sexta-feira, 22 de julho de 2011

LIBERDADE


Sou de uma época em que liberdade era uma calça velha, azul e desbotada...

O carro enguiçou na entrada de Embú das Artes. Dia quente em São Paulo depois de duas semanas geladas. Dia quente e seco. Daquela secura que não tem aqui pelo Rio. Dia seco em que se tem de cortar o ar à faca para se poder respirar.

Ficamos um tempo esperando o guincho... Soraya, Claudia e Frank, amigos queridos da Venezuela, e eu. O dia poderia ter acabado ali, mas não, que nada, não nos demos por vencidos. O seguro dava direito a um taxi de volta a Sampa, então, nos permitimos visitar o lugar com sua praça feita de artesanato, árvores antigas e pequenos restaurantes.



Foi depois do almoço e de bisbilhotarmos muito pelas lojinhas e quiosques, que o taxi chegou. Ao invés de irmos direto para a casa de Soraya, o caminho foi outro, o bairro da Liberdade, que Claudia e Frank queriam também conhecer.

Um dia, como outro qualquer, bem no meio da semana e nós lá, nós quatro, cumprindo o nosso ofício de olhar e ver. De ver e registrar... Foto, lembrança... Memória. Turistas de nós mesmos. Coadjuvantes atentos da grande metrópole.

A motorista do taxi nos deixou na entrada do bairro. Sem saber bem para onde e nem por onde ir, decidimos seguir por ruas, viadutos e lanternas. Entrávamos e saíamos de lojas. Em uma delas, nos deliciamos escolhendo comidinhas para o lanche. Em outra, Claudia comprou um quimono. Mais algumas e Soraya pensou seriamente em comprar uma panela para fazer arroz japonês...

E, de repente, já era quase noite. De um lado do viaduto, uma lua cheia nos saudava suave e solene... niponicamente. Do outro, o sol se punha entre prédios e buzinas... Liberdade!



Sou de uma época em que liberdade era uma calça velha, azul e desbotada... Vesti a minha, já faz algum tempo... 


E é com este jeans surrado que me aconchego em minhas experiências, lembranças, paixões, saudades... Em meus desejos e sonhos... Em minha vontade de viver.

É com este brim já gasto que sorvo a última gota e sigo buscando onde mais beber.

Com esta calça lavada a cascalho, desfruto das pequenas coisas, me entrego aos detalhes. Tenho tempo... me dou tempo.

E em tardes atemporais,  com o coração em zoon, descubro tesouros... Que para se ser livre é preciso garimpar. Com paciência e cuidado, girar na bateia o cinza das coisas...

Que pedras preciosas e poentes não se dão de bandeja...

Nunca se dão de bandeja.


(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

Eulalia disse...

Muito bom garimpar nos seus textos... sempre encontramos pedras preciosas!

Unknown disse...

nada como ser coadjuvante desta tua história, nossas históris. Nosso tesouro é a amizade, a vontade de garimpar pelas preciosas aventuras.

Celina disse...

A Liberdade é linda! E a sua, sempre enfeitada de poesia, de palavras gostosas de ler e sorver. A Liberdade, é conquistada! Devagarinho, né? Mas quando a gente pega ela nas mãos é tão bom!

César disse...

Nossa, esse pôr-do-sol foi realmente lindo!! :-) Em dezembro vou visitar o Rio!!! Fique com Deus, beijos!