E chegou a manhã do dia seguinte. E lá estava eu preparada para o clímax da aventura: chegar a Salto Angel. Ambos preparados, eu e mi bastón.
Tomamos café junto com o nosso guia, señor Jose Camino (nome bastante sugestivo para um guia) e ouvimos dele as principais orientações. A cada explicação dada, tenho certeza, cada um de nós antecipava grandes emoções.
Ele nos disse que dali iríamos tomar uma canoa a motor para subir o rio. Ouvi as palavras com ouvidos citadinos e as traduzi como: vamos a um pequeno porto onde tomaremos um barco para chegar ao Salto.
Bem, mas não foi bem isso que aconteceu.
O lugar onde pegariamos os barcos, não era nem de longe um porto e os barcos, as curiaras, eram realmente canoas feitas pelos os indigenas de um só tronco de árvore. Tinham espaço para umas dez pessoas e mais toda a bagagem que precisavamos levar. Tooooda. De mochilas a lanternas, passando por material de higiene e a comida do almoço, jantar e café da manhã. Isso não vai caber tudo na canoa... pensei.
Enquanto o guia e os pemones ajeitavam as coisas, um indio tirava diligente água de dentro do barco. Esse troço tá furado... pensei.
Enquanto eu elocubrava, nossa matolotagem ia sendo colocada na canoa e depois fomos nós, cuidadosamente ajeitados nos bancos. De dois em dois. A operação era matemática. Um embarque de astronautas da NASA não seria mais preciso. Os indios iam indicando onde deviamos sentar. (Só depois entendi que eu e Bragança, mais, digamos assim, fortezinhos, seriamos usados como contrapeso do barco. Assim...Lastro mesmo.)
E saimos.
Saimos para cinco horas de canoa, rio acima. Ai, meu Deus! !Voy a tener calambres en mi culo!
A sensação é muito dificil de explicar. A paisagem ia mudando e cada vez mais iamos entrando na paisagem. Passávamos a ser parte dela. O que tinhamos visto do alto, lá da avioneta, agora nos abraçava e nos acolhia.
E havia as corredeiras que foram muitas e se intensificavam a medida que subiamos o rio. Teve uma que nos pegou de tal surpresa que lá estava eu conversando com Claudia e.... de repente... Vapt! O susto, a onda, muita água, um solavanco. E, quando vi, Claudia estava entalada entre as pernas do Anele. No fundo da curiara.
Às vezes, quando as águas e a correnteza eram mais violentas, um dos indios caminhava pela borda da canoa, ia para frente e indicava ao que estava no leme a melhor opção de caminho.
E assim fomos indo ao longo das horas. Entre selva, Tepuis, cachoeiras e fotografias.
Ainda bem que não estava chovendo... Mas choveu. Depois de mais de duas horas de navegação, o guia nos disse que iriamos parar para comer alguma coisa. A idéia era parar no Poço da Felicidade, mas quando chegamos lá, que tristeza, as águas tinham subido tanto que não pudemos parar a curiara. Seguimos mas um pouco até um acampamento e foi então que entendi onde eu, quotidiana e citadina, iria comer, dormir e ir ao banheiro na próxima tarde, na próxima noite, no próximo dia. Não fazia mal. Tudo era festa e paisagem bonita. Ainda bem que não estava chovendo... Mas choveu.
Arrumamos o nosso picnic nas mesas do galpão e antes de comer buscamos o melhor lugar para fazer pipi. Nessas horas é que eu tenho certeza de que Deus é homem ou foi um péssimo escultor de costelas. Se eu fosse Deus, as mulheres fariam xixi pela orelha. Virava a cabeça para o lado e pimba. Seria que nem tirar água do ouvido quando se vai a piscina.
Talvez inspirada pelas mulheres do grupo, a chuva começou a cair. Muita. Forte. Diligente.
Foi nos acompanhando por todo almoço e, quando eu pensei que os nativos iam dar um tempinho para a chuva amainar, já era hora de entrar na canoa novamente. Todos agora monidos de seus ponchos, umas capas amarelo-ovo compradas especialmente para a ocasião.
E entramos rio a dentro, chuva a dentro. A água subia, as corredeiras ficavam mais fortes. E pensar que estávamos só na metade do caminho.
Foram mais umas quase tres horas. E, agora, a cada curva do rio, perguntávamos se uma das muitas cachoeiras que se despencam dos Tepuis era o Salto Angel.
A chuva amainou, mas o tempo ficou menos limpo. Núvens iam se entrelaçando entre pedras e mata fechada.
E, de repente, lá estava ele com seus mil metros de altitude.
Salto Angel... Só por aquela visão já teria valido todo o esforço.
Mas, muito mais nos esperava ao longo das próximas vinte e quatro horas.
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
5 comentários:
Haja suspense!
Amiga querida,
Lendo seu último post descubro que não há lugar para tristezas em você. Caracas, Rio, Salvador, México, Dallas, Helsinki wherever...
Você sempre irá descobrir a beleza que há em cada lugar.
Beijos carinhosos
Ticha querida,
Estou completamente pasma! Ouvi seu relato no telefone, mas lendo, o "nervo" é maior ainda!!!! Como assim??? Bem, mas que importa é que sempre vale a pena. E superar os limites, então?! É tudo de bom. Viajar é isso mesmo: donde estoy quién soy yo?! Adoreeeeeeeeei!
Querida Pat, como fiquei afastada do blog por três semanas encontrei hoje a melhor estória que já li. Ainda estou com a respiração acelerada de tanto supense, como diz Eulália.Como dizem os mais jovens "mô orgulho de você!" Eu não sei se teriam feito metada dos passeios. Você é demais.
eu adorei seu texto! A sua viagem foi muito boa.
mil beijos!
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