quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

HALLACAS


Se alguém pensa em Natal e em Venezuela terá necessariamente que pensar em hallacas. Buscando em vários sites, descobri ou confirmei muitas coisas que eu já sabia ou intuía depois de passar três dezembros em Caracas e de degustar algumas hallacas maravilhosas. Existem no mundo dois tipos de pessoas: as que gostam de hallacas e aquelas que as odeiam. Eu sou uma hallaca person.



Inundei o inicio do texto com a palavra hallaca na tentativa de dar ao leitor uma leve idéia do que é novembro e dezembro na Venezuela. Todos falam de hallacas. Os supermercados oferecem seus ingredientes, os restaurantes anunciam que já servem o prato navideño, hallacas congeladas são vendidas em delicatessens como El Rey David e as famílias começam as negociações de que tipo de contribuição cada um terá na feitura do quitute. Há, também, programas de rádio com as mais variadas entrevistas sobre o assunto. Um tópico bastante discutido é o de como comer hallacas e não engordar. Todos os anos, inclusive, é feita uma pesquisa, com certas conotações políticas, que investiga o quão inflacionados estão os ingredientes das hallacas e se a família média terá condições financeiras de cumprir com a tradição.


Há muitas teorias sobre a origem do prato e o seu nome. Encontrei, por exemplo, em um comentário de um site a seguinte observação:






La hallaca es una receta tradicional y típica de Venezuela. También conocida y popular en las Islas Canarias (España), especialmente en Navidad. Las hallacas guardan cierta similitud con los tamales de otros países de América Latina. Como se ve en la receta, las hallacas se hacen con una masa de harina de maíz rellena de diversos ingredientes, luego se envuelve en hojas de cambur (o de plátano) y finalmente amarrada con "pabilo" y se hierve en agua caliente.[in www.mis-recetas.org]






Fiz a citação, pois estava tentando resumir o irresumível e acho que o texto acima conseguiu. Quando falei que as famílias negociam suas tarefas na feitura da hallaca foi porque há, além das diferentes receitas dependendo da região, muitas etapas em sua preparação. Por exemplo, Claudia, minha professora, é apenas responsável por preparar as folhas de bananeira que envolverão o acepipe para sua família (uma média de 400 folhas!!??!!).


Para matar a curiosidade do leitor mais chegado a um fogão listo apenas os ingredientes necessários para se fazer uma hallaca básica: (Se não quiserem podem pular esta parte, só a incluí para dar um certo clima ao texto. Estou imitando Humberto Eco em seu livro O Nome da Rosa. Muito latim para trazer a atmosfera da época)


1/2 Kilogramo de Carne de ternera, 1/2 kilogramo de carne de cerdo, ambas cortadas en parmentier, 1/2 kiogramo de pollo cortado en julianas, 1/4. kilogramo de cebollín, puerro, pimientos, cebolla, todos cortados en brunoisse, 100 gramos de alcaparras desaladas, 150 gramos de olivas rellenas con pimientos, 1 cucharada de comino recién tostado y triturado, 1 cucharadita de curry en polvo (madras), 1 cucharada de azúcar, 1 taza de vino dulce, 1/4 taza de puré de tomate, 3 dientes de ajo majado, sal, cantidad necesaria, 1 kilogramo de harina de maíz, choclo, elote, mazorca de maíz, jojoto, chilote, aceite onotado, hojas de plátano ahumadas, hilo para cocina 1 madeja, y cucharada de leche en polvo y otra de harina de trigo.


Hallacas … Quanto mais penso nelas, mais as considero uma metáfora perfeita do Natal atual, moderno e tropical.


Tudo começa com a massa. Informe. Pesada. Úmida. Seguirá cegamente todas as subrepticias sugestões da mídia e do marketing. O presente da moda. A loja da moda. O point da moda. A moda da moda. E é essa massa que envolve o guisado. A geléia geral. Amigos (secretos ou não). Parentes (distantes ou não). Há lugar para todos. Papais Noéis suarentos. Renas! Chaminés!!! E neve!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ao som de Jingle Bells expomos a nossa alegria comprada nas 25-de-março da vida. Celebramos. Celebramos muito. Celebramos intensamente. Enquanto, com pressa, esbarramos em reis magros caminhando por seus desertos particulares. E a massa e o guisado (nós?) é embrulhada para presente, em folhas de cambúr super chiques. Nos enfatiotamos e ... fervemos.


Acabo de reler o que estou escrevendo e levei um susto. Não era este o texto que eu queria. Acho que virei uma hallaca desandada, embora, realmente, tenha gostado da comparação. E vou insistir nela por teimosia.


Como disse, sou uma hallaca person e se por um lado o Natal virou um evento marqueteiro. Uma efeméride da mídia. Uma hallaca mal embrulhada e fervida. Por outro, insiste em ter um sabor especial. Realmente acredito que, na noite de paz (?!), possamos reencontrar a magia infantil da festa. Nem que seja por um segundo. Em um sorriso. Um telefonema de alguém distante. Uma gargalhada inesperada. Ou na eloqüência do silencio.


Neste Natal, que todos nós tenhamos a delicadeza de sermos criança por um minuto que seja. Uma criança... Qualquer criança... Que, em um momento, brote de nossas almas ou do umbigo mesmo, um sorriso infantil como só as crianças sabem dar (mesmo que já não acreditem em Papai Noel). Um sorriso de menino... daquele menino... a quem insistimos em chamar de Cristo.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

6 comentários:

Elza Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Elza Martins disse...

Pat, que show! Amei o texto e estou quase me sentindo uma hallaca person, too.
Feliz Navidad!

Alzira Willcox disse...

Nunca tinha ouvido falar em hallaca. Muito interessante. Não sei se seria uma hallaca person, mas sei que não me habilitaria a ir para a cozinha fazer hallacas.
E gostei das metáforas e de tudo o mais.
Eu vou tentar encontrar a magia do Natal em Gramado. Espero que essa minha reinvenção me dê alegria e não desande. Bjs

Celina disse...

Merry Christmas...Eu estou totalmente Natal. Neve, corais cantarolando, filhos juntinhos. Papai Noel existe!
Mil beijos minha primoca querida.
Que nesse ano, venha mais international & vagabond ainda, com muita saúde pra curtir as mudanças.

Eulalia disse...

Quanto ao quitute, nem chego perto... quanto ao que você, como sempre, escreveu nas entrelinhas, disso, sim, faço minha receita.

Humberto Jr. disse...

Escrito quase ná perfeição...e digo quase porque faltou só um ingrediente importante... LA GAITA TRADICIONAL NAVIDEÑA....
Mis felicitaciones....