sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

COLAR DE PÉROLAS



São Pedro finalmente atendeu as minhas preces. Na noite da virada, desligou a sauna úmida que era Porto Alegre e decidiu climatizar a cidade. Resultado: adentramos 2010 com temperatura de montanha, tchê! (Apesar de estar com Silvio a mais de dez anos, nunca sei quando usar tchê! Tchê para mim é que nem impedimento no futebol. Sei que existe, mas não sei explicar).



A possibilidade de usar uma roupa sem ficar totalmente melada e grudenta foi pra lá de motivação para eu querer me arrumar para a festa. Tinha comprado um vestido em tons de verde e já havia planejado tudo. Vestido e complementos seriam verdes. Esperança! Saúde! Ia ficar trilegal! (Ai! Me disseram que não se usa muito trilegal em Porto Alegre). Baaaa...! Que ia ficar trilegal, ia.


Mas na hora H, quando eu estava pegando o colar e os brincos verdes, fui arrebatada por um incontrolável desejo de usar pérolas. Ainda tentei insistir, mas era algo quase obsessivo. E não teve jeito. Virei o ano adornada em pérolas. Seria uma demanda mágica da Rainha dos Mares? Um desejo da vaidosa deusa que vai reger este novo ano? Sei lá. O que sei foi que usei colar, brincos e pulseira de pérolas. (Seja feita a sua vontade!)


E, após saudações e lentilhas, vencida pelo cansaço, já na cama, vislumbrei um céu azul noite e uma pérola única e especial. Blue Moon! (Por telefone, Cida tinha me explicado o que era. Blue Moon é a segunda lua cheia do mês. O fenômeno só vai acontecer agora em 2012). De súbito, me vi cercada de pérolas... por todos os lados.


Não sei como a idéia surgiu, mas o que me veio à cabeça é que poemas curtos são como pérolas. Diretos e precisos. Como pérolas, se são bons, são preciosos por si só. Se ruins, valem como uma bijuteria barata, mas ainda assim adornam.

Então, começo o ano novo desfiando um pequeno colar de poemas antigos. Talvez faça isso para que as musas entendem que estou carente de fazer Poesia.


PALAVRA


não toco as estrelas


com meus dedos


mas com a língua


saboreio a doçura da palavra


estrela


e o mel de cada sílaba



SETEMBRO 2000


... esta fala não dita


... esta fala maldita


meu verso me estranha


me abre feridas


silêncio navalha


um corte na língua



(Que saudades de escrever Poesia!!!)



AMOR

de igual para igual


saldamos nossas diferenças


e sorrimos silêncio


sábios de nós


(Nota: É saldamos mesmo.)




LIÇÃO DE PORTUGUÊS


Amar não é verbo


intransitivo


é verbo de ligação


Tudo depende dos predicativos do sujeito



(Aqui em Porto Alegre, me lembro de Mário Quintana!)




E por fim, um curtinho muito antigo que é como um lema em minha vida. Não me lembro do seu título:



Guardo no côncavo da mão


A água da vida


E é dela que bebo


Quando me impõem


sede


Que 2010 me traga muitas pérolas. Podem vir em caixa de veludo, baú de sândalo, joalheirinho de ébano com caixinha de música... Mas se não der, que eu continue encontrando à beira de meu mar de dentro, umas conchinhas miúdas e brancas... minhas histórias de casos e acasos que conto semanalmente.

(in pblower-vistadelvila.blogspot)

5 comentários:

Lúcia disse...

Patrícia, minha querida, esta postagem saiu uma "Pérola"!
Aaai amiga, adoro pérolas. Verdadeiras, de resina, de vidro, caríssimas, baratinhas, tanto faz. O efeito e o brilho que elas causam nas mulheres é mesmo algo mágico!
Adorei, Pat, obrigada por este presente no primeiro dia do ano.
Muitos beijos,

Lúcia

Elza Martins disse...

Querida Pat:
Você cativou mesmo esta família. Quando chego pra escrever meus comentários, sempre embevecida pelo que acabei de ler, encontro o comentário de minha irmã Lúcia que sempre antecede ao meu. Isso é tão bom! Você se fez elo de ligação entre irmãs. Mais uma forma de me manter perto dela e de você. Que venham todas as pérolas mencionadas pela Lucia, que entendedora das mesmas, sejam as que brilham ou as escritas.

monica disse...

Muitas pérolas para você continuar a nos presentear.
Bjs,
Mônica

Fui procurar e achei o título: Senha

Celina disse...

querida,
só hoje vi, com a maior alegria, suas pérolas escritas com espuma do mar.
Lembro daquele do concavo na mão.
Por aqui, esperando a neve baixar para saber se vamos ou não viajar para Innsbruck.
bjs

Eulalia disse...

Uma pérola, querida!
Como sempre.
Também tenho saudades de seus poemas.