sexta-feira, 8 de julho de 2011

HERÓIS PÓS-MODERNOS


Como boa brasileira, gosto de futebol. Bem, gosto de um jeito, diríamos, feminino de gostar. Torço para o Brasil na Copa do Mundo e demais eventos em que a seleção jogue, opino sobre as mudanças dos uniformes (cores e modelos), sempre acho que o juiz está contra nós e discordo veementemente quando dizem que Maradona foi o melhor jogador de todos os tempos. Também torço pelo Fluminense, por razões genéticas, mas nunca vejo os jogos do Tricolor, pois acho que dou azar. (Tenho que mudar esta regra... Talvez se eu começar a vê-los, o Fred engrene de vez.) Sei, conceitualmente, o que é um impedimento... Impedimento para mim é como trocar pneu. Eu conheço a teoria, mas, sempre que preciso, peço ajuda ao pessoal do seguro. Impedimento é a mesma coisa... Gritou BANHEIRA!!! E eu logo pergunto a quem estiver mais próximo de mim: Foi mesmo? (E não adianta as parafernálias pirotécnicas da Globo.) Não consigo ver o delito. Sendo assim, juizes e bandeirinhas estão sempre contra nós.

Mas porque iniciar com um parágrafo tão longo, se, afinal, eu nem vou falar de futebol? Quero falar de gente. Em especial, de gente jovem.

Por acaso esbarrei nesta foto da Copa de 1958. 1958... Eu tinha 1 ano incompleto. Já da de 62, eu consigo me lembrar. Uma vaga memória. O som do rádio bem alto. Aquela churumela... A voz aguda do narrador não me dizia nada.  Meus tios e papai ouvindo e torcendo juntos na casa de tia Helena. O narrador e sua frase interminável até chegar ao grito de GOOOOOOOLLLL!!!!

Lembro vagamente de 62.

E veio 66. Lembro da gente em Itacoatiara. Papai ouvindo o radinho e fazendo fogueiras no quintal para afastar os mosquitos. Lembro de sua tristeza quando disseram que Pelé estava machucado. Joe Blower torcendo fervorosamente pelo Brasil. Não houve festa quando a Inglaterra ganhou o título.

E lembro de 70. Nós picando papel para jogar pela janela do décimo andar. Éramos 90 milhões em ação. Lembro da família reunida. Papai vibrando... Os primos... E de nosso grito de GOOOOOLLLL!!!! Muitos!!!!!! (Mas os italianos eram muito mais bonitos. Muito!!!) A Moreira César ferveu! O Brasil explodiu quando ganhamos.

Mas porque esta história toda, se não vou falar de futebol? Quero falar de gente jovem.

Tenho acompanhado as transmissões da Copa América. Venho acompanhando a carreira, os dribles, as pedaladas do Neymar... E cada vez mais penso nele como um garoto de 19 (20?) anos. Um piá, como diriam meus sogros, apresentado como um fenômeno, um herói, o melhor dos melhores. Melhor que Messi. Melhor. O MELHOR!!!!

Acompanho sua arrogância juvenil. Suas entrevistas. Quantas capas e primeiras páginas! Acompanho seu filho que vai nascer (por acaso). Acompanho suas birras com treinadores, quando o resultado vale mais que o processo, o puxão de orelha, e é melhor demitir o treinador a perder o gol feito e a vitória marquetiada.

Neymar fazendo moda... Cabelo de indio (Moicano?) Neymar... Vejo seus dribles. Vejo seu jogo de cintura. Me encanto e me entristeço.

Olho novamente a foto que encontrei por acaso. O menino Pelé, do alto de sua juventude e caçulice, se aconchega no colo de Gilmar. E chora... chora seu choro de menino... Já era Rei (sem saber). Herói, com seu soco seco no ar. O cabelo... Era o da moda... Reco (como se dizia). Não precisava criar modas. Precisava fazer seu oficio... O de encantar multidões. Chorou. Se deu o direito de chorar... Porque podia. Porque era o caçula... Tinha colo. Não precisava ser o superherói das multidões, porque era o herói de todos que chutaram com ele e choraram com ele ao levantarem a Taça. (A Taça do Mundo é nossa... Com brasileiro... Não há quem possa. Ê Êta esquadrão de ouro...)

Tenho pena do menino Neymar. Com seu cabelo Moicano, seus dribles e sua arrogância infantil. (Sabe amigo... Por mais que sejamos bons... Nem sempre podemos flutuar... A não ser quando nos entregamos às nossas incertezas e sonhos. Os superheróis voam, mas não flutuam. E ser feliz... É poder viajar em tapetes mágicos tecidos com nossas expectativas e com paciência e humildade. Quando achamos que somos os maiores... Ficamos muito pequenos. Muito! Sabe amigo... Sou de um tempo antigo... Lá pelos idos de 57, vésperas do primeiro campeonato... Acho que você vai precisar de colo, mas colo verdadeiro, e o triste é que do alto de sua arrogância de menino mimado, talvez ninguém esteja disposto a te aconchegar. Vão querer sua foto, seu esforço, seu menisco, sua dor e mais, e mais, e mais... O mundo ficou assim.)

Fico pensando como seria se Pelé tivesse nascido agora. Como seria? Poderia ser Rei? Ou seria só mais um de tantos superheróis?

Ah, esqueci de dizer... Como boa brasileira, gosto de futebol. E adoro ver a Seleção Brasileira Feminina jogar! Salve todas as Martas, com sua alegria, seu esforço, sua simplicidade e seu talento (imenso talento)... tapete mágico que, este sim, nos faz flutuar!

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

3 comentários:

Eulalia disse...

Que texto incrível! Chorei de emoção, não pelo texto, mas pelo encantamento que senti pela alma que o escreveu.
Vi você mocinha mocinha, aluna, semente da Patrícia que li hoje!
Parabéns, querida, por você!

Alzira Willcox disse...

fuTexto nostálgico. Lembrei-me das copas a que assisti. Tantas! Tanta vibração!Tanto tempo atrás!
Mas perfeita mesmo é a sua análise sobre o menino Neymar, síntese de alguns outros meninos talentosos que surgiram no nosso futebol e que foram engolidos pela mídia, pela ganância dos empresários, dos cartolas...Arrebentaram meniscos, arrebentaram suas possibilidades de ir mais longe.
A mídia constrói o ídolo e essa mesma mídia o destrói. Tenho pena da arrogância geral.

Celina disse...

Sei que pode soar como nostalgia, mas era muito mais divertido! Lembro do rádio de ondas curtas enorme que papai comprou para "escutar" os jogos!