sexta-feira, 19 de novembro de 2010

VISITANDO THE WORLD TRADE CENTER


Se me dissessem, há algum tempo, que eu iria almoçar em breve no The World Trade Center, eu acharia que era brincadeira, mas  que nada, ontem mesmo, lá estava eu em busca de uma vista especial da cidade.

Está certo que estou falando do WTC da Cidade do México e é também certo que escolhi o pior dia para ter uma vista panorâmica. Em todas as vezes que já estive por aqui, ontem foi o dia mais feio e cinzento. Não faz mal, enfiei na cabeça que iria e fui.

Sabia que existia, mas não tinha muita idéia de onde ficava. Saí do hotel e fui ao sitio de taxi mais próximo. (Nota linguistico-cultural1: aqui, sitio de taxi é o ponto e há muitos, todos numerados. É o lugar mais seguro para se conseguir um taxi). Negociei a tarifa (Nota 2: nem todos os taxis têm taximetro) e parti para minha aventura.

De imediato puxei conversa com o motorista. Este é um dos hábitos mais arraigados em mim e confesso que aprendo muito com eles em todos os lugares onde vou. Diferentes línguas, diferentes sotaques. Começo sempre com considerações sobre o tempo ou o trânsito e o papo deslancha para o que der e vier. Desta vez não foi diferente, mas confesso que me afligiu um pouco. 

Estávamos em um viaduto e tudo me parecia muito cinza e feio ao redor. Um tráfego pesado e, de repente, eu não tinha a menor idéia de onde estávamos. O assunto descambou para a questão da violência. Perguntei se aquela zona era perigosa. No viaduto não, mas nas pistas de baixo, em qualquer sinal, podem assaltar. Senti uma certa semelhança com um lugar que conheço bem. Não tive coragem de perguntar se conhecia a palavra "arrastão"... Seguimos entre cinza e trânsito.

Perguntei, então, se era problema de falta de trabalho. Ele me disse que as coisas tinham mudado muito no México. Ele tinha sido policial e, no passado, os delinquentes tinham normalmente mais de trinta anos. Agora não, a maioria era de adolescentes, jovens, muito jovens. Me senti em casa. Como o engarrafamento cinzento continuava, investi novamente. Então é porque não há empregos suficientes para todos?... Não, me retrucou científico, o que passa é que os salários por aqui são muito baixos, 60 pesos por dia é o mínimo. Qualquer muchachito con un cuchillo ganha, em um minuto de assalto, o que ganharia em um dia de trabalho pesado. Então, vem a droga, os assaltos, tudo... Já vi este filme, pensei (Já tem até versão 2!!!)... E as escolas por aqui? As do governo... São boas?... Que nada, a senhorita sabe... (Nota3: Somos sempre senhoritas, independente da idade.)... Nenhum governo vai querer dar boa educação para o povo. Sem educação, podem manipular as pessoas. Se as crianças são bem educadas, no futuro, não vão votar em político corrupto. E tem também outra coisa...Fez uma pausa longa para o gran finale. Os professores... São muito mal pagos. Quem, hoje em dia, quer ser professor? Antes, eles eram respeitados... Agora... Não valem de nada! É melhor fazer qualquer outra coisa...  Éééé..., balbuciei.

Pobre América Latina!! Tão absolutamente igual em seus contrastes. Hispanicamente luzitana. Afro-indigena descendente. Perdida entre imagens e pastores. A mercê de políticas e políticos. Pobre América Latina!! 

Chegamos. Paguei o taxi e me despedi. Saí e olhei para cima. Lá em cima, faraônico, o restaurante giratório me esperava. Me perdi entre escadas rolantes, seguranças e elevadores. Passei por detectores de metal e, finalmente, pisei os tapetes de veludo vermelho.

Sentada em minha mesa, aguardando a comida, via a cidade ir rodando a minha frente. O horizonte mudava a cada momento. Os vulcões, sempre encobertos, o parque Chapultepec, casas, prédios altos e modernos. Minha vista foi se afastando... se afastando... Foi se perdendo para além... Além da cidade... Além do país... Para além...

Pobre América Latina!... Talvez não tenha sido por acaso que o dia estivesse tão cinzento.


(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

anaschwarc disse...

Oi, enquanto lia seu relato me lembrei daquela música do Caetano "Podres poderes"....Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...Será que nunca faremos
Senão confirmar
Na incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos...
O mano Caetano falou e vc, tb, mais um pouco, é...bjss

Eulalia disse...

Num dia também cinza, há 26 anos atrás, num café da Zona Rosa, nessa mesma linda e encantadora cidade que é o México, já ouvia esse mesmo discurso...
Esse discurso que também já tínhamos aqui, querida amiga...
Existirá uma virada possível?
Tomara...

Alzira Willcox disse...

Há dois dias atrás vi um filme passado entre México e EUA e fiquei triste exatamente porque a questão da América Latina e os pontos de convergência entre os países, que são muitos,são expostos sem adornos. E hoje as drogas banalizam a violência. Haverá saídas? Acredito que possa haver, mas é grande a desesperança.
E reafirmo o que já disse: você é corajosa, rsrs. Bjss

Celina disse...

Pois é Ticha, ainda tenho poemas que falam disso. E eu tinha 14 anos. E a fome continua íntegra e honrada. A fome (de educação, saúde e segurança) continua a mesma.