sexta-feira, 9 de julho de 2010

A CAMINHO DEL SALTO ANGEL (II)


E chegou a manhã do dia seguinte. E lá estava eu preparada para o clímax da aventura: chegar a Salto Angel. Ambos preparados, eu e mi bastón.
Tomamos café junto com o nosso guia, señor Jose Camino (nome bastante sugestivo para um guia) e ouvimos dele as principais orientações. A cada explicação dada, tenho certeza, cada um de nós antecipava grandes emoções.
Ele nos disse que dali iríamos tomar uma canoa a motor para subir o rio. Ouvi as palavras com ouvidos citadinos e as traduzi como: vamos a um pequeno porto onde tomaremos um barco para chegar ao Salto.
Bem, mas não foi bem isso que aconteceu.


O lugar onde pegariamos os barcos, não era nem de longe um porto e os barcos, as curiaras, eram realmente canoas feitas pelos os indigenas de um só tronco de árvore. Tinham espaço para umas dez pessoas e mais toda a bagagem que precisavamos levar. Tooooda. De mochilas a lanternas, passando por material de higiene e a comida do almoço, jantar e café da manhã. Isso não vai caber tudo na canoa... pensei.
Enquanto o guia e os pemones ajeitavam as coisas, um indio tirava diligente água de dentro do barco. Esse troço tá furado... pensei. 
Enquanto eu elocubrava, nossa matolotagem ia sendo colocada na canoa e depois fomos nós, cuidadosamente ajeitados nos bancos. De dois em dois.  A operação era matemática. Um embarque de astronautas da NASA não seria mais preciso. Os indios iam indicando onde deviamos sentar. (Só depois entendi que eu e Bragança, mais, digamos assim, fortezinhos, seriamos usados como contrapeso do barco. Assim...Lastro mesmo.)
E saimos.
Saimos para cinco horas de canoa, rio acima. Ai, meu Deus! !Voy a tener calambres en mi culo!
A sensação é muito dificil de explicar. A paisagem ia mudando e cada vez mais iamos entrando na paisagem. Passávamos a ser parte dela. O que tinhamos visto do alto, lá da avioneta, agora nos abraçava e nos acolhia.



E havia as corredeiras que foram muitas e se intensificavam a medida que subiamos o rio. Teve uma que nos pegou de tal surpresa que lá estava eu conversando com Claudia e.... de repente... Vapt! O susto, a onda, muita água, um solavanco. E, quando vi, Claudia estava entalada entre as pernas do Anele. No fundo da curiara.
Às vezes, quando as águas e a correnteza eram mais violentas, um dos indios caminhava pela borda da canoa, ia para frente e indicava ao que estava no leme a melhor opção de caminho.
E assim fomos indo ao longo das horas. Entre selva, Tepuis, cachoeiras e fotografias.


 

Ainda bem que não estava chovendo... Mas choveu. Depois de mais de duas horas de navegação, o guia nos disse que iriamos parar para comer alguma coisa. A idéia era parar no Poço da Felicidade, mas quando chegamos lá, que tristeza, as águas tinham subido tanto que não pudemos parar a curiara. Seguimos mas um pouco até um acampamento e foi então que entendi onde eu, quotidiana e citadina, iria comer, dormir e ir ao banheiro na próxima tarde, na próxima noite, no próximo dia. Não fazia mal. Tudo era festa e paisagem bonita. Ainda bem que não estava chovendo... Mas choveu.
Arrumamos o nosso picnic nas mesas do galpão e antes de comer buscamos o melhor lugar para fazer pipi. Nessas horas é que eu tenho certeza de que Deus é homem ou foi um péssimo escultor de costelas. Se eu fosse Deus, as mulheres fariam xixi pela orelha. Virava a cabeça para o lado e pimba. Seria que nem tirar água do ouvido quando se vai a piscina.
Talvez inspirada pelas mulheres do grupo, a chuva começou a cair. Muita. Forte. Diligente.
Foi nos acompanhando por todo almoço e, quando eu pensei que os nativos iam dar um tempinho para a chuva amainar, já era hora de entrar na canoa novamente. Todos agora monidos de seus ponchos, umas capas amarelo-ovo compradas especialmente para a ocasião.
E entramos rio a dentro, chuva a dentro. A água subia, as corredeiras ficavam mais fortes. E pensar que estávamos só na metade do caminho. 
Foram mais umas quase tres horas. E, agora, a cada curva do rio, perguntávamos se uma das muitas cachoeiras que se despencam dos Tepuis era o Salto Angel.
A chuva amainou, mas o tempo ficou menos limpo. Núvens iam se entrelaçando entre pedras e mata fechada.
E, de repente, lá estava ele com seus mil metros de altitude.
Salto Angel... Só por aquela visão já teria valido todo o esforço.
Mas, muito mais nos esperava ao longo das próximas vinte e quatro horas.



(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

5 comentários:

Eulalia disse...

Haja suspense!

Marilia disse...

Amiga querida,
Lendo seu último post descubro que não há lugar para tristezas em você. Caracas, Rio, Salvador, México, Dallas, Helsinki wherever...
Você sempre irá descobrir a beleza que há em cada lugar.
Beijos carinhosos

Celina disse...

Ticha querida,
Estou completamente pasma! Ouvi seu relato no telefone, mas lendo, o "nervo" é maior ainda!!!! Como assim??? Bem, mas que importa é que sempre vale a pena. E superar os limites, então?! É tudo de bom. Viajar é isso mesmo: donde estoy quién soy yo?! Adoreeeeeeeeei!

Elza Martins disse...

Querida Pat, como fiquei afastada do blog por três semanas encontrei hoje a melhor estória que já li. Ainda estou com a respiração acelerada de tanto supense, como diz Eulália.Como dizem os mais jovens "mô orgulho de você!" Eu não sei se teriam feito metada dos passeios. Você é demais.

Clara disse...

eu adorei seu texto! A sua viagem foi muito boa.
mil beijos!