sexta-feira, 21 de outubro de 2011

TESOUROS


Quem me conhece há algum tempo conheceu ou já ouviu falar de Tia Babá. Ela é essa aí da foto, vestida de noiva, acompanhada por mim, sua fiel escudeira.

Tia Babá foi a tia que, acho, todos gostariam de ter. Com ela, aprendi tanta coisa!!! Foi com ela que comecei a ler Shakespeare, mas Shakespeare sem o ranço cansado de Shakespeare. O bardo sem academias. Um Shakespeare que me trazia aventura, emoção, temor, paixão. Começamos em português, e depois... Era o texto original, a fala, a poesia, o ritmo e a arte. Foi Tia Babá que me ensinou as nuances, os silêncios. E não foi só Shakespeare, foram tantos outros. Viveu cercada de livros e receitas e idéias.

Tia Babá... Era geminiana.

Dividiu com mamãe as manhãs de minha infância. Minha e de Celina (Minha prima/irmã, filha dela.). Celina e eu, hoje em dia, muitas vezes nos deliciamos lembrando das conversas das duas. Das idéias. Das invenções. Ambas tinham uma imaginação feérica. Eram capazes de passar horas entre receitas de comidinhas que nunca faziam, livros, recordações... Muitas histórias.

Tia Babá... Foi minha bússola. Foi como bálsamo, tantas vezes para mim.  

Mesmo adulta, eu gravitava em sua órbita mágica. Pura poeira de estrelas.

Tia Babá... Sabia tocar piano. Tico Tico no Fubá, seu grande hit!

Tia Babá... Era poeta também... Tia, por que você não publica os seus versos?... Nada disso. Só venderia meus versos em feiras, como Cordel... Meus poemas são para poucos... E presenteava todos os seus versos para sua Ximã Thereza.

Hoje de manhã, arrumando papéis e livros, encontrei um saco plástico e, nele, ali estavam muitos daqueles presentes. Textos, poemas, hai-cais... E me entreguei ao amarelado das letras... Recortes... Recordações.

Portanto, hoje, o texto não é meu, é dela. Coadjuvante, saio de cena e deixo o palco todinho para ela... Tia Babá... A palavra é sua...

Comecemos por hai-cais:

I-
A brisa marinha,
Soprando, enfuna a tarde.
Re-in-venta o verão. 


II-
A vida semente
Trancada a sete pétalas
Na flor em botão.

III-
Andorinha voando!
Não faz verão e no entanto,
Minhalma se aquece.

IV-
O relógio marca
A angústia da espera: Tic
Taquicardia.

V-
Arqueologia:
O sorriso da infância
Na boca sem dentes.

E, por fim, um poema que eu amo e que a ouvi recitar tantas vezes. Enquanto escrevo, posso ouvir sua voz e a risada que ela dava quando terminava de dizer os seus textos. Ela brincava com sua arte... Mágica artesã.

FENÔMENO CÍCLICO

Há uma lua imensa no céu.
Lua cheia, redonda, com brincos de estrelas.
Está na hora da Festa.
Sem pressa me apronto.
Escolho o vestido.
Retoco a pintura.
Um toque de perfume...
Meus brincos de clips...
Ante o espelho me julgo.
Estou pronta, afinal.
                                      O sapato me aperta.
Juntas,
Eu e a lua,
Cheias,
Enfrentamos a Festa.
Sabemos do Eclipse.

Tia Babá... Era um tesouro. Como aqueles que as crianças guardam debaixo de suas camas... Lata de biscoito, bolinhas de gude e pedras... preciosas.

Tia Babá... Era um tesouro. Uma galáxia/caixinha de jóias e suas pedras/estrelas... Preciosíssimas!

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com) 

7 comentários:

Anônimo disse...

Apaixonante...familis tesouro sem igual. bjks Simone

Fabíola Sobral disse...

Dear Patrícia,

Fiquei absolutamente encantada com o seu texto e com a Tia Babá. Feliz de você por ter ambos!

grande beijo
Fabíola

Ana Paula Gasparini disse...

Que delícia de texto! E que prazer ter Tia Babá!! Adorei ler e poder sentir um pouquinho do perfume da sua infância! Bjs

Anônimo disse...

Pudemos todos quase q sentir o calor de sua querida Tia Babá. Infância afortunada a sua, Pat.
Bjnhs,
Valéria

Celina disse...

Ontem eu li e nem consegui falar nada. Olhos embaçados demais para escrever.

Agora, depois que consegui dominar(?) a emoção, eu preciso confessar que mais sortuda sou eu. Sou filha da "Tia Babá" e sua prima/sua irmã. Isso já é bênção suficiente para uma vida.
Obrigada, primoca...

Alzira Willcox disse...

Seu dom de escrever e fazer poesia tem raízes genéticas.
Lendo o seu delicioso texto, lembrei da minha tia. Não, não a chamava Tia Babá. Era tia Caçula. Uma mulher interessante à frente do seu tempo. Também escrevia poesias. Escrevia histórias infantis. Também não publicou nada. Tive o privilégio de ser sua sobrinha querida. Ela dirigia uma escola, um Grupo Escolar como se chamava, e encenava com os alunos as suas histórias. Acho que foi com ela que aprendi a gostar de dar aulas e trabalhar com educação. Seu texto me propiciou maravilhosa viagem no tempo. Obrigada. Eu também tive uma tia tesouro e você me fez lembrar dela.Bjs

Eulalia disse...

Querida,
Tia Babá, que também conheci, colorida de uma forma tão especial pelo seu texto.
Apaixonante, querida, parabéns!
beijinhos