sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ÁVILA,2011


A mudança saiu de nossa casa em Caracas no dia 3 de setembro de 2010 e chegou ao Rio de Janeiro em 28 de setembro de ... 2011. Depois de ficar estocado por engano por mais de três meses em algum lugar de La Guaira, o container caiu na burocracia medieval da América Latina. Imaginem, passar por portos e greves  na Venezuela e no Brasil. Passar por alfândegas nos dois países. Ser revistado à procura de drogas em território bolivariano e em terras tupiniquins. Até entendo porque demorou tanto. Mas demorou muuuiiiito.

Desde janeiro esperava as coisas para decidir como, finalmente, ficaria a casa. E também havia o medo de tudo chegar rasgado e quebrado e mofado... Podia até não chegar. E se não chegasse, o que mais me faria falta era o quadro que ganhei de Andrea naquela tarde em Caracas.

Foi logo ele, o segundo pacote que os homens da mudança trouxeram para mim. Como estaria? E fomos desembrunhando os dias, os meses. Fomos desatando os nós da espera até que, de repente, como se de novo pudesse respirar, o amanhecer na Cordilheira da Costa ressurgiu. Se espreguiçou espantando a modorra caribenha e me sorriu. Quantas vezes a montanha me sorriu entre rosas e vermelhos. Explodindo em dia.

Na varanda, as caixas iam sendo empilhadas e não pude deixar de sentir um certo ciúme de uma outra montanha que agora me olhava à distância. As montanhas são muito ciumentas!



Mas hoje era dia especial. Dia de matar a saudade de um velho e querido amigo. Meu cúmplice. Meu mestre. Meu companheiro de descobertas, surpresas e alegrias. Muitas alegrias.

No final, fui eu mesma que terminei de abrir o pacote e pari a montanha com as próprias mãos. Seja bem vinda amiga. Nos abraçamos com carinho silencioso e, como em um rito de passagem, a entronizei na parede. E...

O Ávila é montanha mágica. Numa fração de segundo o que era traço e tinta se fez paisagem.

Estou aqui, Patricia. Com você. Aliás, você se lembra? Eu tinha dito que sempre estaria a seu lado. Cúmplice. Mão amiga feita de vento e vegetação. Estou aqui.



Seja bem vinda minha montanha, sempre mágica. Te acolho e me acolhes em um abraço infinito. Me apoie e me dê força. E me traga muitas alegrias, como só você sabe fazer.

Seja bem vinda minha amiga, com o seu sorriso largo como um eterno amanhecer.


Nota: Como contraponto e complementação, sugiro a leitura de uma postagem chamada O ÚLTIMO TEXTO de setembro de 2010.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

Celina disse...

Prima querida,
finalmente, a mudança! E devo dizer que parede vermelha estava esperando pelo Sr Avila. Os dois foram feitos um para o outro, assim como sua varanda e o Pão de Açúcar. Tenho certeza que embora ciumentas, as duas montanhas vão se dar muito bem. Bjs

Eulalia disse...

Querida!
Que lindo texto. Quantas vezes acordei às 5 horas para ver o Ávila amanhecer de sua varanda! Bom ve-lo em sua sala, tão homenageado quanto merece pelo seu coração!
beijos!

Andréia disse...

Patricia,
Que texto tao lindo!!! Fiquei emocionada... Obrigada. Beijos. Saudades.

pblower disse...

Andreia, o texto é meu, mas o quadro é de sua autoria. muitas beijocas, pat