sexta-feira, 5 de outubro de 2012

PIER 17

 
Meus pais morreram muito cedo. Não tive filhos. Não tenho irmãos. Apesar disso, tenho a alegria de ter uma deliciosa família. Primos e tios... Sobrinhos emprestados... Amigos de tantas épocas... Os de Silvio... Silvio... Todos formam uma família múltipla e muito especial. A minha família. Costumo, por instinto, afraternar pessoas.
 
A tarde estava perfeita para o passeio. Comer qualquer coisa no Pier 17 e depois pegar um veleiro para chegar bem pertinho da Estátua da Liberdade.
 
 
 
Aos poucos, Nova York, com suas sirenes e escadas de incêndio,  foi ficando ao longe. Um vento gostoso já de outono se disfarçava em brisa de primavera. Uma temperatura perfeita e nossos dedos e câmeras apontando para diferentes cenários. Era muito bom estar ali. Uma tarde inesperada em meio a um setembro qualquer.
 
Marcia e eu, irmãs em tantos momentos, havíamos combinado viajar juntas fazia muito tempo, desde a época em que dividíamos a Cápsula. Entre MBAs e Mestrados, planejávamos ir a Roma, mas agora, anos depois, estávamos em Nova York.
 
Silvio sempre diz que não sabe como nós, mulheres, podemos achar tanto coisa para conversar. Pobres homens que não sabem a delicia de se ir emendando um assunto no outro até se tecer uma tarde. É uma arte. Um bailado. Ideias, risadas e palavras em rodopio no ar. E silêncios... Que também há silêncios... Para se respirar... Pensar no que foi dito... Olhar a paisagem... Preparar a câmera para fotografar. 
 
 
Fazia tempo que não conversávamos tanto. Assim, sem pressa. Sem que houvesse um único assunto como tema central. Passávamos de uma coisa para outra. Passado, presente e futuro se misturavam em nossas lembranças, planos e na alegria de estarmos ali, naquela tarde, ao acaso, levadas pelo veleiro. 
 
 
 
Chegamos de volta ao Pier num inicio de poente. E, como mulheres, não resistimos também a dar uma voltinha pelas lojas do lugar. Lojas deliciosas, cheias de coisinhas.
 
Quando nos demos conta, os pés doíam muito. Precisávamos sentar...
 
 
Vimos o banco do lado de fora do Pier e mais lá fora era o poente e a Ponte do Brookling... A cidade começando a se iluminar. 

 
Sentamos ali e ficamos... Seguindo o nosso grave oficio de jogar conversa fora... Não. Falamos de coisas sérias. De alegrias e de perdas. De lutos e  de celebrações. De sonhos e de planos.
 
 
E a noite foi caindo sem nos dar muita atenção. E agradecemos aos deuses por estarmos ali. Por estarmos bem. Pensamos em tantos que podiam estar conosco ali naquela hora e dividimos silêncios e saudades...
 
Meus pais morreram muito cedo. Não tive filhos. Não tenho irmãos. Apesar disso, tenho o privilegio de poder afraternar pessoas, mágicas pessoas com quem posso dividir silêncios, saudades e o enorme prazer de estar viva e com olhos de ver quando o acaso é presente... Envolto em papel de seda azul noite e com um laço de fita brilhante como as luzes de uma cidade qualquer.
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

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