quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O ÚLTIMO CAFÉ NO HAVANNA


Há algumas (muitas?) coisas que as mulheres sabem fazer melhor que os homens. Uma delas é conversar... compulsivamente.
Temos o dom, o talento, a arte de passarmos horas falando. Sobre tudo. Sobre nada. Não temos assuntos preferidos. O que surgir é bem vindo e bem conversado. Podemos passar um tempão explorando um tema com a mesma precisão com que um cirurgião faz uma operação no cérebro.
E nunca há silêncios. Quando uma pára de falar a outra toma da palavra e o fluxo nunca é interrompido. Mas o melhor é quando falamos todas ao mesmo tempo e todas nos entendemos sem problemas. Quanto maior é a mesa e o número de participantes, mas precisa é a interconexão de assuntos, sons, idéias e opiniões. 
Falamos... Muitas vezes falamos alto... E rimos ao mesmo tempo.
Não é que todas sigamos, da mesma maneira, este ritual. Há variações.
Há as mais silenciosas (tímidas?). Sorriem, concordam com um abanar de cabeça. Escutam muito e raramente falam algo. Às vezes segredam coisas à companheira mais próxima. 
Há aquelas que depende do dia (TPM?). Tem dias em que estão com a língua solta e outros em que se mostram tristes, melancólicas e... silenciosas. Nestes dias, suas amigas fazem a festa e falam, falam. Dão conselhos, tentam animá-las. E elas lá, em sua melancolia sem fim. Muitas vezes, porém, durante o próprio encontro dão a volta por cima e soltam o riso e a língua.
E há as que ponderam. Discorrem com clareza sobre os mais variados assuntos, pontuando sua fala com exemplos vividos.
E há as que bricam e riem. Dos outros, mas principalmente de si. Cheias de causos e histórias.
E há as que têm uma crença, uma verdade e que tentam (com um certo fervor religioso) migrar todo e qualquer assunto para aquele tema.
É certo que este e outros modelos mudam dependendo do tamanho da mesa. Se é menor, com menos participantes, os assuntos tendem a se restringirem e se aprofundarem. Tendem... mas que mulher resiste a dar um salto no tópico e num susto dizer: Cês viram o sapato da moça da mesa ao lado? 
Jogamos conversa fora como quem semeia jardins. Esta é uma de nossas muitas artes.

E assim era no Havanna Cafe do Centro Comercial Valle Arriba. Lá nos encontramos muitas vezes para rir, conversar, planejar eventos e viagens. Para estarmos juntas.
Sempre tivemos as mais variadas razões para ligar uma para outra e dizer Hoje, às 4, nos encontramos no Havanna para botar o assunto em dia. (Às vezes era necessário refinar o horário, pois algumas tinham filhos chegando da escola).

Ontem nos encontramos no Havanna. Um grupo pequeno. Já muitas foram embora. Enquanto falávamos, sabiamos que Soraya estava embarcando de vez para o Brasil.
A mesa era pequena e falamos de nossos planos e de como estamos fazendo malas e preparando a mudança.
Falamos de nossas expectativas. De como será em outra cidade, em outro país.
Foi bom estarmos lá, estarmos juntas, mas já faltavam tantos rostos...

Talvez este tenha sido o meu último café no Havanna de Valle Arriba. Tomei a especialidade da casa com um alfajor de nueces. E depois ainda tomei um guayoyo pequeño.
Tudo muito bom... doce... e com gosto de saudade.

(Nota: foto tirada do google, não sei se tem direitoa autorais)

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)


3 comentários:

Celina disse...

Gosto de saudades e expectativas...Quantas estórias, hein? Mas mudar, apesar de toda a trabalheira, tem sabor de coisa fresca, de movimento. Chegar e partir. Dois lados da mesma viagem.
bjs mil

Eulalia disse...

Lindo. Profundo e doce. E nostálgico. E quieto, embora buliçoso...

Mas é assim, meio calmaria meio agito, antes de um salto para um novo amanhecer.

Nostálgica contigo, por ter conhecido essas paragens... mas confiante em outros cafés, novos caminhos para um inescrutável mas sedutor amanhecer.

Contigo sempre, querida, sempre!
beijinhos

monica disse...

Oi Patricia,
quanta novidade... pra mim, né? rsrs
Adorei 'o último café'.
Bjs,
Mônica