sexta-feira, 2 de abril de 2010

AVILA


Chegamos ontem à noite a Caracas. Depois de quase dois meses fora e de dois voos bastante tranqüilos (mas longos, especialmente o segundo, de oito horas), chegamos em casa.



Enquanto enfrentávamos a já tradicional cola entre Maiquetia e Caracas, eu ia lembrando da primeira vez que cheguei à cidade, não como turista, mas como moradora. A lembrança me veio porque novamente chegávamos em uma sexta-feira santa. A primeira, em 2007, quando tudo para mim era muito novo (inclusive eu!), e a segunda agora, depois de quase quatro anos na terra. Depois de tantas aventuras e descobertas.



Já era de noite e havia uma névoa estranha na estrada. O motorista nos explicou que ainda era o resultado do grande incêndio no Ávila. A cidade ficou por semanas envolta em fumaça, enquanto helicópteros com água tentavam em vão conter o fogo.



A seca continua implacável, mas por sorte, uma chuva forte na semana passada conteve as chamas. Infelizmente, o cheiro de fumaça ainda permanece no ar.







Decidi desfazer as malas aos poucos, pois o jet lag de uma diferença de fuso de seis horas e meia (lembrem que na Venezuela ainda tem esta meia hora a mais ou a menos) é mortal para mim. E, enquanto mexia nas coisas e descarregava as fotos no computador, via o Ávila dependurado em meu balcón. O Ávila envolto em uma névoa branca. Fui para a varanda para matar saudades. O que dava para ver era uma ferida aberta na terra, restos de mata feitos em cinza. Quis acarinhar a montanha. Minha eterna companheira. Atenta e paciente ouvinte de minhas mais loucas elucubrações. Quis botar o Ávila no colo.

Mas como era tarefa impossível, como amiga fiel, quis amenizar suas dores. Então lhe contei sobre as minhas andanças. Lisboa, Londres, Roma. Contei para ele da noite de lua cheia em Siena e das tardes de sol na Vila Borghese. Falei do frio e da chuva e do inicio da primavera. Fui assim lhe contando tudo. Sobre sensações e sentimentos. Sobre encontros e reencontros. Sobre silêncio e burburinho. Não pude deixar de lhe dizer que me senti o máximo, entendendo muito italiano e já falando um pouquinho.



Não sei se foi por causa da névoa (fumaça?), mas tanto os meus olhos, quanto os do Ávila, em um momento, se encheram de água. Então ficamos ali, assim, à beira do balcón, nos mirando. Quietinhos.



Não sei bem por quê, mas de repente lhe garanti que as feridas cicatrizam e que as dores passam. Em breve, a estação das chuvas lhe traria novas flores, multicoloridas, como é a Venezuela. Multicolorida.



O cerro Ávila, sorriu. Um sorriso de Monalisa.



Foi então que Silvio me chamou ...

(foto by Ivani Galvão)

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

4 comentários:

Celina disse...

Minha linda,
O Ávila vai estar sempre perto de você. Em todas as andanças, descobertas e reencontros. Você e o Ávila...só entende quem namora!
bjs

Eulalia disse...

Querida,
Uma dor profunda no coração, de quem vê a montanha de arco-iris, pois foi assim que conheci o Ávila. Mas, você tem razão, as feridas cicatrizam a aparecem novas flores.
Bom ver você de volta!
Bem-vinda à casa!
beijinhos

monica disse...

Bom regresso ao novo(?) continente.

Bjs

Anônimo disse...

Pat, que bom que te encontrei na quarta feira! Que bom que Simone me apresentou ao seu blog! Estou mais apaixonada por você!!! Mais ainda!!!! rsrsrs
Minha querida, que suavidade, que criatividade, que alegria, que poesia são seus textos. ADOREI!!!Decidi escrever meu commentario neste antigo, pois seu amor pelo Silvio me emocionei.
Beijos