sexta-feira, 9 de abril de 2010

OH, DANNY BOY...


Sim. É claro que há muitas desvantagens em se envelhecer, mas uma coisa que me encanta neste infindável processo da passagem do tempo é que podemos ver nossos bebês virarem gente grande. Está certo que cada vez mais relutam em ficar no nosso colo e reagem com veemência a conselhos básicos e essenciais como: Leva um casaco que tá frio. Ou o conhecido: Você não tá comendo direito. Mas não faz. É bom vê-los crescer. É bom encontrá-los como adultos tão semelhantes ao que fomos, ao que somos. Com sonhos, certezas, medos, desejos, paixões, expectativas e teimosias. Adultos.



Fazia quatro anos que eu não ia a Londres e, apesar de todos os encantos da cidade, desta vez aterrissei em Heathrow para ver Danny. A idéia era dar uma fugidinha de Roma e passar o final de semana com meu primo. [Definição inadequada] Danny não é meu primo de segundo grau, filho de minha prima Celina, que é como uma irmã para mim. Não é só isso. Danny é irmão de Carol e os dois são para mim como meus filhos. E Celina que não reclame!


Por uma dessas coincidências da vida, no mesmo dia em que embarquei para vir morar em Caracas, Danny voou rumo à Europa para, como cidadão europeu, começar sua vida por lá. E foi por isso que passamos quatro anos sem nos vermos.



Confesso que estava ansiosa para encontrá-lo. Tão ansiosa que enquanto esperava Silvio no aeroporto, esqueci minha mala no banheiro e quase chego a Londres com a roupa do corpo e, por sorte, um casaco pesado. Mas isso é outra estória.



Passado o susto, fiquei sentada esperando e sendo visitada por momentos.


Manhã de sol em Niterói. Toco a campanhia e uma figura de menos de um metro e cabelo lourinho me saúda com um Oi, Tia Amiga! Era assim que ele me chamava, Tia Amiga. Doce intuição infantil. Amiga pra sempre.




Tarde lá em casa. Tomavámos café enquanto aquele menininho de bermuda de malha e camisetinha nos contava estórias de dagãos.



Tinha uma voz deliciosamente rouquinha e nenhuma timidez para se apresentar e conversar com quem quer que seja. Era cheio de opinião.



Noite de chuva forte. Celina tem que ir para o hospital e lá fico eu (sem a mais remota experiência de tratar de bebês) com Danny no colo. Nossa cumplicidade era plena, mas eu simplesmente não conseguia trocar suas fraldas. Botava a nova e ele ia caminhando com seu jeito de bebê e a dita cuja ia escorrendo por suas perninhas. Tentei de tudo... sem sucesso. Depois, criei uma estratégia de colocar a fralda e colocar um shortinho por cima. Funcionou. E foi aí que decidi fazê-lo dormir. Em meu colo, ele ouviu pacientemente todo o meu repertório de canções de ninar. Olhos abertos. Atentos. Quando a exaustão já tinha me dominado, virou para mim e me pediu: Mamalinha!!!! Tinha fome. Em meu afã de cuidá-lo, tinha esquecido de lhe a dar mamadeira. Depois disso, dormiu.


Silvio chegou do trabalho e embarcamos.



Durante o vôo, lembrei de seus primeiros desenhos. Sempre amou desenhar. E de como foi crescendo, assim, rápido. Tão rápido que um dia se apaixonou. E sofreu. E pintou seus amigos em aquarelas.



Oh, Danny Boy...



Nos encontramos no sábado. Eu o estava esperando no hall do hotel. Chegou e nos abraçamos. E nos olhamos. Como ele estava bonito. E nos abraçamos de novo. Quando ele falou, sua voz era rouquinha ... e comovida. E eu com os olhos cheios d’água. Que saudaaade!!!!



No quarto do hotel, ele me disse, assim, de repente, que nunca queria me decepcionar. Que bobaaagem!!!!



Silvio se negou a sair com a gente. Disse que com aquele frio era loucura andar pela rua. Então, ficou no hotel e caímos em Londres. Tia, onde você quer ir? South bank! South bank!


South bank. Muito frio, muita gente. Fomos caminhando à beira do Tâmisa. Ele me contando sobre sua vida, suas experiências, suas idéias. Caminhamos muito. De vez em quando, eu pedia para ele tirar uma foto do lugar. Que foto você faria aqui? Tia, deixa eu te fotografar. Não. Fotografa o momento, o lugar. Registramos, assim, o nosso encontro.



Comemos em um pub e ele me falou de suas preocupações e ansiedades.



Caminhamos mais e chegamos a Saint Paul’s. Ali, ele me contou de seus estudos com programações para desenho animado. Foi, então, que eu fiz uma foto que ele achou triste. Ah, eu gostei. Um dia eu a uso em um texto do blog.



Não satisfeita, decidi ir a Oxford Street para comprar uma capa.


Não foi a melhor idéia. É porque ele gosta muito de mim, senão teria me enforcado. Caos. Milhares de pessoas se acotovelavam ao cair da noite. Decidimos tomar o tube e voltar para o hotel.


O caos se replicou no subsolo. E se agravou, quando começamos a ouvir: Emergency Alert! Emergency Alert! E tivemos de deixar o Metro. O caos subterrâneo se uniu ao caos da superfície. E começou a chover. Aquela chuva que cai em Londres que parece que não molha, mas, quando a gente vê, está encharcado. Tia e agora? Vamos pegar um táxi. Ledo engano. De todos os lados surgiam táxis... cheios.



E foi quando a chuva apertou mais que um ônibus para Victoria Station passou. Corremos até a parada e conseguimos pegá-lo. Na estação, certamente, encontraríamos um táxi disponível.



Oh, Danny Boy...



No tumulto, confesso que eu quase paniquei, mas eu estava com você. Enquanto buscávamos uma solução, você estava de mãos dadas comigo.



Do fundo do tempo, me chegou uma cena: Danny, dá a mão pra tia e, para atravessar, olha para um lado e para o outro, tá?


Agora, era você que me dava à mão...



Sim. É claro que há muitas desvantagens em se envelhecer, mas uma coisa que me encanta neste infindável processo da passagem do tempo é que podemos ver nossos bebês virarem gente grande.

PS: Carol, nada de ciumes. Ainda vou escrever muitos textos para você.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

Alzira Willcox disse...

Ah, Patrícia, seu texto me enterneceu tanto! Lembrei dos meus filhos pequenos e, mais, dos meus netos que cresceram depressa demais... Estou comovida. Que relação preciosa!Obrigada pela saudade terna que o seu texto provocou em mim. Bjs

Celina disse...

Minha irmã querida,
Só hoje vi esse seu post poema de amor! E depois dessa triste semana que passamos aqui em Niterói, chorei mas de pura emoção e agradecimento. Nós duas criamos os pipolhos juntas. Sem sua ajuda e seu apoio,teria sido muito diferente. Somos privilegiados as crianças e eu. Temos você, verdadeiramente. E como te amamos!!!

Eulalia disse...

Tambem fiquei emocionada pois vi esse menino pequeno... e pela sua forma de contar, entao...

Anônimo disse...

não pude conter a curiosidade... oh Danny boy a tia é um anjo maravilhoso.. bjs