A LUA DE QUALQUER LUGAR

Depois de um voo sempre cansativo, com escala em Atlanta e poltrona reclinável de classe econômica, chegamos a Houston. (Silvio conseguiu resolver o problema com o passaporte.). Houston e seu clima abafado de meados de primavera. Houston e sua gente de sorriso fácil e sotaque arrastado. Gente atenciosa, que sorri para você até na imigração.

Chegamos, tomamos banho, descansamos, fizemos os primeiros contatos e, depois de um jantar com pratos gigantescos!!!!!!... (Fico pensando como eles vão resolver o problema de obesidade por aqui, quando até a quantidade estratosférica de salada pode engordar.)... fomos dormir.

Acordei assustada. O dia amanhecendo. Cortina entreaberta. Um certo jet lag. E ...  a Lua. Certamente havia velado o meu sono. Me cuidado como fada ou mãe ou madrinha. Cuidava de mim e me observava.

Tentei voltar a dormir, mas o sono não vinha. Fiquei ali deitada pensando na vida. Nas coisas que fiz e deixei de fazer. Em meus sonhos que ficaram pelo caminho. Nos desejos que, muitas vezes por preguiça, deixei largados por aí, pelos anos.

Não estava nem alegre nem triste. Só estava ali, naquele quarto de hotel. Sem sono. A mercê da lua. E pensando na vida.

Se a gente pudesse passar a vida a limpo, que trechos de meu texto vivido eu reescreveria? Que partes eu iria iluminar com pincel cor de ouro? E que palavras, expressões, comentários, eu simplesmente riscaria por completo?

O dia foi chegando com suas promessas e afazeres. Com esta mescla de inglês e espanhol que cada vez mais se fala no país. Com cheiro de chilli e muito pólen no ar.

O dia chegou e levou para longe a lua e meus pensamentos. 

A gente não pode passar a vida a limpo... mas pode, de vez em quando, olhar para o céu. Ou simplesmente inventá-lo, como em um jogo, como um cenário... Ou como o teto de restaurante temático.

Em  um azul possível, pendurar estrelas, cometas e a lua... Cheia... Esta lua que nos encanta e nos aplaca em qualquer lugar.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)