sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

E JA E SEXTA FEIRA DE NOVO!

Nao sei porque, mas as semanas tem passado mais rapido por aqui. Por que sera?
Lisboa/Roma.
Quase duas semanas na cidade aberta e livre. Ja sou uma local. Metro/ caminhadas e, como consigo entender a televisao, decidi comprar um livro em italiano para ver se conseguia ler e estou adorando. E a historia de um pirata e uma escritora. Se passa nos mares do Atlantico no ano de 1730. O maximo! Se chama... Il Pirata e la Prigioniera. E incrivel, eu consigo seguir super bem a historia. Mama mia!!!
Mas tambem fui ver a exposicao de Caravaggio, o grande hit do momento por aqui. Emocionante. Luz e sombra!
Como hoje e sexta feira, inventei de ir a Londres. Eu nao sei como Silvio me aguenta. Ele esta exausto. Tem sido uma loucura de trabalho para ele. Mas vamos passar o final de semana em Londres. Estou ansiosa!
Beijos para todos,

Pat (diretamente do inicio da primavera em Roma)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

BREVE MENSAGEM

Tenho que aprender que vale a pena trazer o computador nas viagens, mas na hora H fico com preguica. Resultado: 0,35 euros por minuto. So mesmo uma brevissima mensagem.
Navegar e preciso e, seguindo a orientacao do poeta e dos marinheiros, naveguei por terras lisboetas ate o inicio da semana e agora volto a meu quase novo lar: Roma. Ja estou intima dos vendedores, mas ainda parlo un italiano bem novela das 8 da Globo.
A primavera vai se impondo em terras italianas e eu por aqui comecando ate a sentir um calorzinho.
muitos beijos a quem quiser recebe-los.
pat

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

UMA FOTO ANTIGA


Decididamente o Ávila continua me impondo um voto de silêncio. Aceito a proposta e me calo.

 
Quando criei o blog, tinha a idéia de não publicar fotos de pessoas, pensava que se não houvesse rostos, todos os rostos poderiam estar presentes. Caberia à imaginação de cada um preencher as lacunas. O que eu queria registrar eram as paisagens ... plenas, bonitas, inesperadas. Oferecer os cenários. Desta vez, abro uma exceção.

A foto é antiga, 1947, e o homem é Henry Swinburn Blower, meu avô paterno. Também conhecido como vovô Daddy. Como os filhos lhe chamavam de daddy, os netos incorporaram o epíteto e... ele virou o vovô papai.

Não tenho muitas recordações dele. Ele morreu quando eu tinha uns dez anos e já estava muito velhinho quando eu comecei a me entender como gente. Os meus primos mais velhos, sim, contam histórias deliciosas sobre ele. Sobre as brincadeiras, em especial a caça ao tesouro feita no quintal enorme da casa. Para mim, não houve recordações tão cheias de aventuras. A primeira lembrança que tenho dele aconteceu em um domingo chuvoso quando Daniel, meu primo, e eu tentávamos construir castelos de cartas. Imaginem dois pequerruchos de cinco ou seis anos no maior esforço para manter a construção de papel e imagens. Para cada novo andar, o desabamento era inevitável. E vovô lá, no canto da sala, sentado em sua eterna cadeira, só olhando. Me lembro que aquela nossa luta em glória o foi irritando e ele começou a resmungar em seu inglês castiço, Damn!!!! Se levantou, agarrou o baralho e com suas mãos enormes, com os dedos manchados de nicotina, foi construindo o castelo. Como em um passe de mágica, paredes e telhados foram surgindo e, melhor que tudo, ficando de pé. God bless you, aprendi com você a construir meus primeiros castelos.

Também me lembro dos natais e dos crakers que ele preparava cuidadosamente e era na hora dos presentes que aqueles cilindros de papelão e celofane explodiam em balas, apitos e lembrancinhas.

Vovô nasceu em Liverpool no final do século 19 e veio para o Brasil com vinte e um anos. Como bom inglês, foi morar em Niterói e ali criou uma família e viveu por mais de sessenta anos. Nunca mais voltou à Europa, mas sempre que falava em Home estava se referindo a uma Inglaterra que não existia mais.

Era britanicamente metódico. Me lembro, quando a casa foi demolida, a surpresa de papai ao ver, na pedra mármore do filtro, um cavadinho. Era a marca do copinho em que ele tomava o seu vermute. Tantos anos, sempre deixando o copo no mesmo lugar. Um caso de erosão!

Mas afinal, por que justo hoje decidi falar sobre ele? Porque ando achando que foi de vovô que eu herdei o meu gen de International Vagabond.

Fiquei sabendo dessa história há pouco tempo atrás em uma conversa com um de meus tios. Ele me contou que, depois de trabalhar muitos anos de terno e gravata, quando se aposentou, vovô pegou a maioria de suas roupas e arrancou as golas (the white collar que aprisionava a gravata), cortou as mangas das camisas e as pernas das calças. Criou um modelito básico de bermuda e camisas de manga curta. Entregou-se às sandálias (de couro, como as de frade) e passou a se dedicar a seu cocker spaniel, chamado Kim, e a seus papagaios. Passou a curtir a vida do jeito que ele queria, entre bichos, livros, suas ferramentas e a oficina e os passeios pela praia de Icaraí. Criou o seu ritmo... até o fim.

Vovó contava que a última refeição que ele fez antes de falecer de um terrível enfisema foi um bom prato de ostras com cerveja preta. Tudo de bom! O prazer pela comida e bebida runs in the family.

Também cortei com a tesoura de meus sonhos minhas golas e mangas. Ah! E meus saltos altos também.

Uma foto antiga, como uma paisagem. Uma parte de um mapa mágico e pessoal onde tracei meus caminhos. Onde risquei, com lápis grosso e vermelho, minhas passagens e meus desvios na busca da direção certa. Talvez um atalho perfeito no rumo da alegria.


Nota: Estou publicando antecipadamente o texto, pois amanhã saio de viagem e não vou levar computador. A direção vocês vão saber na semana que vem. Afinal... Navegar é preciso.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)




sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

UMA ÁRVORE EM MAUI

Chegamos a Maui ao cair da tarde e fomos recepcionados no hotel com os famosos colares de flores. De flores mesmo, verdadeiras, repolhudas e muito cheirosas. (Por mais incrível que pareça, passamos oito dias na ilha e nossos colares permaneceram lindos, cheirosos e repolhudos).



Maui é bem diferente de Honolulu. É mais bicho-grilo. Mais zen. Mais alternativa. Uma parte da ilha é puro verde, a outra, separada por uma montanhazinha (acho que é um vulcão adormecido), é mais agreste. Entramos no hotel e nos debruçamos para o Pacifico, para um paraíso. Tudo era simples e perfeito, ou seria simplesmente perfeito? Tudo no lugar certo, mas sem fazer alvoroço pela perfeição. Céu, mar, jardins, sol nascente e poente, tudo envolvido por uma brisa constante e suave. O hotel dava para as piscinas e as piscinas davam para a costa... azul e irreverente. Mar tranqüilo o suficiente para que você tivesse uma vontade incontrolável de se atirar nele, mas com um movimento quase arrogante. Desafiador.



Enquanto Silvio participava do congresso, só me restava uma coisa... fazer nada. Ou inventar o que fazer. É claro que eu tinha que fazer um social com outras esposas que também estavam lá, mas o que eu queria mesmo era ficar sozinha, olhando, vendo, sentindo. Passava horas à beira da piscina lendo e perscrutando os outros hóspedes. Adoro observar gente. Muitos casais em uma gradação existencial: lua de mel, bodas de prata, bodas de ouro. Rapazes e moças sarados, bonitos. E uma família que parecia ter muita grana e que tinha como esporte favorito brigar. Discutiam o tempo todo, sobre qualquer coisa. Os dias iam passando e o grau das discussões se intensificava em uma relação diretamente proporcional à vermelhidão de seus corpos. E eu lá, só olhando, me distraindo com as rodadas de baiana.



Também fiz muito snorkel. O hotel alugava o equipamento e eu caia no mar e me entregava a um festival de peixinhos. Quanto mais junto às pedras, mais cardumes, de todas as cores. Havia também um baiacu (para quem não sabe, um peixe gorducho e que quando tocado fica todo espinhento), mas havia esse baiacu que me acompanhava em todos os passeios. Eu e ele perscrutando cavernas. Mergulhar talvez seja uma das coisas que eu mais goste de fazer.



Havia os passeios oficiais, oferecidos pelos organizadores do congresso. Foi em um deles que conheci a casa de Marilyn Monroe, hoje um clube de golfe super sofisticado. Em outro passeio fomos de catamarã até a região onde vivem muitas tartarugas e, a convite do capitão do barco, pude nadar com elas. Houve também jantares oficiais, mas o que eu mais gostava era de acordar e tomar café da manhã com Silvio em um dos balcões do hotel. Varandão largo com mobília de vime e almofadas coloridas. Todos os dias éramos acompanhados pelos mais diferentes passarinhos que dividiam conosco o American breakfast.



Antes do cair da tarde, antes de Silvio voltar das palestras, eu saia pelo pátio da piscina e ia caminhar na calçadinha. Se olharem com atenção a foto acima, poderão vê-la. Entre o hotel e o mar havia uma calçada que ligava todos os resorts. De um lado, a costa com o seu marulhar espumoso e, do outro, casas e jardins espraiados e inesquecíveis. Como a calçadinha ia costeando o mar, seguia ao sabor das pedras. Tinha curvas e subidas, pequenas áreas mais amplas como pracinhas, em outras o caminho se estreitava por causa de uma rocha ou uma árvore.



Árvores... que árvores! Grandes e com troncos retorcidos e gorduchos. Copas arredondadas ou então bem viradas para um lado, seguindo a direção do vento. E foi em uma das curvas do caminho que eu encontrei a minha árvore. Redonda e aconchegante com um banquinho de madeira junto às raízes. Era um colo esquecido em um cantinho de Maui. Dei uma parada e a fiquei admirando por um tempo. Não estava com a câmera e me prometi que no dia seguinte iria fotografá-la. Mas, no dia seguinte, saí com um grupo e novamente não fiz a foto. Não fazia mal, ainda tinha bastante tempo. Na outra tarde achei que já estava meio escuro e novamente não fotografei. As tardes foram passando e eu sempre adiando o registro de meu encontro com a árvore. E chegou o último dia. O jantar seria um luau. As palestras terminaram mais cedo e quando eu me preparava para fotografar a árvore, Silvio chegou e disse que teríamos de nos arrumar logo, pois íamos encontrar um casal amigo. Resultado: a foto não foi feita.



Eu poderia dizer que não fez mal, que afinal de contas o que importa é a lembrança daquele encontro, daquelas tardes na ilha, mas... seria uma enorme mentira. Sofro até hoje de um grande arrependimento pela perda da oportunidade, por ter adiado um prazer, por acreditar que no dia seguinte daria tempo... Não deu. Não fiz do registro daquele encontro uma prioridade para mim. Adiei-me e odiei-me por isso.



A árvore deve ainda estar lá e eu vou bem por aqui, mas a foto ... bem a foto virou uma das tantas coisas que a gente se promete fazer e que se perdem entre outras urgências. Como a gente se adia!



Bem, quem sabe um dia eu volte a Maui. Quem sabe?

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)