é uma foto da família. Da minha família. O cantinho aonde eu chego e me aconchego, que nem um colo de avó.
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

2 comentários:

Eulalia disse...

Que texto lindo! Delicado, completo, fofo, sem reparos!!!
Amei!!!

Celina disse...

sabe que me deu saudade? hoje bateu uma saudade da sua tia Babá, desse canto que a gente conhece tanto, e do aconchego do lar...