Passei os últimos dez dias entre o Rio, Niterói e São Paulo. Estava super preocupada de não conseguir escrever um texto novo para o blog. Afinal, é ponto de honra para mim. Toda 3ª feira há que se ter história nova pra contar.
Por incrível que pareça, depois de quase dois anos, ainda estou organizando coisas que ficaram no Brasil. Móveis, livros, louças, toda uma vida armazenada na Granero. E é um tal de arruma, vende, doa...
No meio da papelada, encontrei um poema que eu havia escrito há muito tempo atrás. Ainda não conhecia Silvio. Era um poema que falava de aconchego, estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. Tudo muito simples, mas pleno. Um lar.
Quando cheguei a Caracas, a casa ainda estava vazia. Silvio havia comprado uma mesa, a cama, mas quis me esperar para que pudéssemos juntos escolher as coisas. Arrumar a casa. E foi naquele espaço vazio, paredes brancas e sob o olhar Del Ávila que eu senti, em toda a sua intensidade, a plenitude de que falava o poema. Aquilo que eu buscava há tanto tempo. Um lar.
OLHO DE ÁGUA
(Niterói, 1993)
uma casa simples
como se feita de pólen
toda branca e amarela
uma casa simples
atrelada a um longe de estrada
uma casa
no quintal
um olho d’água
cajá-manga e ingazeiro
do lado de fora
cheiro de resedá
e no dentro
cheiro de café passado em saco de pano
um dedinho de chocolate
já adoçado no bule
uma casa repleta de sons de casa
tilintar de talheres
o quebrar de um copo
risos
crianças correndo ao redor da mesa
um galo ao amanhecer
pipoca estourando na panela
bica pingando
e o eloqüente silêncio que se faz
quando mãos se entrelaçam
uma casa
com cadeira de balanço
um livro muito grosso ao lado
cheio de histórias e mapas
pela janela
veria chegar os que me viessem
e no ilimitado da estrada
seguiria com os olhos
aqueles que me partissem
abria então a porta dos fundos
e lavava o salgado da boca
na água brotada da terra
translúcida flor
levantava os olhos
e via retalhos de sol se pondo
por trás da mangueira secular
Por incrível que pareça, depois de quase dois anos, ainda estou organizando coisas que ficaram no Brasil. Móveis, livros, louças, toda uma vida armazenada na Granero. E é um tal de arruma, vende, doa...
No meio da papelada, encontrei um poema que eu havia escrito há muito tempo atrás. Ainda não conhecia Silvio. Era um poema que falava de aconchego, estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. Tudo muito simples, mas pleno. Um lar.
Quando cheguei a Caracas, a casa ainda estava vazia. Silvio havia comprado uma mesa, a cama, mas quis me esperar para que pudéssemos juntos escolher as coisas. Arrumar a casa. E foi naquele espaço vazio, paredes brancas e sob o olhar Del Ávila que eu senti, em toda a sua intensidade, a plenitude de que falava o poema. Aquilo que eu buscava há tanto tempo. Um lar.
OLHO DE ÁGUA
(Niterói, 1993)
uma casa simples
como se feita de pólen
toda branca e amarela
uma casa simples
atrelada a um longe de estrada
uma casa
no quintal
um olho d’água
cajá-manga e ingazeiro
do lado de fora
cheiro de resedá
e no dentro
cheiro de café passado em saco de pano
um dedinho de chocolate
já adoçado no bule
uma casa repleta de sons de casa
tilintar de talheres
o quebrar de um copo
risos
crianças correndo ao redor da mesa
um galo ao amanhecer
pipoca estourando na panela
bica pingando
e o eloqüente silêncio que se faz
quando mãos se entrelaçam
uma casa
com cadeira de balanço
um livro muito grosso ao lado
cheio de histórias e mapas
pela janela
veria chegar os que me viessem
e no ilimitado da estrada
seguiria com os olhos
aqueles que me partissem
abria então a porta dos fundos
e lavava o salgado da boca
na água brotada da terra
translúcida flor
levantava os olhos
e via retalhos de sol se pondo
por trás da mangueira secular
PS: Decidi publicar este texto no domingo, pois como estou embarcando para Sampa, não sei se vou ter tempo de publica-lo enquanto estiver lá.
7 comentários:
Lindo poema, Pat! Saudades. Maravilhoso poder compartilhar com você um pouco da plenitude encontrada, do aconchego descoberto.
bjo
sueli
Há um outro poema seu em "O vôo de Vidro" que também fala de casa.
Ponto Pacífico
eu não tenho asas
quero uma casa branca
à beira de um mar bem verde
lá pelos lados de Angra
uma casa com coqueiro
borboleta amarelinha
um piano de armário
uma antiga
escrivaninha
aí eu virava anja
deitada na rede bege
pendurada na varanda
A vista não é do mar de Angra, mas a arrebatou.
Já virou anja?
Bom concretizar sonhos e ter o desejado aconchego de um lar, seja em Angra, em Caracas, em qualquer lugar...
Guardo com carinho o seu livro de poemas, valorizado por uma linda dedicatória.
Querida Pat,
encontrar sua poesia atemporal dispensa menores comentários, como ler em eloquente silêncio, tanto que tardiamente ainda reflito sobre a metáfora: reciclável, isolante, durável, de elevada dureza, porém frágil sólido com características de líquido no âmago atômico de seu ser: vidro ou amigo?
Bjo, Aninha (from Nikity)
Que poema mais lindo!
Continuo aguardando as terças, e agora vou me arriscar aqui antes delas, rsrs... Posso ter surpresas, como esse texto que foi postado bem antes da terça.
bjs
Bia
Pat
Sou irmã da Elza e através da Bia fiquei conhecendo seu blog. Quando cheguei de viagem ela não falava em outra coisa! Nem precisamos de muita pilha para irmos até aí lhe visitar, pilha nós temos de sobra, rsrsrs. Mas quem sabe um dia...
Belos escritos.
Beijos
Patricia
me emocionei ao ler teu poema. Ele confirma que encontrar nosso lar pode ser em qq lugar, pois ele está dentro de nós. Mesmo tendo deixado meus filhos no Brasil e sentir uma saudade que fere fundo, tb sinto aqui, em Caracas, minha casa, meu lar. Só acho que tu exagerou, pois o teu pátio é o Àvila, a montanha mágica. Mas tu merceres tudo isso.
Mil beijos
Soraya
E por falar em LAR...
"(...)Foi aí que abundante chuva de flores azuis se derramou sobre
nós; mas, se fixávamos os miosótis celestiais, não conseguíamos detê-los nas mãos. As corolas minúsculas desfaziam-se de leve, ao tocar-nos a fronte, experimentando eu, por minha vez, singular renovação de energias
ao contacto das pétalas fluídicas que me balsamizavam o coração."
Esse é um trechinho do livro Nosso Lar, psicografado pelo Chico Xavier. Se não leu, vale a pena!
Beijossssssss
Postar um comentário