terça-feira, 14 de abril de 2009

AMOR

Não, a história não tem nada a ver com a Venezuela, nem com o Rio de Janeiro e nem mesmo com Aruba, lugar onde ela aconteceu. Na verdade, não é nem sequer uma história, é apenas um momento, um quase por acaso perdido em um sábado de sol, entre vento, terras vulcânicas e o mar do Caribe.

Aruba é uma ilha pequena de não mais que 32 kilometros de diâmetro, dividida em dois lados. Um voltado para o mar aberto, onde bate um vento eternamente intenso, com uma terra agreste e um mar picado e forte, onde só se aventuram cactos, surfistas e gente que gosta de esportes radicais. No outro lado, a própria ilha se protege das intempéries, se aconchega e faz do vento, brisa, da terra agreste, pequenos jardins e transforma o mar em piscinas naturais.

Na região mais inóspita, perto das ruínas da casa de fundição de ouro, há um jardim especial. Chama-se Jardim das Pedras. Junto ao mar, em um elevado, em um solo desértico, há milhares de pedras que se espalham por uma área não muito grande. Como em um pátio. É neste lugar, que por tradição, os visitantes criam pequenos castelos, colocando uma pedra sobre a outra e fazendo um juramento de que algum dia voltarão. Não sei como essa história começou, provavelmente foi idéia de um guia cheio de idéias, mas o fato é que agora o gesto de empilhar pedrinhas transformou-se em ritual.

Silvio e eu não resistimos ao convite e também fomos nós, juntos, criar nosso pequeno castelo à beira mar. O vento zumbindo nos ouvidos, o mar em nossas bocas, na saliva, muita maresia, e nós buscando a pedra maior que serviria de base para a construção. Escolhido o alicerce, cada um de nós buscou sua pedra. Eu achei uma pequena, ele, uma um pouco maior. Colocamos juntos as pedras sobre a base vulcânica e fizemos a promessa de voltar.

Depois ele olhou para mim e sorriu um sorriso que só ele sabe dar. Não se fez de rogado: “Viu? A pedra maior é a minha, porque sou maior e mais forte.” E eu sorri e me fiz de ofendida e incrédula, mas não disse nada ... Eu sabia que era verdade. Olhei para o nosso castelo. Nossas pedras unidas, o vento e o sol. Fotografei o momento com a câmera e meu coração.

Fomos saindo devagar em direção ao carro. E lá ficou nosso castelo. No Jardim das Pedras. À beira mar.

Lá ficou nosso castelo, como uma promessa, como uma confirmação.


(in à vista del ávila. Foto: Jardim das Pedras, Aruba)

5 comentários:

Valéria disse...

Lindo!
Se não há mais poesia, existe sempre o espaço para "narrative verse" - e é isso que você tem escrito minha amiga - tudo muito lírico!
Mil beijos,
Valéria

monica disse...

Oi Patricia,
a poesia fala o indizível, mas aí fica dizível, né? Então a gente lê e fica bem demais.
Beijos,
Mônica

Elza Martins disse...

Amiga querida, a poesia não precisa de métrica, da palavra escrita e nem da falada para existir. Ela pode estar num mini castelo de pedras ou no sorriso do Silvio. Ele também faz poesia. Eis aí, então, um casal de poetas. Que lindo o amor!!!!!

Alzira Willcox disse...

Tão lindo e comovente! Você realmente faz poesia em prosa. Bjs

Lúcia disse...

Olá Patrícia querida!
Que saudades!!!

Beijos,

Lúcia