quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MORIDO (PALAVRA INVENTADA)


Dizem que uma foto vale por mil palavras, imaginem nove fotos!
Mais do que uma simples conta de multiplicar, neste caso, estas nove fotos têm uma eloquencia infinita e, no infinito silêncio da sala de exposição, se contaram e nos contaram palavra a palavra, idéia a idéia, conceito a conceito.
Arte!

Viajar tem dessas coisas... O convívio com as surpresas, com o inesperado. Quando vim para o México desta vez, não imaginava que iria passar uma deliciosa manhã visitando a XIV Bienal de Fotografía, no Centro de la Imagen del Centro Nacional de las Artes que fica na Plaza de la Ciudadela 2, Centro Histórico 2, Mexico DF (metro Balderas).

Tão logo cheguei ao México desta vez, entrei em contato com Vilma, amiga que fiz na Venezuela e que agora está morando por aqui. Foi bom encontrá-la, porque a dona de casa venezuelana, deu lugar novamente à professora de fotografia da universidade gaúcha. E com que prazer ela me falou de suas aulas, de suas idéias, do que andava fazendo. Vilma, professora e fotógrafa... artista. Foi ela que me falou da exposição. Como adoro fotografia, sem nenhum pudor, me inclui na visita que ela iria fazer à Bienal com duas de suas alunas.

Como chegamos cedo, ainda deu tempo de perambularmos um pouco pelo mercado La Ciudadela que fica ao lado de onde estava a exposição. Conversávamos entre corredores repletos de artesanías, cerâmicas, couro, comidas e espelhos. Depois, foi só dar uma corridinha e já estávamos na Bienal.

Só o prédio do Centro de la Imagen, já é uma experiência estética. É como ir ver arte na Pinacoteca de São Paulo, a arte começa na arquitetura do lugar.

Fomos nos perdendo por corredores e fotos. Instalações visuais, experiências. Paredes antigas, tetos de madeira gasta e muito vidro e metal serviam de cenário. Caminhamos ... Às vezes parávamos para Vilma nos explicar uma coisa ou simplesmente para olhar. Cor, luz, sombra, contrastes e muita violência. Chama a atenção como a violência que o pais está vivendo impregnava o trabalho dos artistas. (E como mexicano não tem pudor com a morte... lá estava ela, nas fotos, sem nenhum pudor.)

Até que diante de nós estava um conjunto com nove fotos em preto e branco. Fotos de crianças. Tudo bem equibrado, meninos e meninas, contraste na cor das roupas, uma aura ao redor de cada uma delas. Mas afinal do que se tratava? Em um pequeno texto, a artista, Claudia Hans, nos contava sua idéia - Morido, uma palavra inventada. A principio me assustei... Que maldade fazer isso com as criancinhas! Depois fui entendendo ... entendendo... e me vi nas tantas vezes que estive diante da precariedade da vida. E, diante de mim, nas fotos, estava a nossa eterna e etérea precariedade diante do irreversivel. E como cada um de nós reage ... Nós, pobres mortais.

(Querem um tempo para observar as fotos? Então voltem a elas. Ampliem a foto.)

Isso mesmo, cada criança foi colocada diante de um pássaro morto. Isso mesmo. E só. Arte.

No mais, não quero falar mais nada. Não preciso. Afinal... uma foto vale por mil palavras. Imaginem nove, flagradas pelo silencioso olhar da artista.

Nota: Não sei se há implicações de direitos autorais pela reprodução das fotos, de qualquer forma anexo a página da artista http://www.claudiahans.com onde está apresentado o trabalho.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

3 comentários:

Eulalia disse...

Tendo eu tido uma história com "Neguinha", minha canária, senti uma identificação direta com a artista, o objeto de sua arte e meus sentimentos.
Excelente conto!

Celina disse...

Ticha querida, meu post desta semana foram FOTOS..nada artísticas mas todas contando um muito que ficou. Amo fotos e amo arte. Amei e calei!
besitos

Ana Schwarc disse...

Oi, Patricia entrei no site das fotografias. Eu gosto muito dessas propostas de fotografar a realidade nu e crua. Dá uma sensação estranha na gente. Porém, acho válido. Gostei, tb, da sua prosa a respeito! bjss