quinta-feira, 1 de julho de 2010

A CAMINHO DEL SALTO ANGEL


Sempre fui avessa a publicar fotografias de pessoas no blog e já em mais de um texto expliquei o porquê, mas desta vez não dá para ficar invisivel. Quero me ver, ao vivo e a cores, para acreditar que eu realmente estive por lá.
Desde que cheguei a Caracas, muita gente me falou sobre o Salto Angel e da aventura que era visitá-lo. Com breves descrições da viagem, eu me convenci que estava velha demais para o périplo, ou melhor, que era comodista  demais para me entregar a tal odisséia. E, de repente, lá estava eu diante da avioneta, prestes a levantar voo rumo à selva venezuelana. Euzinha, cotidiana e citadina, dando uma de Indiana Jones.
O primeiro percalso já se deu mesmo antes de levantarmos voo. Como iamos ficar em acapamentos e andar muito tempo por rios, todo o grupo decidiu que não iria levar os documentos originais. Nada de passaportes, cédulas de identidade, nada. Só levariamos cópias, os laminados, que usamos todo o tempo em Caracas. A ideia pode nos ter parecido boa, mas para a inspetora de embarque não colou. Ou apresentam os documentos originais ou a viagem acaba aqui, isto é, antes de começar. Custou tempo, tensão e saliva, para convencermos à inspetora e ao sargento que chegou depois de que éramos apenas brasileiros boa gente e não terriveis traficantes de drogas. Malfeitores procurados internacionalmente. Até porque, parte de nossa delegação era composta de dois meninos de 8 e 12 anos (possiveis precoces bandoleiros). Custou, mas o sargento nos liberou. Se fossemos depender da inspetora, estariamos até agora em Ciudad Bolivar, tentando provar que não éramos das FARC.
Quando subi no aviãozinho, o medo não era do transporte, mas do que me esperava em Canaima e para além de lá.
Mas embarquei... Eu sempre embarco... Sou a aventureira mais covarde ou a covarde mais aventureira de que se tem noticias. 
A viagem foi tranquila e, depois de algum tempo, já dava para se ver uma das razões porque decidi empreender tal aventura... Los Tepuis.



Gigantescos platôs espraiados pela imensidão. Terra sagrada dos indios pemones. Por si só, mágica paisagem. De tirar o fôlego. De encher o coração da gente com uma alegria medrosa. Magestosos.
Apesar de alguma turbulência. Apesar da avioneta não ser, nem de longe, do último modelo (nem do penúltimo... ou antepenúltimo...). Apesar de o piloto parecer aqueles artistas de filme de aventura da sessão da tarde (um sessentão de bigode com sua roupa tão surrada quanto seu avião). Apesar de tudo, os Tepuis eram um espetáculo à parte. Sólidos na imensidão da selva venezuelana.
Olhando aquele mundo, eu imaginava quantas histórias e lendas já não foram contadas sobre aquelas terras e... quantas cobras e sapos não me aguardavam na aterrissagem!
E, depois de uma hora de viagem, depois de passarmos pela represa de Guri (também imensa e ainda bem seca), o piloto fez uma curva para a esquerda e se atirou para a pista. Não vai dar.... Nao vai dar... Do alto já dava para ver Canaima e se surpreender com suas cascatas. Tiro foto ou me agarro no cinto de segurança? Não vai dar...
E, de repente, a avioneta parou e o piloto acariciou o painel. Tenho mais de vinte anos com ela. Nunca me falhou. (Ainda bem!!!)
Quando descemos do avião, o calor húmedo indicava que já estavamos na selva.
Agora era só esperar o resto do grupo que vinha em outro avião (que, detalhe, demorou muito a chegar porque teve uma pane e tiveram de voltar do meio do caminho para Ciudad Bolivar, com direito da bombeiros a postos na aterrissagem.) Mas chegaram e o guia nos levou para a pousada. 


A pousada...


Para quem estava esperando uma oca, encontrei uma oca holywoodiana, com ar condicionado, água quente e despojadas redes nas varandas. Em seu quintal, as cascatas que tinhamos visto do avião.

 

O guia nos explicou que iriamos almoçar e partir para o primeiro passeio: Salto del Sapo. 
Foi a primeira vez que quis declinar o convite. Ai, meu Deus! Que negócio é este de sapo? Não teve jeito e tive de explicar para o guia sobre a minha fobia de sapos e similares (inclusive os de plástico). Foi então que ele nos explicou que naquela região dificilmente veriamos animais. Eles podem ver vocês, mas vocês não os verão.
Como a vontade de fazer o passeio era maior que a minha covardia, decidi acreditar piamente no guia. E, depois do almoço, partimos.
Primeiro, atravessamos o rio e passamos bem pertinho das cascatas. Tomamos um banho de respingos. Água geladinha em uma tarde de muito calor. Boommm!!!
Depois, saimos do barco e caminhamos por uma espécie de savana. Ao longe os Tepuis nos observavam. De vez em quando, encontravamos outros grupos que, se já estavam voltando, vinham sempre muito molhados.
Fomos nos aproximando de outras cascatas...




O caminho ficava mais dificil. A mata mais fechada. Subiamos e desciamos entre pedras. E, de repente, o guia nos disse para deixarmos nossas coisas junto a uma pedra. Explicou que iriamos passar por detrás do Salto dos Sapos e que se, em alguma parte, sentissemos falta de ar que não nos preocupassemos, pois ia ser muito rápido. Tinhamos de cuidar por onde andávamos para não escorregar e também para não bater com a cabeça nas pedras.  A água caindo fazia um barulho enorme. E entramos atrás da cachoeira. E não teve quem não gritasse. Pelo susto. Pelo gelado da água. Pela emoção indescritivel. Era como um mergulho na gente mesma. Água. Muita água. Não dava medo. Era bom. Era uma energia imensa e nós lá dentro. Em um turbilhão. Faltou o ar, mas só um pouquinho.  Nem deu para assustar.
E depois, um espraiado maior. A água batendo forte. Energia.



Batizados pelas águas, era hora de voltar. O caminho, agora conhecido, se fez mais fácil e, graças ao meu fiel companheiro, mi bastón, enfrentei com galhardia os altos e baixos da caminhada. Fiquei orgulhosa de mim. Quando a coisa apertava, eu sentava no chão e ia escorregando. A estratégia funcionou muito bem, mas não me livrou de um tombo, já quase no final da aventura. Mas nada de grave. Nada além de um joelho arranhado.
E, no caminho de volta, a tarde foi caindo. Estávamos, literalmente, de alma lavada. 
Como fecho desta etapa, nada melhor que um arco-iris, que surgiu de surpresa como prenúncio das aventuras que nos aguardavam nos próximos dias. 



(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

Eulalia disse...

Adorei te ver ao lado daquele "bicho voador". Em nenhum momento duvidaria que você entraria nele. Quanto ao resto, sim, abrir mão do conforto é mesmo uma surpresa para mim, mas pela recompensa da paisagem e das sensações, posso imaginar o quanto valeu a pena. Espero pelo resto!

Maria Clara. disse...

Madrinha, adorei seu blog, as cidades que voce viaja sao lindas e as paisagens tambem.
Estou com muitas saudades, volta logo! beijos.

Monica Uehara disse...

Olá! Adorei conhecer seu blog e já sou sua seguidora. Também sou brasileira vivendo na Venezuela! Mas, moro em Valência.

pblower disse...

Valeu, Monica! Seja bem vinda às minhas histórias.