sexta-feira, 23 de setembro de 2011

PAREDES VERMELHAS



Não, em se tratando de questões estéticas eu, decididamente, não posso ser considerada uma criatura das mais aventureiras.

Sempre fui aquela do modelito básico. Pretinho e pérolas para as festas e paredes sempre brancas.

No primeiro caso, você passa desapercebida e não faz feio e, no segundo, qualquer decoração cai bem. Além da casa ficar mais ampla. Portanto, nada de invencionices. Sempre foi assim e não mudaria agora, depois dos meus cinquenta anos.

Ledo engano... A pressão foi forte.

Silvio inventou de querer uma parede vermelha no apartamento. Vermelha! Logo vermelha!!!! Por que será que um gremista de carteirinha decide ter uma parede vermelha?

Desconversei. Despistei. Adiei. Propus outras cores menos ... como direi... vermelhas, mas nada. O desejo permanecia presente, com sintomas de agravamento. E tudo tomou uma proporção incontrolável quando, em visita a uma amiga, ela nos apresentou sua parede... Tomate seco! Silvio me olhou em encantamento. É esta a cor que eu quero!

Tomate seco! Por que não alface americano? Brócolis hidropônico? Batatinha baroa orgânica? Não... Tomate seco!

Então, entrei na segunda fase: a escolha da parede. Sugeri a menor e mais escondida. Aquela que certamente poderia ser coberta por quadros... Pratos... Uma cortina, talvez.  

Segunda derrota. A prima decoradora propôs a parede do sofá. Aquela que, quando a gente abre a porta da casa, bate com o olho nela em cheio. Indisfarçável!

A idéia foi aceita por Silvio como se o Grêmio (?) tivesse feito um gol.

Tentei em vão ponderar. Vem cá, não acham esta parede grande demais? Não é muito vermelho para uma sala só? Novamente fui voto vencido.

E chegou o dia da pintura. Seu Gildo com seus apetrechos e eu com um frio no estômago.

Seu Gildo de um lado me confortava, Vai ficar bonito. Não se preocupe. Já pintei outras paredes desta cor. Do outro lado, Sonia, a moça que trabalha aqui em casa sentenciava, Isso vai ficar é brega demais. Já tive uma parede assim lá em casa. É muito brega. E o pior é que quando a tinta gruda, é difícil de tirar.

Eu já me via, em futuro próximo, demolindo a parede para repintá-la de branco. Uma sensação tipo inicio de prova final de matemática invadiu minha alma. Quase desisti, mas...

Não sei se acovardada ou curiosa de novas experiências, dei a ordem para Seu Gildo começar. Me retirei da sala... Ia esperar os primeiros resultados.

E eles chegaram em pouco tempo. Seu Gildo me chamou já barganhando, Não se preocupe. É só a primeira demão. É uma queimação da parede.

Olhei...



Olhei... Olhei... Queimação... Realmente a parede tinha pegado fogo! Me senti no centro de Roma sem o glamour do lugar. Nada de Via Vêneto ou Fontana de Trevi. Lá fora, Botafogo(!) me espreitava. Queimação... Sussurrei. Seu Gildo pegou o mote. Isso mesmo, a queimação. Depois de três ou quatro mãos a senhora vai ver.

Três ou quatro mãos! ... Estava claro que aquela parede não deixaria de ser vermelha nem em caso de terremoto ou tsunami. Nem se todas as profecias maias se realizem, em 2012, dos escombros, saltará diligente uma parede vermelha, como um testemunho vivo das loucuras da humanidade. 

Como já não havia mais nada a fazer, relaxei e deixei que as outras mãos acarinhassem a parede.

Depois de dois dias e algumas mãos, a parede ficou irremediavelmente vermelha.

Seu Gildo me apresentou sua obra terminada. E aí, Dona Patricia? Gostou?

O pior, ou melhor, o melhor é que eu tinha gostado. E mais impressionante ainda. A Sonia também. Ih, Dona Patricia, lá em casa era diferente. Era mais vermelha. Essa ficou legal.

Ainda convivo com uma certa estranheza, mas não chega a ser desconforto. Talvez tenha que mudar as molduras dos quadros para algo um pouco mais claro... Sei lá. Já troquei o vaso da pimenteira... As orquídeas ajudaram...

Acho que aprendi uma lição. Dá para se ousar e mudar de vez em quando. Se entregar a algumas paredes vermelhas. Não doeu tanto e pode até fazer um certo bem...

Me aguardem, portanto, no próximo coquetel!

Quanto a Silvio e sua parede vermelha... Bem acho que ele está feliz... Pelo menos, ele, que detesta obras, acaba de me dizer que precisamos mudar o rejunte do chão.

Mas tenho que confessar... Ainda não tive coragem de perguntar se ele tem alguma preferência de cor.



(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

10 comentários:

Anônimo disse...

uau... ficou lindo! É pura paixão. bjks Simone

Elza Martins disse...

A cor é linda Pat! Aqui em casa temos uma verde, também a maior delas,rsrsrs. Ficou linda, também.

Lúcia disse...

Ai ai... O tema me afeta bastante, mudar, ousar, arriscar. Ando me arriscando um pouco ultimamente (até inscrevi 2 quadros num salão de artes... me expondo mais). Mas ainda preciso da parede vermelha, eu chego lá. Adorei!
Bj

Eulalia disse...

Adorei especialmente a frase:

"Me aguardem, portanto, no próximo coquetel!"

No mais, texto impecável. Reli várias vezes! Puro encanto de imagens e palavras. Você é mesmo uma escritora especial. E uma pessoa especial.

beijokas

Fábio Rockenbach disse...

Tia fiquei com receio no início quando tu falou em vermelho tomate, mas amei. Tudo vai também de como a gente completa o visual. O conjunto ficou muito bonito de verdade, bjos saudosos.

pblower disse...

Viram? Até o Fábio que é colorado doente ficou preocupado com o vermelho!!!!

Alzira Willcox disse...

Também não sou afeita a ousar, mas pintei uma parede de verde. Só que o verde que escolhi, na parede ficou meio fosforecente. Desesperei. Escolhi outro verde, discreto, fosco e mandei repintar.Temerosa, apavorada. Ficou bonita.Ufa!
A sua está linda. Bom, sim, ousar de vez em quando.

Celina disse...

A prima "decoradora" adorou!! Bom eu sou suspeita para falar pois eu adoooro cores, e em se tratando de parede vermelho deixa tudo mais em relêvo, contornado! O máximo! O pior é que bateu saudade, e já penso em "repintar" as que estão num tom, digamos Taupe (marrom acastanhado mesmo, hehehe).
amei!

Anônimo disse...

Ousar faz um bem danado! =D
Bjnhs,
Valéria

Anônimo disse...

Está Maravilhosa!!!!!!!!!Estou louca para ver in loco!
beijos carinhosos
Marilia